A maioria das mulheres sonha em encontrar um príncipe encantado ou, ao menos, alguém com quem tenham afinidades. No entanto, elas dizem que isso não é tarefa fácil e se queixam: ou eles saem e não ligam no dia seguinte, ou têm vários defeitos que os afastam das mulheres, ou são cafajestes. Segundo algumas delas, os melhores homens já estão casados ou são gays. O que fazer neste cenário nada promissor? Já pensou se pudesse escolher os melhores homens em catálogos?
É essa a proposta do site “Adote um Cara”. Lançada na França em 2008 pelos amigos Manuel Conejo e Florent Steiner, a página tem como objetivo ser uma rede social, na qual as mulheres podem escolher os homens mais interessantes com quem querem conversar. O site é um sucesso, como comprovam os números: a versão original conta com mais de 6,3 milhões de usuários cadastrados e mais de 2,5 milhões de acessos por mês. O negócio já gerou, até 2013, cerca de 17 milhões de euros (mais de R$ 51 milhões) e ganhou até uma loja pop-up em Paris, na qual os “homens-produtos” ficavam expostos em caixas enormes de bonecas, como uma espécie de vitrine.
Na nova rede social, quem manda são elas: podem conversar com mais de um homem, comparar entre um e outro, sair para apenas uma noite ou para se relacionar e, até mesmo, devolver os produtos (como são chamados os homens no site) para a “vitrine”. Tudo com muito humor e diversão. Marie Claire conversou com Clara Bizien, gerente internacional de marketing do “Adote um Cara”, que explicou mais sobre o projeto, previsto para ser lançado no Brasil no fim de setembro na versão web e aplicativo móvel, com um limite inicial de 200 convites por dia.
Marie Claire: Como surgiu a ideia de criar o "Adote um Cara?"
Clara Bizien: O site foi criado por dois amigos em 2008. Um deles estava numa festa e havia um grupo de meninas que cochichavam. Quando chegou perto do grupo, ele percebeu que uma delas estava contando para as amigas, com vergonha, que estava inscrita em um site de relacionamentos. Além disso, a menina não parava de receber mensagens indesejáveis dos caras inscritos. Foi quando surgiu a ideia de fazer um site no qual as pessoas não tivessem vergonha de dizer que estavam inscritas e também não fossem incomodadas por e-mails “chatos” dos candidatos insistentes. Criou-se o AdoteUmCara.com, uma rede social onde as mulheres escolhem quais rapazes que podem falar com elas.
MC: Quais as diferenças entre o "Adote um Cara" e os sites de encontros?
CB: O "Adote um Cara" tem um enorme sucesso graças ao seu humor e também por ser o único que dá poder às mulheres. O conceito é revolucionar os códigos de sedução tradicionais. Na nossa loja com ares de “boudoir” (vestiário íntimo de damas), as mulheres são as rainhas. Elas batem perna tranquilamente, sem receber mensagens que não as interessam. Como princesas, as usuárias possuem uma outra vantagem: os produtos não podem, de nenhuma maneira, entrar em contato direto com elas. Isso cria um espaço seguro e confortável para as mulheres, pois elas têm a liberdade de escolher com quem vão trocar mensagens.
MC: Se a proposta é que as mulheres possam escolher os caras que gostam mais e acham mais interessantes, o resultado disso é que os homens se tornam produtos de catálogo?
CB: O site deve ser visto com humor e leveza. Todos nossos "doces produtos" são tratados com muito carinho e o maior cuidado. Mesmo que eles não possam trocar recadinhos com as mulheres, podem mostrar seu interesse através de um “charme”. Se elas aceitarem, os caras poderão saber, antes mesmo de começar a paquera, que elas também estão interessadas. O que é mais agradável que isso? Hoje em dia, as mulheres não têm mais medo de dar o primeiro passo e os homens também ficam felizes com a inversão de papéis.
MC: O objetivo é que as mulheres consigam namoros ou apenas saiam com algum cara e depois possam "devolver para a vitrine"?
CB: Tanto para uma noite quanto para um relacionamento mais sério. O "Adote um Cara" não procura ditar regras de conduta, nem julgar seus usuários. Pela primeira vez, elas têm a possibilidade de abordar os caras, o que normalmente não fariam em outro contexto, sem medo de serem julgadas e incomodadas. Hoje uma mulher que dá o primeiro passo não é mais considerada uma “periguete”.
MC: Há diferenças entre as perguntas de cadastro das mulheres para as dos homens. Por causa disso, algumas feministas estão rotulando a proposta do site em francês "Adopte un Mec" como "machista por parte das mulheres". A versão brasileira também vai causar esse tipo de polêmica?
CB: O site não toma partido de uma causa feminista. "Adote um Cara" é uma rede social feminina que oferece às mulheres um lugar seguro e descontraído. Na França, como no resto do mundo, o nome e o logo dão que falar, mas o site deve ser visto com bom humor. Nós não menosprezamos os homens, mas criamos um lugar mais agradável para as mulheres, invertendo os códigos tradicionais de sedução que sempre estiveram presentes na cabeça das pessoas. Os brasileiros são conhecidos pelo bom humor e por isso acreditamos que a ideia será bem recebida.
MC: Há quem diga que as mulheres gostam de homem cafajeste, que as trate como produto. O "Adote um Cara" vem aí para dar a revanche?
CB: Não temos a intenção de criar uma revanche por parte de ninguém, nem de criar um grupo de mulheres revoltadas. Mas é, enfim, a chance de, em 2013, permitir às mulheres abordar os caras que as interessem sem serem julgadas ou sem terem medo de ser julgadas como fáceis.
MC: Uma das ações de marketing vista em Paris foi uma loja itinerante (confira no vídeo abaixo), na qual os homens "catalogados" expuseram seus corpos em caixas de bonecas gigantes, que serviram de vitrines. Aqui no Brasil terá alguma ação parecida?
CB: Nos divertimos muito com a criação da loja e a ação foi aclamada pela imprensa. Ainda não podemos revelar tudo sobre o lançamento no Brasil, mas com certeza teremos surpresas.
MC: Com esse site as mulheres poderão mostrar mais atitude ao escolher os homens ou, no fundo, elas ainda esperam que os homens tomem iniciativas e façam tudo romântico, como manda a antiga tradição?
CB: Desde pequenas, aprendemos que devemos esperar pelo príncipe encantado. Mas achamos que agora é o momento de parar de sonhar e ir buscá-lo. A possibilidade de terem mais atitude e liberdade não acaba com o lado romântico da paquera. As mulheres adoram romantismo. O que queremos é oferecer a chance delas selecionarem por quem serão seduzidas.
MC: Vocês acham que os homens estão mais intimidados e sem atitude?
CB: Os homens não estão mais intimidados ou sem atitude não. Ao contrário: eles serão sempre nossos príncipes encantados. A diferença é que no site são elas que escolhem seus próprios príncipes.