Roupas delicadas, uma casa perfeita, um café da manhã especial. Os cenários das fotos que você verá são esses, mas ele em nada retrata uma vida perfeita de contos de fadas. O que elas mostram na verdade? Rostos de mulheres machucados, com hematomas e ferimentos. Com a série “Entre Nós”, a fotógrafa Valérie Mesquita quer propor a reflexão sobre a violência doméstica sofrida por muitas brasileiras diariamente.
Depois de pesquisar diferentes casos e observar a realidade de muitas dessas mulheres – inclusive de uma “pessoa próxima e muito querida” -, Valérie convidou diversas atrizes para fotografarem algumas daquelas histórias para seu projeto. A fotógrafa de 23 anos faz questão de frisar que o objetivo não é que “Entre Nós” se transforme em uma campanha. “Campanhas apontam o dedo na cara. Minha ideia é causar uma reflexão sobre esse assunto, que pode acontecer com todo mundo, de qualquer idade, etnia ou classe social”, afirma.
Os retratos foram lançados em um site que leva o mesmo nome do projeto nesta segunda-feira (25), Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher. A série fotográfica tem, ainda, uma das imagens inscrita em duas bienais internacionais que acontecerão no próximo ano.
COMPARTILHE A IDEIA
Valérie, que também é cineasta e atriz, diz que a escolha de trabalhar com atrizes, ao invés de personagens reais, foi proposital. "Acho que os personagens são mais potentes do que as pessoas reais. Eles abrem a possibilidade de você se identificar de forma mais rápida com eles, sem estereótipos." A própria Valérie também está retratada em uma das imagens. “Gosto de dar a cara a tapa quando lido com um projeto. Quando você se coloca no meio da questão, não se ausenta dela. Também sou mulher e isso pode acontecer um dia comigo”, diz.
O desejo da autora da série “Entre Nós”, composta por 15 fotografias, é que se discuta sobre o problema que afeta mulheres brasileiras todos os dias e das mais diversas formas. “Nunca sofri violência em casa, por exemplo. Mas nós, mulheres, todos os dias, sofremos algo do tipo. Na rua, quando você passa e um homem fica te chamando de gostosa. Na balada, quando o cara não aceita que você não quer ficar com ele. Por isso, é importante discutirmos todos os níveis do problema”.