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Vítima de agressão, caminhoneira se torna protagonista de peça sobre violência doméstica

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CÁSSIA CLARO ABANDONOU UM RELACIONAMENTO VIOLENTO E CONQUISTOU O SONHO DE SE TORNAR MOTORISTA DE CAMINHÃO (Foto: DIVULGAÇÃO)

Por algumas vezes, a motorista Cássia Claro, 39, se viu indefesa diante dos ataques violentos de um companheiro que um dia ela acreditou ser digno de seu amor e confiança. As ofensas morais e físicas a deixaram vulnerável e desamparada ante alguém que poderia ter sido seu protetor. "Eu me sentia inútil depois de apanhar. Me sentia fraca". Este passado, tornou-se a bagagem que paulista levará consigo quando cruzar o Brasil de caminhão na Caravana Siga Bem, que neste ano terá a violência doméstica como tema de suas atividades nas regiões mais afastadas do Brasil.

Com doze caminhões divididos em duas equipes, o projeto, criado em 2003, percorrerá de Norte a Sul do país para desenvolver atividades em postos de gasolina de mais de 100 cidades brasileiras. Dentre as ações, uma peça de teatro dirigida por Tito Teijido terá Claro como protagonista.

"Teresinha é uma moça que está a procura de um companheiro e que tem 2 candidatos. Um que é bom, mas se torna ruim e o que é meio relaxadão", contou à Marie Claire sobre seu papel em "O Cassino do Cupido". O espetáculo aborda a questão da violência doméstica com a leveza de um roteiro bem humorado, mas sem deixar de conscientizar os espectadores sobre o combate ao crime, que vitimizou mais de 53 mil brasileiras apenas no ano passado, de acordo com denúncias recebidas pela Secretaria de Políticas para as Mulheres.

A esperança de Claro é ajudar a diminur o número de agressões em comunidades distantes ao levar informações sobre a Lei Maria da Penha para regiões em que há pouco acesso aos mecanismos públicos de defesa da mulher.  "O teatro Caravana é muito forte, mexe com quem está assistindo. Se tiver um agressor ou alguém que já presenciou [algum tipo de violência doméstica], vai apoiar a causa. Não tem como assistir sem entrar dentro da história", afirmou.

Dados das Nações Unidas mostram que uma em cada três mulheres no mundo já foi vítima de violência. No Brasil, nos últimos anos, quase 17 mil foram assassinadas por razões de gênero, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

MOTORISTA DE CAMINHÃO, CÁSSIA CLARO PROTAGONIZA PEÇA "O CASSINO DO CUPIDO" (Foto: DIVULGAÇÃO)
PASSADO VIOLENTO

 

Claro sentiu na pele a dor do ataque de um companheiro, pouco antes de abandoná-lo e seguir seu sonho de tornar-se motorista de caminhão anos atrás. Ela sabe que, em geral, o abuso tem início com o assédio moral.  "A violência nunca começa com a agressão física, começa com a agressão verbal. A pessoa te humilha e te maltrata com palavras".

Em março, foi aprovada no Brasil uma lei que tipifica o feminicídio como crime hediondo. O texto sancionado pela presidente Dilma Rousseff funciona como agravante do homicídio. A pena já foi usada na acusação de Milton Severiano Vieira, conhecido como "Miltinho da Van", de 32 anos, pela morte da dançarina Amanda Bueno, de 29 anos, ex-integrante da Jaula das Gostozudas e Gaiola das Popozudas, em abril.

Portanto, quem já sofre ameaças e agressões do companheiro precisa buscar ajuda para evitar que o pior aconteça, alerta a motorista. "Ou você se separa ou o leva para fazer tratamento [psicológico]. Mas [se possível] nunca deixe acontecer a agressão física."

Apesar da proteção da lei, muitas ainda não denunciam porque não conseguem reunir forças suficientes para procurar a polícia ou por não conseguirem sustentar a si próprias e aos filhos sem a ajuda do companheiro. "Algumas não trabalham e dependem do marido. Há mulheres que têm medo, outras acham normal, porque a mãe também apanhou. Cada uma tem uma situação."

CÁSSIA CLARO PERCORRERÁ O BRASIL DE CAMINHÃO NA CARAVANA SIGA BEM (Foto: DIVULGAÇÃO)

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