Bruna Linzmeyer dará vida a mais uma personagem complexa. A atriz estreia no segundo semestre deste ano no longa "A Frente Fria Que a Chuva Traz", dirigido por Neville D’Almeida. Ela interpreta Amsterdam, uma jovem que se prostitui para sustentar o vício em heroína. O longa conta ainda com atores como Chay Suede e Michael Melamed, namorado de Bruna, no elenco. A seguir, ela fala da preparação e afirma que o filme retrata uma realidade que existe hoje.
Marie Claire: Você passou por uma transformação radical quando pintou os fios de rosa [para viver Juliana, em "Meu Pedacinho de Chão"], depois teve outra grande mudança ao emagrecer 10 kg para outra personagem. Como foi esse processo?
Bruna Linzmeyer: Foi muito difícil. Perdi 10kg em 6 semanas e cheguei a pesar 46 kg. Não coloquei um grão de açúcar na boca e nem um gole de álcool, o que alterou principalmente o meu humor. Passei a não ter mais uma fonte de prazer altíssima que é a comida, o doce e o álcool. Havia o prazer de emagrecer, de correr 10 km por dia, praticar yoga e cozinhar tudo que comia. Mas fiquei um bocado irritada e intolerante durante essas semanas.
MC: Diria que essa foi a maior mudança que você já fez para uma personagem? Tem alguma transformação que gostaria de fazer?
BL: A maior mudança é sempre aquela que está acontecendo (risos). Como ser humano, estamos em constante transformação, a melhor é aquela que vem para mudar sua direção. Seja uma mudança física, como emagrecer ou mudar o cabelo, que também interfere no psicológico, ou uma personagem mais doce, agressiva, ingênua, mulher, que irá alterar o físico.
MC: Sua personagem nesse filme é bem diferente das outras que fez. Teve alguma preparação especial e se inspirou em alguém para interpretá-la?
BL: O fato de emagrecer 10 kg já é alguma preparação. Seu estado de espírito e humor mudam, seu jeito de sentar, de acordar, de perceber a realidade e de caminhar também. Além disso, fiz uma pesquisa sobre prostituição e vício em heroína. Visitei lugares, clínicas, conversei com médicos e usuários, assisti filmes e li livros. E mais uma vez trabalhei com meu querido Sérgio Penna, preparador que fez comigo "Amor à Vida", além dos ensaios com o maravilhoso Neville.
MC: Você tem apenas 22 anos e vem mostrando seu talento com personagens complexas. Você se envolve emocionalmente com elas? Como você se sente quando acaba uma cena mais intensa?
BL: Me envolvo completamente, ou ao menos quero me envolver completamente. Às vezes, o processo de pesquisa é mais difícil que o de filmagem, entrar em contato com as realidades humanas, olhar para os muitos mundos que existem, como as pessoas são atravessadas por situações, separações, deficiências e vícios. Preciso de força, coragem e amor nesse momento. O processo de filmagem é sempre um parto, fazer algo que não se sabe é difícil, você tem que confiar na sua pesquisa, na sua intuição, no seu diretor e nos seus parceiros de cena.
MC: As pessoas verão cenas intensas? Foi difícil de fazê-las?
BL: Espero que sim! (risos) Foi difícil, mas gostoso. Neville é um diretor que estimula a loucura, a criação e assim te dá um espaço criativo. Então, pude brincar comigo mesma e com essa personagem como uma marionete, e acho isso muito prazeroso.
MC: Você acha que este filme retrata a realidade dos jovens de hoje?
Também. No mundo há pessoas envolvidas com a cultura, com o que está acontecendo do outro lado do oceano ou nas ruas da sua casa, com as ditaduras, as guerras, a história, causas sociais etc. E há quem viva fora da realidade do mundo, usufruindo dos seus carros caros, roupas de marca, piscinas e mansões. Portanto, esse filme fala sobre pessoas, é um recorte da realidade.