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Bancária testa recém-aprovado "viagra feminino" e relata aumento de prazer e na frequência do sexo

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Pesquisa feita pelo instituto Durex Global Sex Survey em 37 países mostrou que 32% das mulheres entre 18 e 65 anos já enfrentaram falta de libido (Foto: FOLIO-ID)

Ao acordar em uma manhã de verão, a bancária nova-iorquina Clara*, 38 anos, estava louca para transar. Mas, com dois filhos pequenos em casa e a correria matinal que ela e o marido, o advogado Roberto*, 40, teriam pela frente, acabou desistindo da ideia. Mas Clara encontrou uma solução criativa – e excitante – para contornar o problema. Colocou um envelope no painel do carro de Roberto, com o aviso: “Abra quando chegar ao trabalho”.

Dentro havia um bilhete onde estava escrito apenas “22h”, anexado ao panfleto de um motel. No horário marcado, a bancária aguardava o marido na porta da suíte, segurando uma garrafa de champanhe. “Eu estava nua, só de salto alto”, conta. “Passamos o dia inteiro pensando nesse encontro, e isso criou um clima supersexy. Fazia tempo que as coisas andavam mornas entre nós.”

Clara tem certeza de que essa noite inesquecível com o marido não teria acontecido se ela não estivesse tomando a flibanserina, uma pílula feita para tratar a falta de tesão na mulher. Quando o problema deixa de ser eventual para virar regra, passa a ser uma doença, chamada transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH), caracterizada pelo declínio até a perda total do apetite sexual feminino.

“Eu também mudei de atitude: me matriculei na academia e voltei a me sentir bem com meu corpo. O efeito da pílula atingiu vários setores da nossa vida.”
Clara*, bancária

Diferentemente do Viagra – cuja ação é aumentar o fluxo de sangue para o pênis, tornando mais fácil “sustentar” ereções –, o efeito da flibanserina se concentra no cérebro. A droga aumenta a dopamina e a norepinefrina (hormônios que participam da excitação sexual) e diminui a serotonina (que, acredita-se, seja responsável pela inibição da libido).

Nos primeiros anos de namoro, Roberto e Clara transavam pelo menos cinco vezes por semana. “Depois que tive o primeiro filho, meu desejo diminuiu muito e nunca voltou a ser como antes”, diz ela. “Eu já não tinha o mesmo corpo, não me sentia sensual e a rotina de trabalho aumentou. Tudo isso me deixava sem disposição para transar.”

A bancária, então com 30 anos, passou muito tempo tentando recuperar o prazer, numa busca que incluiu de homeopatia a terapia de casal. Nada funcionou. Até que decidiu abrir mão de vez do sexo. Quando o marido a procurava, Clara o repelia ou fingia estar dormindo. “Ele deitava ao meu lado em silêncio e eu sentia sua raiva e tristeza no ar.” Até que Roberto lhe mostrou um anúncio do laboratório americano Sprout Pharmaceuticals, que procurava voluntárias para testar a flibanserina. Clara se inscreveu imediatamente.

Algumas semanas depois que o estudo começou, a bancária sentiu seu desejo despertar. Com doses diárias do medicamento, ela passou a planejar encontros se­xuais e “roubar” o marido para uma rapidinha, enquanto os filhos assistiam a desenhos animados. O casal foi do sexo por obrigação a cada 15 dias para transas duas vezes por semana.

“Tudo melhorou em nosso casamento. Roberto ficou mais carinhoso. Depois do trabalho, em vez de ver televisão, ele me servia uma taça de vinho e perguntava como havia sido meu dia”, afirma Clara. “Eu também mudei de atitude: me matriculei na academia e voltei a me sentir bem com meu corpo. O efeito da pílula atingiu vários setores da nossa vida.”

Um ano após o início do tratamento com a flibanserina, o casal recebeu uma péssima notícia. O laboratório responsável pela droga cancelou o fornecimento do remédio. Clara foi informada de que a fase de testes estava encerrada e que teria de aguardar a aprovação do Food and Drug Administration (o FDA, que cuida da regulamentação de remédios nos Estados Unidos), o que aconteceu na terça-feira (18).

Clara não está só em seu drama íntimo. Uma pesquisa realizada em 2013 pelo instituto Durex Global Sex Survey em 37 países mostrou que 32% das mulheres entre 18 e 65 anos já enfrentaram falta ou ausência de desejo em algum momento da vida. Só nos Estados Unidos, quase 10% das americanas entre 18 e 44 anos sofrem com o TDSH, de acordo com um estudo feito com 31 mil mulheres, publicado na Obstetrics & Gynecology, em 2008.

No Brasil, os números não são menos alarmantes. Um levantamento feito pelo Hospital das Clínicas de São Paulo mostrou que a falta de libido representa o maior número de queixas registradas no Ambulatório de Sexualidade da Ginecologia: são 65% das reclamações. A instituição atende 200 pacientes mensalmente.

*Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados

**A íntegra desta reportagem foi publicada na edição de março de 2015


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