“Estava num momento em que quis me jogar, passar por isso. Não importa quem vai ver, fiz para mim”, diz a atriz Patricia Vasquez, 27, sobre o desafio de posar nua para as lentes de um fotógrafo pela primeira vez. A carioca é uma das 26 mulheres que toparam se despir totalmente – além das roupas, desnudam histórias de dor, prazer e conflitos pessoais - na nova série “302”, que estreia neste sábado no Canal Brasil.
Versão para a TV do livro “Apartamento 302”, do fotógrafo Jorge Bispo, o projeto teve início em 2012, quando Bispo, conhecido pelo trabalho em revistas como "Playboy", "VIP" e "Trip", decidiu abrir o seu apartamento para retratar mulheres “reais”. Dois anos depois, quando recebeu a proposta para levar o trabalho à TV, o fotógrafo afirma que não tinha ideia de um formato, mas sabia bem o que não queria.
“Não queria um ensaio sensual na TV", conta. "Depois que as fotografei, muitas me ligaram e mandaram e-mails agradecendo e contando histórias muito boas, muito fortes. Achei que a única coisa a ser feita era dar voz a elas, mulheres incríveis por motivos diversos. E percebi que elas também tinham vontade de falar."
Diferente dos primeiros ensaios, em que o fotógrafo anunciou em sua conta no Facebook que buscava mulheres dispostas a posarem nuas para uma série, desta vez as retratadas –algumas das quais haviam ficado de fora do livro-, passaram por uma pré-entrevista cujo único critério era que narrassem trajetórias interessantes. Assim, surgem diante da câmera mulheres como Raquel, Alice, Mariana, Gab e suas histórias de vida e de como lidam com o próprio corpo.
Elas chegam tímidas, sem saber direito o que fazer com mãos e braços e, na frente de uma parede branca onde há apenas um biombo para tirarem a roupa, começam a posar para a câmera. Diretor de alguns videoclipes de artistas como Karina Buhr e Pedro Luís, Bispo chamou para a direção duas mulheres, a diretora de novelas Joana Arbace e a do programa “Esquenta”, Daniela Gleiser, na tentativa de que todas se sentissem mais à vontade.
No caso das que já haviam posado para o livro, a participação foi um reencontro com o fotógrafo dois anos depois. Bispo diz que “refazer” os ensaios para o programa seria “muito fake” e a ideia era “dar voz aos corpos”.
Uma dessas vozes, Patricia, que afirma não ter contado ainda ao pai sobre a série, vê a participação como um ato de coragem. “O que chama a atenção [nas fotos] não é uma mulher nua. Às vezes é um olho, a posição tensa do pé, a tentativa de se esconder. Em todas as fotos, você vê algo assim: onde a mulher estava sendo corajosa, onde estava se reprimindo. Ali, a gente não é só uma mulher nua, não é um produto, é uma mulher de verdade.”