UMA COMUNIDADE DE MULHERES
"Elas têm mãos de princesa, apesar de trabalharem na terra", diz Louise D. "Ao lado delas, eu tenho a impressão de ter mãos de descarregadora de caminhão…" L’Équipée está em Noiva do Cordeiro, uma comunidade rural de cerca de 400 habitantes fundada no final do século 19, quando uma jovem chamada Maria Senhorinha de Lima largou o homem com quem fora forçada a casar, para ir viver com aquele que amava. Acusada de adultério, foi excomungada e com ela, as cinco gerações seguintes.
Aqui, os homens vão trabalhar nas cidades da região e voltam à noite ou, muitas vezes, só no fim de semana. Enquanto isso, as mulheres cultivam as frutas e legumes que alimentam a comunidade, e passam o dia nos campos de plantação com as mãos na terra.
As francesas acordaram cedo para se juntarem às brasileiras que já estavam nas plantações desde as primeiras horas do dia. É um trabalho puxado debaixo de sol, mas as mulheres o encaram com um enorme prazer, cantando. As meninas de L'Équipée ficam encantadas com o contato com a terra e a relação muito simples com o alimento, consequência direta desse contato. De repente, tudo faz sentido. Sob seus grandes chapéus de palha, protegidas por lenços e bloqueador solar, que reaplicam três vezes ao dia, as mulheres da comunidade estão em plena época de plantio. Elas apreciam a ajuda das meninas e se preocupam ao vê-las trabalhar com as costas e as mãos descobertas, sem qualquer proteção.
CAMPONESAS COM MÃOS DE PRINCESA
Quando Louise D, Louise B, Cindy, Pauline e Cécile voltaram da lavoura, onde trabalharam sem luvas, as mulheres da comunidade perceberam as unhas sujas e, sem pestanejar, foram logo oferecendo seus dotes de manicure. A vaidade é levada muito a sério em Noiva do Cordeiro. Mas enquanto as mulheres no Brasil se maquiam para ir trabalhar, em Noiva do Cordeiro, elas se produzem quando voltam das plantações. E, é claro, as unhas têm que estar sempre impecáveis! Elas chegam a passar horas fazendo as unhas umas das outras. "Essa é a primeira vez que alguém faz minhas unhas em toda minha vida!", diz Cécile, sorrindo.
Aliás, para essas cinco parisienses acostumadas a fazer as próprias unhas, essa sessão de manicure é uma experiência inédita. "Tem muita suavidade, alegria e bondade…", comenta Louise B. Elas também aproveitam a ocasião para trocar algumas dicas de beleza. Aqui, em vez de lixa, usa-se palha de aço para polir as unhas, o que evita que fiquem amareladas. Perto dali, um homem observa essa comunhão e esses preparativos com um olhar cheio de afeto e bondade. "Eu fico comovida com essa atenção", diz Cécile, mais acostumada com as zombarias dos homens em relação às "futilidades" femininas.