O australiano Antony Burrows lia um artigo sobre o grande número de celebridades que tiveram imagens íntimas divulgadas na internet e se deparou com uma pergunta que ficou ressoando na sua cabeça. “Você faria um vídeo íntimo?”, questionava a publicação. “A maioria das respostas eram de mulheres que admitiam gostar da ideia, mas temiam os riscos. Assim que li isso, percebi que este era um problema que eu podia resolver.”
Há duas semanas, a empresa que ele comanda lançou o Disckreet, aplicativo que promete acabar com esse temor de que fotos e vídeos de nudez ou sexo feitos por um casal acabem parando na rede –uma das formas comuns de “pornografia de vingança”. O crime tem se tornado comum no mundo inteiro devido ao fácil –e inseguro- acesso a esse tipo de arquivo. Ocorre quando uma das partes do casal, em geral o homem, inconformado com o fim da relação, decide se vingar da ex espalhando o material íntimo na internet.
Para usar o aplicativo, cada um dos parceiros tem que criar um código de acesso. Com isso, podem gravar ou importar fotos e vídeos, que só podem ser acessados quando as duas senhas forem digitadas. A intenção é evitar que, com o fim da relação, um dos dois divulgue as fotos por vingança. Segundo o criador, todos os arquivos também são criptografados, o que evita que sejam acessados mesmo que o celular ou tablet seja roubado. Disponível para iPhone e iPad, o Disckreet pode ser baixado por US$ 0,99 (cerca de R$ 2,20).
O aplicativo, afirma, é o primeiro voltado diretamente a combater os casos de pornografia de vingança, já que os demais desenvolvidos até hoje focam a segurança individual, mas não a do casal. “Vejo o Disckreet como uma política de segurança nos dias de hoje em que a privacidade virtual é essencial. Nada pode ser deletado da internet e esses materias podem seguir a pessoa pelo resto da vida. Esta é uma consequência que os adolescentes não têm consciência até que seja tarde demais”, afirma.
O programa torna-se vulnerável caso um dos parceiros decida compartilhar sua senha. Para Burrows, no entanto, fica a critério do casal manter ou não seus códigos em privado. “Nossa preocupação era permitir que pessoas que sempre quiseram fazer fotos e vídeos com o parceiro possam fazer em segurança. Disckreet é uma maneira de protegê-los de circunstâncias imprevistas”, explica.
Desfecho trágico
Ao se lançar numa pesquisa sobre o tema, o australiano disse ter se impressionado com os números. Somente no Japão, mais de 27 mil casos foram denunciados à polícia entre 2008 e 2012. Embora no Brasil não haja números oficiais, algumas histórias de vítimas acabaram conhecidas pelo desfecho trágico, como o caso de uma adolescente brasileira que se suicidou após ter suas imagens divulgadas.
Embora não divulgue o número de downloads do programa até agora, Burrows afirma que tem despertado “bastante interesse” em várias partes do mundo. Além da segurança, os criadores esperam que o app promova mais consciência sobre a importância de proteger esse tipo de arquivo. Ainda que tivesse em mente casais que registram cenas íntimas, o engenheiro disse ter lembrado do caso de uma amiga que mostrou acidentalmente a um cliente fotos das partes íntimas do filho adolescente que ele havia feito para a namorada e esquecido de deletar.
“Ela e o cliente ficaram chocados. Isso ilustra o risco que alguns jovens estão correndo, sem nenhuma precaução. Queremos que eles saibam que há opções seguras de fazer isso e se protejam de futuros constrangimentos”, diz.