Quem vê fotos de Maya Banks ao lado dos filhos ou dos vários gatos de estimação, não imagina que essa simpática mãe que vive no Texas e tem como hobby sair para pescar e caçar em família é autora best-seller de dezenas de livros eróticos com temática BDSM (a sigla que reúne bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo, masoquismo entre outros fetiches). Mas é assim que a norte-americana ganha a vida desde 2006, quando conseguiu o primeiro contrato.
Maya gostava de escrever histórias desde criança, mas foi após uma aposta com uma amiga, sobre quem conseguiria ter a primeira delas publicada, que encarou a sério a carreira. Desde então, já foram mais de 50 títulos publicados, entre romances de mistério e eróticos como os da trilogia “Breathless”, cujo último título, “Fogo”, fez a autora figurar na lista de mais vendidos do New York Times e do USA Today –no Brasil, o livro também surgiu nos rankings de e-books mais baixados.
“Rendição” (Ed. LeYa), primeiro livro da trilogia Surrender que a autora lança este mês no Brasil, conta a história de Joss, uma viúva que após três anos da morte do marido decide procurar justamente o que ele não podia lhe dar: dominação. Inexperiente, ela descobre que o ex-sócio e melhor amigo do marido era um mestre nas artes sexuais menos ortodoxas. Seguem relatos quentes e didáticos de uma intensa maratona sexual do casal.
Soou familiar? A autora faz questão de descolar seus romances do “fenômeno” “50 Tons de Cinza”, que afirma nunca ter lido. “Escrevo romances eróticos de sucesso bem antes desse fenômeno mundial e nunca fiz nenhuma mudança para ‘apimentar’ a linguagem crua com a qual escrevo porque para mim é muito mais realista”, diz ao ser falar sobre a narrativa que utiliza em seus livros, bem mais explícita que a do vizinho de prateleira mais conhecido.
A autora falou à Marie Claire sobre sobre a carreira, planos e suas protagonistas submissas que, afirma, “têm muito mais poder na relação que os homens”.
Marie Claire - Historicamente, a literatura erótica sempre teve um grande público leitor, mas recentemente os livros com temática BDSM se tornaram muito populares. O que mudou?
Maya Banks - Não acho que houve uma grande mudança. Acho que há uma demanda por livros de temática BDSM há muito tempo. No meu caso, meus livros se tornaram mais populares desde 2006 e há outros autores escrevendo sobre o tema antes de mim. O que aconteceu é que de repente muitos autores passaram a escrever sobre isso e não havia tantas opções disponíveis antes para os leitores escolherem.
MC - Qual o seu público? Há mulheres mais velhas ou homens que leem seus romances, por exemplo?
MB - Meu público alvo é qualquer pessoa que goste de ler uma literatura erótica bem escrita, seja BDSM ou não. E sim, recebo muitos e-mails de leitoras que são mulheres mais velhas e homens que gostam muito.
MC - Numa sociedade ainda machista, o tema da heroína torturada não pode ser mal interpretado? Já foi acusada de ser sexista?
MB - Eu não vejo o BDSM (ou pelo menos meus livros sobre o tema) como algo machista de maneira nenhuma. Meus livros são todos sobre empoderamento feminino. É sobre o que essas heroínas querem. Elas não são “forçadas” a fazer nada. Deixo sempre deixar claro que é uma escolha delas. É algo que elas querem, precisam e desejam e, para que fique ainda mais claro, pessoalmente acho que nenhuma mulher deve se sentir constrangida quaisquer que sejam seus desejos e vontades. Além disso, nos livros, as personagens femininas tem muito mais poder na relação que os homens. Ela escolhe dar parte desse poder ao seu amante e, na verdade, cabe ao homem amar e respeitar essa troca de poder.
MC - Comparado com “50 Tons de Cinza”, outro famoso best-seller erótico no Brasil, seu novo livro “Rendição” é um pouco mais explícito na linguagem. Acredita que essa é uma das razões do seu sucesso?
MB - Não posso falar sobre a linguagem usada em “50 Tons de Cinza” porque nunca li o livro. Mas eu escrevo romances eróticos de sucesso bem antes desse fenômeno mundial e nunca fiz nenhuma mudança para “apimentar” a linguagem crua com a qual escrevo porque para mim –e essa é puramente minha opinião- é muito mais realista. Homens falam palavrão, mulheres falam palavrão. Amantes usam linguagem crua quando fazem amor. É apenas real e não acho que soe mais artificial do que se, de repente, eu começasse a usar eufemismos ou tentasse tornar a linguagem mais politicamente correta.
MC - Falando em “50 Tons de Cinza”, você tem planos de adaptar algum dos seus romances para o cinema?
MB - Isso depende unicamente do meu agente e do interesse de Hollywood, embora eu admita que não acho que seria apropriado levar algum dos meus romances eróticos para a tela grande. Já a série KGI [de romances de mistério, inédita no Brasil] eu consigo imaginar como um grande filme ou série de TV.
MC - Já teve oportunidade de ler algum autor brasileiro? Imagina um personagem brasileiro em algum dos seus romances?
MB - Infelizmente não, não tive oportunidade de ler nenhum escritor brasileiro, mas adoraria. E tive um personagem meio brasileiro na série KGI. A mãe dele vivia no Rio, onde ele nasceu e o pai era um militar americano. O codinome dele na série era Rio por causa da cidade onde nasceu, mas eu revelo o nome real no livro, “Echoes at Dawn” (Ecos da madrugada, sem tradução para o português).
MC - O que você recomenda para os leitores que têm interesse em escrever romances?
MB - Paciência. Tenacidade. Não comprometer seu estilo ou sua ideia por nada. Mas, acima de tudo isso, paciência.