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Cirurgia de feminização facial: 3 transexuais que se submeteram compartilham suas histórias

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Stacy Vasoll se submeteu à cirurgia aos 42 anos (Foto: Reprodução Facebook Dr. Jeffrey Spiegel)

Quando Caitlyn Jenner surgiu radiante na capa da Vanity Fair toda a atenção se voltou para sua transformação visual. O rosto com características tipicamente femininas foi resultado de um procedimento cirúrgico conhecido como Cirurgia de Feminização Facial (CFF).

A CFF nada mais é do que um conjunto de cirurgias geralmente composto pelo desgaste ósseo da testa para diminuir os ângulos, avanço do couro cabeludo para redução da testa, levantamento das sobrancelhas, aumento das maçãs, suavização do Pomo de Adão, rinoplastia e preenchimento labial.

Um dos especialistas que virou referência no assunto é o norte-americano Jeffrey Spiegel. Ele atua como cirurgião plástico em Boston, nos Estados Unidos, e realiza a CFF há 18 anos.

“Eu costumava fazer cirurgias plásticas de costume, como reconstrução após lesão, facelifts e rinoplastia. Até que um dia, uma mulher transexual entrou no meu consultório e disse que não parecia muito feminina, queria corrigir isso”, contou em entrevista ao site Bustle.

Ele pesquisou bastante, mas não encontrou na literatura médica nada que pudesse auxiliá-lo nesse processo. Decidiu então criar um procedimento, cujo segredo, segundo ele, está no formato do crânio de homens e mulheres.

“Normalmente, os homens possuem uma elevação acima dos olhos, que os deixam mais para baixo e menores”, explica ele, que costuma suavizar o osso da região, além de ajustar a posição do nariz e das boca, deixando o rosto “tradicionalmente com um aspecto mais feminino”.
“Para quem está em transição, isso é quase um momento de renascimento, pelo qual eles têm esperado praticamente a vida toda.”

Dr. Spiegel estima já ter realizado centenas de cirurgias do tipo. Segundo ele, a terapia hormonal para mulheres não vai tão longe quanto a dos homens, que podem ter o rosto alterado pela barba.

Erica Starling se decidiu pelo procedimento aos 39 anos  (Foto: Reprodução Facebook Dr. Jeffrey Spiegel)



Uma de suas pacientes foi Erica Starling, uma mulher que estava cansada da aparência masculina. “Os hormônios são capazes de grandes transformações”, contou também ao Bustle. “Ao longo dos anos, a testosterona altera a estrutura dos ossos, proporcionando ombros largos, apêndices maiores, assim como mãos e pés mais robustos.... [Com a cirurgia] Você evita que esses atributos ‘gritem’: ‘Ela era um homem.’.”

Erica foi vítima de um crime de ódio ainda na adolescência, e isso alimentou o seu desejo de buscar uma aparência mais feminina. “Eu estava com alguns amigos andando em Manhattan, quando três homens começaram a nos chamar de “bichas” do outro lado da rua. Eles nos seguiram e nós corremos. Eu não estava tão rápido (meus saltos eram muito finos e eu não conseguiria tirá-los a tempo de correr). Eles me bateram muito, arrancaram a minha peruca, pegaram minha bolsa e rasgaram o meu vestido. Eu cobri meu rosto o máximo que pude, mas eles acertaram meu olhos e chutaram repetidamente meu abdômen e costelas.

Erica foi levada ao hospital, mas fugiu de lá com medo de que a família descobrisse que ela se vestia roupas de mulher. Então, voltou a se “esconder”, vivendo publicamente como um homem. A decisão por tomar hormônios e começar o processo de transição foi tomada tarde, somente aos 39 anos, quando ela optou também pela Cirurgia de Feminização Facial. E garante: “Não poderia estar mais feliz com os resultados.”.

Stacy Vasoll também teve a sua CFF feita pelo Dr. Spiegel. Ela revelou que se descobriu trans aos quatro anos de idade. Mas foi só na adolescência que descobriu que seu rosto estava lhe traindo. Ela se sentia como as três irmãs, mas fisicamente não se parecia com elas.

“Eu tive muita dificuldade de encarar a adolescência vendo que meu rosto se tornava masculino. Eu me forçava a assumir um papel de homem e a fazer coisas de homem. Vim de uma família muito conservadora e sentia que jamais poderia levar essa questão até eles. Eu, basicamente, vivi assim até os 40 anos, quando decidi que finalmente deveria mudar”, contou.

Aos 42, Stacy começou a pesquisar fotos de outras mulheres transexuais que fizeram a cirurgia e se consultou com o Dr. Spiegel. “Senti que ele era a pessoa que me faria parecer como as minhas irmãs”, disse. A cirurgia custou US$ 50 mil (em média, R$ 175 mil), mas pode chegar a US$ 125 mil (R$ 437 mil). Porém, Stacy garante que realmente vale a pena.

Parker Molloy defende a ideia de que os planos de saúde cubram a Cirurgia de Feminização Facial  (Foto: Reprodução Twitter)



Parker Molloy encarou o procedimento mais jovem, aos 28 anos. “Penso nessa cirurgia mais como reconstrutiva do que estética. Afinal, o objetivo é desfazer alguns efeitos da testosterona.” Por isso, defende que os convênios médicos passem a considerar a cobertura de tal procedimento.

Além disso, ela faz um alerta para que as pessoas cis (que se reconhece como pertencendo ao gênero ao qual foi compulsoriamente designada quando nasceu) parem de presumir que a transição de alguém não está completa sem que ela tenha se submetido à CFF ou à cirurgia de transgenitalização.

“Acho que, às vezes, a sociedade tem o costume de avaliar as pessoas trans com base no número de procedimentos médicos aos quais já tenham se submetido. Isso não é legal”, afirma.
Parker acrescenta ainda que ninguém deveria achar normal perguntar a alguém se fez a cirurgia e se foi porque não se amava. “Eu fiz isso porque eu me amo, e não ao contrário.”

 


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