Fim de ano também é tempo de colocar a leitura em dia. Seja para aproveitar os dias livres para diminuir aquela pilha de livros que não conseguimos ler durante o ano ou para se atualizar do que foi lançado, listamos alguns dos títulos que valem a pena. Não se trata de uma lista de “melhores do ano” ou “mais vendidos”, mas de livros que fizeram parte das conversas da equipe de Marie Claire ao longo do ano e que recomendamos. Boa leitura!
"Americanah", de Chimamanda Ngozi Adichie
Uma das principais autoras de sua geração, a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie ganhou o National Book Critics Circle Award, um dos principais prêmios da literatura americana, além de ter sido eleito um dos 10 melhores do ano pelo “New York Times”. O romance conta a história de Ifemelu e Obinze, que vivem o primeiro amor durante os anos 90 no país africano sob o governo militar. Em busca de alternativas às universidades nacionais, paralisadas por greves, ela muda-se para os EUA, onde se destaca na vida acadêmica e se torna uma blogueira aclamada. Mas também se depara pela primeira vez com a discriminação racial e com as agruras da vida de imigrante. Com um humor implacável, Americanah (Companhia das Letras) mistura amor e crítica social e teve os direitos para o cinema comprados por Lupita Nyong’o, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante por “Doze Anos de Escravidão”.
“Como ser uma Parisiense em Qualquer Lugar do Mundo”, de Caroline de Maigret, Anne Berest, Sophie Mas e Audrey Diwan
Ao longo dos séculos, a mulher francesa fascinou autores na literatura, música e cinema e serviu de inspiração na moda e beleza para seus pares no mundo todo. Mas o quanto essa fascinação tem de ficção e verdade? Foi se debruçando sobre alguns clichês sobre a parisiense que quatro amigas - a embaixadora da Chanel e musa da Lancôme Caroline de Maigret, a escritora Anne Berest, a produtora Sophie Mas e a jornalista Audrey Diwan –se reuniram para desconstruir o mito. Numa linguagem repleta de autoironia e sem rodeios, elas falam sobre filhos, relacionamentos, trabalho, estilo, cultura e até admitem serem esnobes e cheias de opinião –mas também meigas e romântica. “Como Ser Uma Parisiense em Qualquer Lugar do Mundo” (Ed.Objetiva) figurou na lista de best-sellers do “New York Times”.
“A Festa da Insignificância”, de Milan Kundera
Um dos maiores intelectuais do mundo, o tcheco naturalizado francês Milan Kundera, 85, ficou conhecido após o lançamento de “A Insustentável Leveza do Ser”, livro considerado sua obra-prima que inspirou um filme homônimo indicado a dois Oscar em 1988. Há 14 anos sem lançar um novo título, voltou a frequentar a lista de mais vendidos na França e Itália com “A Festa da Insignificância”, que chegou este ano ao Brasil pela Companhia da Letras. O romance critica a futilidade do mundo moderno ao narrar a vida de cinco amigos de Paris, envoltos numa rotina mundana e inócua. Com bom humor e ironia, lembra outras obra que tematizam sobre insignificância da existência, como o longa italiano “A Grande Beleza”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
“O Irmão Alemão”, de Chico Buarque
Uma história real, que acompanha o autor há quase 50 anos, é o mote de “O Irmão Alemão” (Ed. Companhia das Letras), quinto romance de Chico Buarque. Foi na segunda metade dos anos 60 que o compositor descobriu a existência de um irmão, filho do pai, o historiador Sergio Buarque de Holanda (1902-1982) com Anne Margerithe Ernst, quando viveu em Berlim no final dos anos 20. Sérgio Georg Ernst, o irmão a quem Chico nunca conheceu, nasceu por volta de 1930, seis anos antes do intelectual retornar ao Brasil e se casar com Maria Amélia de Carvalho Alvim, mãe de Chico e de seus seis irmãos. Chico só saberia da história aos 22 anos, numa visita à casa do poeta Manuel Bandeira. O mais provável é que Sérgio Ernst tenha morrido durante a guerra. O romance reproduz ficcionalmente essa busca do autor, na pele do personagem-narrador Ciccio, que fica sabendo da existência de um irmão alemão ao encontrar uma carta dentro de um volume na biblioteca do pai.
“Não Sou uma Dessas – Uma Garota Conta Tudo que ‘Aprendeu’”, de Lena Dunham
Falaram mal, falaram bem, mas ninguém ficou indiferente à estreia literária de Lena Dunham, a bem sucedida nova-iorquina de 26 anos criadora da série “Girls” (HBO), premiada com os principais prêmios da TV, como Globo de Ouro, Bafta e Emmy. Constantemente acusada de ser egocêntrica, ao mesmo tempo comparada a Salinger e Woody Allen pelo “New York Times”, Lena parece ter conseguido o que a Hannah de “Girls” sempre quis: ser uma das vozes de sua geração. Ativa nas redes sociais, se engajou esse ano em temas feministas e não se furtou de falar da violência sexual que sofreu –abordada no livro. “Não Sou uma Dessas...” (Ed. Intrínseca) rememora estas e outras experiências, como amor, solidão, carreira, problemas com autoimagem e diferenças de gênero no estilo que lhe é peculiar: às vezes hilários, às vezes incômodos, mas sem concessões ou filtros.
“Por uma Vida Mais Doce”, de Danielle Noce
Formada em confeitaria e panificação na escola Lenôtre, em Paris, a brasileira Danielle Noce desistiu dos planos de abrir uma confeitaria em Amsterdã, na Holanda, para transformar sua paixão em fazer doces em vídeos didáticos e com visual moderninho. O canal “I Could Kill for Dessert” (Eu mataria por uma sobremesa) virou um sucesso, atraindo até 400 mil visualizações por mês no Youtube, e ganhou um versão na TV (no canal pago VH1). “Por uma Vida Mais Doce” (Ed. Melhoramentos) reúne mais de 170 receitas, para quem quer preparar delícias com a mesma graça e delicadeza da confeiteira. Quem preferir, pode ainda acessar os links para vídeos e seguir o passo a passo.
“O Pintassilgo”, de Donna Tartt
O vencedor do prêmio Pulitzer, a maior honraria das literatura americana, é também um êxito de vendas: passou nada menos que sete meses na lista de mais vendidos do “New York Times”. Entre os inúmeros elogios que recebeu da crítica, ressaltam-se “as reviravoltas na trama e a prosa elegante” da autora, romancista e crítica literária americana. O livro, lançado no país pela Companhia das Letras, narra a história de Theo Decker, nova-iorquino de 13 anos que sobrevive milagrosamente a um acidente que mata sua mãe, o pai o abandona e a família de um amigo rico o adota. Perseguido por colegas de escola com os quais não consegue se comunicar e, acima de tudo, atormentado pela ausência da mãe, Theo se apega a uma lembrança poderosa de seu último momento ao lado dela: uma pequena, misteriosa e cativante pintura que acabará por arrastá-lo ao submundo da arte.
“Queria Ver Você Feliz”, de Adriana Falcão
Mais conhecida pelo trabalho de roteirista de séries globais como “A Grande Família” –e mãe da atriz e cantora Clarice Falcão-, Adriana Falcão já havia demonstrado a sutileza de sua linguagem poética em títulos infanto-juvenis como “Mania de Explicação” e “Luna Clara & Apolo Onze”. Neste novo romance (Ed. Intrínseca), o amor assume o papel de narrador para contar a trajetória do casal Caio e Maria Augusta, pais da autora. O que poderia ser uma história trágica, protagonizada por dois personagens atormentados por seus demônios pessoais e constantes crises, se torna um tratado de memórias afetivas que alterna momentos de humor e dor, como sói acontecer em todos os casos de amor.
“A Redoma de Vidro”, de Sylvia Plath
Único romance da poeta americana Sylvia Plath, “A Redoma de Vidro” retornou este ano às livrarias 51 anos após sua primeira publicação e do suicídio da autora, em 1963. Lançado semanas antes da morte da poeta, o livro é repleto de referências autobiográficas. A narrativa é inspirada nos acontecimentos do verão de 1952, quando Plath tentou o suicídio e foi internada em uma clínica psiquiátrica. A obra foi publicada na Inglaterra sob o pseudônimo Victoria Lucas, para preservar as pessoas que inspiraram seus personagens. Assim como a protagonista, Ester Greenwood, a autora foi uma estudante com um histórico exemplar que sofreu uma grave depressão. Muitas questões de Esther retratam as preocupações de uma geração pré-revolução sexual, em que as mulheres ainda precisavam escolher se priorizavam a profissão ou a família, mas a história segue atual.
“Sete Anos”, de Fernanda Torres
Depois de sua aclamada estreia como escritora com “Fim”, de 2013, a atriz reuniu este ano suas colaborações para a imprensa, onde começou a publicar em 2007, na revista “piauí”, passando por uma coluna semana na “Veja Rio” até assumir um espaço mensal na “Folha de S. Paulo”, que mantém até hoje. Estão no volume os textos de Fernanda sobre cinema, teatro, política ou o cotidiano, sempre com o olhar irônico, o tom confessional e o humor da autora. “Desenvolver uma ideia dentro de um espaço determinado de linhas, falar de temas de interesse comum sem abrir mão do tom pessoal e dar valor à concisão são algumas lições que tomei do jornalismo”, diz ela, na apresentação do livro, que traz ainda um texto inédito. “Despedida”, sobre a morte do pai, que ficou fora da coluna na “Folha” na época, mas que Fernanda resolveu compartilhar agora com o público.