Quem for assistir ao filme "O Casamento de Gorete", que estreia nesta-quinta (27), vai demorar a reconhecer Letícia Spiller. Irreconhecível com make pesado, plataformas prateadas enormes e roupas extravagantes, a atriz encarna a personagem Rochanna, uma drag queen cuja inspiração ela diz ter buscado em personalidades como Rogéria e Léo Áquilla.
A seguir, ela conta mais do filme em que além de protagonista é produtora, do auge como paquita e diz que não descarta a possibilidade de oficializar a união com o fotógrafo Lucas Loureiro, com quem vive atualmente e tem uma filha.
Marie Claire: A Rochanna é uma personagem diferente de todas as outras que você já interpretou. Como se preparou?
Letícia Spiller: O diretor [Paulo Vespúcio] trouxe várias fontes de inspiração, fora as que eu já tinha como a Rogéria, que eu acho musa. Eu sempre brinco que a minha drag é uma mistura da Rogéria com o Léo Áquilla, que é bem cyber, faz essa linha ácida. A Rochanna é uma cyber-drag ácida e trabalha nesses tons de prata, branco e nas cores bem vivas. E também tem essas divas pop, mas eu acho a Rochanna trash, não tem nada de muito diva não.
MC: Como foi a experiência de trabalhar junto com o Pedro [filho de Letícia do relacionamento com o ator Marcello Novaes]. Ele pede conselhos ou dá dicas?
LS: O Pedro tem esse dom, é muito natural para ele. Eu não dei muitas dicas, quem deu foi o diretor e ele escutou direitinho, foi superprofissional e aberto para o que estava recebendo. Eu estava trabalhando demais nessa época e como confio no trabalho do Paulo deixei ele na mão do diretor porque o Pedro não me pede muitas dicas não, vai na intuição dele.
MC: Em recente entrevista, você afirmou que o projeto do filme é para ajudar no combate à homofobia. Acha que ainda existe muito preconceito?
LS: O primeiro objetivo do filme é fazer as pessoas se divertirem porque é uma comédia, mas também fala de um tema importante que é o preconceito de forma geral. Então, através da comédia a gente espera tocar as pessoas.
MC: Em geral, os personagens gays mais caricatos [como o Félix e o Crô] são aceitos pelo público de televisão, enquanto outros tipos são rejeitados. Por que você acha que isso acontece?
LS: Porque eles trabalham com o humor e assim podemos conseguir muita coisa, é uma forma de humanizar o personagem. Quando é um vilão ou você não traz o humor, eu acho que não humaniza, então eu sempre procuro colocar o humor nos meus trabalhos e acho que eles ganharam o carisma do público por isso. E esse filme com certeza vai conquistar!
MC: Essa é também sua primeira vez como produtora de um longa. Pretende produzir mais filmes?
LS: Eu já produzi o curta “Joãozinho de Carne e Osso”, uma peça de teatro que eu fazia com uma amiga minha, uma outra só dela e agora é o primeiro longa. Estou querendo produzir outros, já tem mais dois longas em vista, parceria com amigos também, mas cinema demora.
MC: Recentemente, sua estreia na novela "Quatro por Quatro" completou 20 anos. Como enxerga sua trajetória profissional? Diria que hoje se sente realizada?
LS: É uma busca eterna pelo aprendizado que a gente pode ter ao longo da vida - acho inclusive que esse aprendizado nunca termina-, mas estou mais madura como profissional. Há 20 anos, eu não tinha toda essa consciência de trabalho de voz, projeção vocal, até mesmo expressão corporal. Tudo isso você vai acrescentando a cada ano com experiências e buscas, e eu gosto de fazer cursos quando posso.
MC: Neste ano, a Marie Claire fez uma reportagem sobre as paquitas. Sente saudades dessa época?
LS: Não sinto saudades, mas sim uma alegria muito grande no coração. Morro de rir com as lembranças junto com as colegas dessa época e até com a própria Xuxa. Quando conversamos nos divertimos muito, porque são recordações gostosas. Foi uma época maravilhosa, mas passou.
MC: E em relação à vida pessoal, você sonha em oficializar a união [com o fotógrafo Lucas Loureiro] e ter mais filhos?
LS: Não descarto a possibilidade, mas não quer dizer que vá acontecer. Gostaria de fazer uma cerimônia só para amigos e família, com meus filhos abençoandos. Não quero fazer uma festa para os outros, mas para a gente.