Quem vê Zeca Camargo muito bem-humorado, inclusive enquanto dava esta entrevista, não imagina que a chegada aos 50 anos (completados em abril) seja um assunto que passe por sua cabeça. Mas é esse o tema de seu novo livro, em versão digital, que será lançado no próximo dia 6 de setembro na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Em “50, Eu?”, o apresentador do “Fantástico” fala sobre a nova idade e faz uma análise de todas as mudanças pelas quais passou. Tudo com bom-humor, claro.
“O livro foi como um exercício de olhar para dentro e analisar essa imagem. Não apenas a parte física, elasticidade, como também as energias. É preciso administrar novos limites”, diz Zeca em conversa exclusiva com a Marie Claire. Confira o bate-papo:
Marie Claire: Durante a Flip 2013 você disse que os jovens da sua geração achavam que iam ter sempre 25 anos. Como você era quando tinha essa idade?
Zeca Camargo: Com 25 anos eu já dançava muito. Era muito ativo fisicamente. Tudo muito intenso. Estava bem solto, fazendo várias coisas ao mesmo tempo. Entre 20 e 25 anos foi quando comecei a trabalhar com jornalismo, então dei uma focada. Eu era bem animado. Ainda sou, só que aos 25 o corpo ajudava mais (risos).
MC: O seu novo livro é sobre a chegada dos 50 anos. Como é o Zeca Camargo hoje, se comparado ao de 25 anos atrás?
Zeca: Bem diferente, sem dúvidas. Quando decidi escrever o livro, olhei meu corpo no espelho e pensei: vou escrever a respeito. Não está a mesma coisa, claro, não dá para me enganar. Ao mesmo tempo, estou bem melhor do que me imaginava que estaria quando chegasse aos 50 anos. Quando tinha 25 anos imaginava que hoje estaria diferente, pois tinha em mente a geração de amigos do meu pai. Me sinto relativamente melhor do que imaginava. Não sem reconhecer que não é mais o mesmo corpo de antes. Esse livro é um exercício de olhar para dentro, para essa imagem e brincar com as mudanças que passei.
MC: Se arrepende de algo que fez?
Zeca: Só do que não fiz (risos). Teve uma fase, entre os 35 e os 45 anos, que eu deixei de fazer qualquer atividade física. Sempre fui um cara muito ativo, consciente do corpo, nunca fumei, nunca bebi em excesso, mas dei uma descuidada naquela época. Se pudesse voltar, não teria parado de fazer meus exercícios. Só retomei agora a pouco, após os 45, quando senti a idade chegando e resolvi dar um trato.
MC: A autocrítica e a cobrança consigo mesmo aumentam?
Zeca: Certamente. Nessa questão de atividades físicas, por exemplo, voltei a ficar consciente. Acho que a idade traz, não tem jeito. Claro que não vou voltar a ter 18 ou 20 anos de novo. Só que, ao chegar nessa idade você quer seguir em frente com um pouco mais de dignidade. Essa é a palavra. Então é uma questão de administrar novos limites, novas energias, elasticidade. Mas não tenho nenhum problema com isso, sigo tranquilo.
MC: Você tem algum medo que antes não tinha?
Zeca: Não, sobretudo quando se faz 50 anos. Acho um trunfo chegar a essa idade com a saúde razoável e disposição. Obviamente, nessa parte do caminho a morte está mais próxima. Mas ela nunca foi uma preocupação para mim. Até porque, no ritmo natural da vida, ela pode acontecer, literalmente, a qualquer momento. Então ou você vive todo dia com essa aflição, ou deixa de lado e pensa: ‘bom, quando chegar eu me preocupo com ela’. Que é o que eu escolhi fazer.
MC: Então você não tem medo da morte?
Zeca: De fato, não. Claro que eu não desejo, mas é inevitável. Se eu for me preocupar com isso, vou perder um tempo enorme e tem muita coisa legal para aproveitar, enquanto estiver vivo. Quer dizer, é um espaço de preocupação que nem vale a pena ter.
MC: Uma das inspirações veio de Nora Ephron, no livro "Meu Pescoço É um Horror". De que forma ela te inspirou?
Zeca: Com o humor, sobretudo. Li esse livro a primeira vez logo que foi lançado, em 2006. Gosto muito de quem escreve com diversão, que mostra casos do cotidiano de forma engraçada. A Nora fez isso não só com as histórias dela, como com a própria imaginação. Isso me deu uma inspirada, eu pensei: se é para escrever sobre os 50 anos, tem que ser com humor.
MC: Algum outro autor também ajudou nesse processo?
Zeca: Gosto muito do David Sedari. É um norte-americano muito engraçado que não inventa nada, apenas conta as coisas do dia-a-dia de maneira bem divertida. Foi o que eu tentei. Olhei para meu próprio corpo e pensei que tinha de fazer humor com aquilo. Se eu conseguisse chegar ao nível desses dois autores, ficaria muito feliz. Mas o importante mesmo é que eu consegui fazer tudo me divertindo
MC: Às vezes, por ser jovem, tem coisas que a gente só se sensibiliza com o passar dos anos. O que te emociona hoje?
Zeca: Realmente, quando eu era mais novo, dificilmente me emocionava com alguma coisa, era mais duro. Hoje em dia, histórias alegres me emocionam. Não tenho muito problema com tristeza. Se você me contar uma história muito triste, vou pensar: ‘é, que pena, mas a vida é assim mesmo’. Já casos mais alegres, de pessoas que se superam e saem de situações difíceis de sair...isso sim me emociona bastante, acho o máximo.
MC: Alguma vez você já teve vontade de chutar o balde e começar do zero?
Zeca: Toda semana (risos). Sempre tenho essa vontade para não achar que tudo está bom do jeito que está. Não diria que recomeço toda semana, mas sempre faço essa análise para não achar que tudo está conquistado. Gosto das reviravoltas que o destino dá e tenho sempre vontade de recomeçar, fazer tudo diferente. Até mesmo no "Fantástico" acho que é importante buscar sempre maneiras diferentes de fazer as coisas mais legais.
MC: São 17 anos de "Fantástico". Uma das marcas registradas são as entrevistas que você já fez com os maiores nomes da cultura pop. Tem alguma que mais te marcou?
Zeca: Essa é fácil. Sem dúvidas, o Paul McCartney. Quando se é apaixonado por música, fá de cultura pop, o sonho é entrevistar o cara que foi um Beatle. Fiz a entrevista com grande preparo, fiquei nervoso, ansioso, para não decepcionar os fãs. Infelizmente, foi uma vez apenas. Mas está de bom tamanho, né? Entrevistar o Paul, uma vez que seja, já é bom para o resto da vida. Claro que, no próprio Fantástico, tive a chance de entrevistar mais de uma vez nomes incríveis, como Madonna e Mick Jagger. São entrevistas que marcaram minha carreira. E tem mais gente vindo por aí, com o Rock in Rio, como Beyoncé. O legal de entrevistar nomes da música é que sempre tem gente nova chegando por aqui.
MC: Principalmente agora, que eles estão vindo para o Brasil cada vez mais...
Zeca: Sim, graças a Deus. O Brasil entrou de vez na rota de shows internacionais. Lembro que quando comecei a escrever sobre música, era tudo tão distante, difícil de ter acesso. Agora tudo melhorou e para minha sorte, consigo entrevistar mais gente legal do que antes.
MC: Você é apaixonado por cultura pop. Que nomes te inspiram?
Zeca: Nossa, é um elenco enorme. De João Emanuel Carneiro a Gilberto Braga, de Ivete Sangalo a Lady Gaga. Gosto de quem é capaz de mobilizar as pessoas. É uma lista enorme, não dá para citar meia dúzia de pessoas e fazer uma injustiça enorme. Acho legal, principalmente, tudo que tem a ver com música, cinema e TV, que são meus temas preferidos. Se é capaz de segurar um grande público, eu estou dentro.
MC: Você já deu a volta ao mundo três vezes, isso sem falar nas viagens que faz com frequência. Quais são os lugares mais inspiradores que indicaria para um roteiro sabático?
Zeca: Índia é muito importante, pois é diferente de tudo que você já conheceu. Nós, brasileiros, ocidentais, temos influências muito grandes dos norte-americanos. É legal também, adoro os Estados Unidos, a Europa, mas a Índia não pode faltar num roteiro sabático. Além dela, eu iria mais longe: gosto de todo o sudeste asiático. Vietnã, Tailândia, Camboja...toda aquela parte te remete a uma outra realidade, te tira do referencial, de tudo que você já conhece. Esses lugares, com certeza, trazem muitas experiências novas.
MC: Todas essas viagens te dão uma sensação de desapego ou você cria laços?
Zeca: Fico cada vez mais livre e solto (risos). Me sinto muito à vontade viajando, nunca como um estrangeiro. Tem pessoas que falam sobre isso, de ser turista em lugares com culturas diferentes. No meu caso, quanto mais diferente for, mas eu me sinto à vontade para entrar e conhecer. Essa sensação de que você pertence a um mundo maior, só tem quando começa a viajar para lugares de fronteiras e culturas mais distantes do que aquelas em que você cresceu.
MC: Que filme tem a sua cara?
Zeca: Qualquer um do Woody Allen. Estou louco para ver o novo filme dele, “Blue Jasmine”, tudo que ele faz é sensacional. Essa pergunta dos filmes é tão difícil quanto a dos nomes da cultura pop. Outro dia fiz, no meu blog, um post com 100 filmes que eu gosto e já foi bem difícil tirar essa quantidade de uma lista enorme. Um que me interessou muito também foi o português "Tabu", de Miguel Gomes. Para responder uma pergunta assim, eu realmente preciso atualizar a lista a cada semana.
MC: Que música define o seu momento atual?
Zeca: Outra pergunta bem complicada. Eu escuto tanta coisa que, para responder, preciso verificar o que estou ouvindo no momento (faz pausa para pensar). Hoje de manhã ouvi até um funk carioca. Gosto de paradas pouco conhecidas, que me deixam curioso. Coloca aí o novo disco dos Strokes, "Comedown machine". É bonito, contemporâneo, um achado. Pode não ter feito tanto sucesso, mas eu achei supermoderno.
MC: Mesmo muito popular na web, você não usa redes sociais. Qual o motivo?
Zeca: Nada contra, mas dá muito trabalho em fazer bem feito. Principalmente como pessoa pública, se fosse para abrir uma conta em rede social, teria que fazer muito bem. Abrir algo só para ter 1 milhão de amigos é fácil. Devido à minha rotina de trabalho, eu não teria como fazer isso direito. Teria um perfil em rede social, se tivesse esse tempo livre para me dedicar, e não para mostrar que vou viajar de novo ou que estou em uma festa. Para mim, isso é usar a rede social de maneira superficial.
MC: Apresentar o fantástico te dá muita popularidade. Como você lida com o assédio do público nas ruas?
Zeca: Tranquilíssimo. Ainda mais quando se é jornalista, o retorno é mais positivo. As pessoas param para dizer ‘gostei daquela entrevista’, ‘gostei daquela reportagem, daquela viagem’. Então, no meu caso, o assédio é muito mais quanto ao trabalho mesmo. É o melhor retorno que pode ter. Ando nas ruas sem precisar de segurança, antes de falar contigo dei uma volta na Lagoa, bem tranquilo, não costumam invadir minha vida privada.
MC: O que você ainda tem vontade de fazer na TV?
Zeca: Eu ficaria no Fantástico por todo tempo que houver. O programa me permitiu fazer muita coisa inesquecível, desde viagens até uma dieta, na época do Medida Certa. A gente já tem planos para 2014, com mais viagens, projetos, reality shows. Na TV, o que houver de legal em jornalismo que me permitam fazer, eu curto. Não tenho a menor aspiração de ser ator, sou jornalista mesmo. Agora em agosto comemoramos os 40 anos do Fantástico e fizemos um quadro novo, no qual colocamos uma família moderna para ficar um fim de semana numa casa de 1973 – ano em que o programa estreou. Apesar da forma divertida de comemorar, o Fantástico, o Show da Vida, segue em frente. E eu sigo junto.