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Especialista vê tendência de relações lésbicas tardias: “Somos todos bissexuais”

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ESTELA E TERESA SE BEIJAM JÁ NO PRIMEIRO CAPÍTULO DE "BABILÔNIA" (Foto: Reprodução TV Globo)

O relacionamento vivido por Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg), em “Babilônia”, chama atenção para um fenômeno que começa a ser estudado por terapeutas norte-americanos, o “late-blooming lesbians”. Segundo a psicanalista Monica Donetto, ele diz respeito ao fato de cada vez mais mulheres estarem assumindo relações homossexuais tardias, mesmo que tal decisão comprometa um casamento de anos.

Normalmente, elas se entendem como heterossexuais, têm mais de 30 anos, são casadas e têm filho, mas em certo momento se deparam com o desejo por uma outra pessoa do mesmo gênero”, conta Monica. “O problema é que nem sempre elas conseguem compreender este novo comportamento.”

Baseada em pesquisas sobre o tema, a terapeuta notou que essa descoberta tardia, normalmente, acontece quando a mulher entende que o amor e o afeto não estão diretamente ligados à questão genital. “Não é o sexo, exclusivamente, que define o prazer sexual, mas a experiência com o outro”, explica.

A SEXUALIDADE É FLUIDA
Como terapeuta freudiana, Monica defende a ideia de que “somos todos bissexuais por natureza”. Ao longo da vida, a sociedade, assim como as disposições psíquicas e inconscientes, determinam nossas pulsões sexuais, que podem ser reavaliadas a qualquer momento.

“Parto sempre do princípio de que a sexualidade é fluida. Portanto, a escolha do objeto e objetivo sexual está sempre na fronteira, nunca é definitiva”, comenta ela. “Apesar de ainda vivermos em uma sociedade heteronormativa, o aumento progressivo da independência e das conquistas femininas têm estimulado cada vez mais mulheres a se permitirem romper um casamento de anos para viver essa nova experiência.”

Por isso, ela reforça a ideia de que esse novo comportamento está relacionado a um contexto de conquista de autonomia e liberdade feminina, e completamente dissociado de uma espécie de modismo, como muita gente costuma dizer.

O PRAZER SEXUAL VAI ALÉM DA PENETRAÇÃO
De acordo com a especialista, o que motiva uma mulher a se apaixonar por outra é, muitas vezes, a questão do diálogo, da parceria, e de uma nova percepção de que nenhuma condição é imutável. “Ela percebe que, com uma parceira, ela é mais ouvida e respeitada, não só em relação ao seu corpo, como também em relação às suas ideias.”

Além disso, existe ainda a noção de que o prazer sexual transcende a penetração. “É possível gozar com um beijo, toque no pescoço, estímulo do clitóris. Ainda existe um certo preconceito em relação a isso, mas precisamos entender que toda parte do corpo é uma potencial zona erógena.”

Diante dessas questões, Monica se arrisca a dizer que uma relação homossexual entre mulheres seria uma relação mais bem-sucedida. “Nesse encontro com o próprio corpo, elas conseguem identificar com mais facilidade do que os homens diversas fontes de prazer.”

"ELA PERCEBE QUE COM UMA PARCEIRA, ELA É MAIS OUVIDA E RESPEITADA" (Foto: Divulgação TV Globo)



A QUESTÃO AINDA É MORALISTA
Escapar do discurso social dominante não é tarefa fácil. Por isso, muitas das “late-blooming lesbians” apresentam angústia diante dessa descoberta.

A dor maior é exatamente por conta da surpresa. A princípio, são mulheres que nunca questionaram sua sexualidade ou viveram algo semelhante. Então, elas sempre se acham únicas nessa experiência, rola uma sensação de que aquilo é uma loucura que acontece exclusivamente com elas. Elas se sentem extremamente sozinhas.

A situação se agrava com a questão moralista que acomete os ex-maridos. “Eles costumam se sentir fracassados em relação ao sexo propriamente dito. Acham que fracassaram apenas na cama. Ainda é uma questão muito machista, relacionada diretamente à sexualidade genital.”

A TV TEM PAPEL-CHAVE NESSA DISCUSSÃO
Diante desse cenário, Monica reforça a importância da TV ao retratar relações lésbicas de uma forma favorável. “Tudo o que acontece na novela tem uma repercussão enorme. Então, se ‘Babilônia’ conseguir trabalhar o tema com cuidado, de forma menos moralista e a favor das relações humanas, vai ser muito positivo”, ressalta.

É preciso desconstruir a ideia de que as relações amorosas estão atreladas a formatos pré-estabelecidos. “Só assim conseguiremos libertar as pessoas da ideia de gênero e de que uma relação homossexual é ‘anormal’.

E como bem canta Maria Bethânia durante os beijos de Teresa e Estela, “mais que um beijo, eu te desejo um novo amor”.

 


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