Ela modelou por 13 anos, foi atriz (atuou em "Avenida Brasil", entre outras) e atualmente é repórter do programa de entretenimento "Vídeo Show", na Globo. Pathy Dejesus conta que conseguiu driblar o preconceito que sofreu por ser negra, e, aos 35 anos, celebra uma carreira de sucesso. Aqui, ela fala da sua trajetória profissional, afirma que o Brasil ainda precisa evoluir em relação ao racismo e garante que é uma mulher de personalidade forte.
Marie Claire: Você começou a carreira como modelo quando ainda era bem jovem e depois partiu para televisão. Como tomou essa decisão?
Pathy Dejesus: Sempre fui muito boa aluna, estudiosa e sabia que iria trabalhar com comunicação. A época de modelo foi incrível, mas chegou um momento que eu precisava de mais, queria colocar meu intelecto para fora de alguma forma. Falo bastante e gosto de ouvir também. Nesse meio tempo, comecei a estudar interpretação. Não tinha nem concluído os quatro anos de curso e fiz meu primeiro teste para uma novela. Passei e foi um susto porque achei não estava preparada. Depois, fiz mais algumas novelas e trabalhei na MTV, apresentei o "Top 10" e o "Acesso", e agora estou no "Vídeo Show."
MC: O que você está achando da experiência como repórter?
PD: Estou adorando! No começo dava um pouco de desespero porque eu sou de outra pegada, né? Sou atriz, então estava acostumada com um tipo de roteiro, de direção, de câmera, fala ... você tem que ser fiel ao que você está lendo. Já quando você está apresentando, sua personalidade vem antes de qualquer coisa. Agora já estou me sentindo em casa (risos).
MC: Em alguma momento da sua trajetória profissional você sentiu preconceito por ser negra?
PD: A gente mora em um país que é preconceituoso. As eleições terminaram e vimos as pessoas falando dos nordestinos. Meses atrás era o macaco, a banana ... E por aí vai. Não tem como eu mentir para você e falar que eu não sofri preconceito, mas acho que isso não foi um empecilho que fizesse eu desistir dos meus sonhos. Para algumas pessoas isso desmotiva, mas para mim, funciona como gás.
MC: Mas foi algo que te abalou?
PD: Abala porque o preconceito é algo que pega na sua autoestima e quando você é adolescente isso atinge, sim. Eu, graças a Deus, tive muita força do meu pai e da minha mãe que sempre me estimularem a ser o melhor que eu podia já me preparando para isso. Meu pai falava: "filha, você é mulher e negra, vai ter que trabalhar quatro vezes mais". Nosso país infelizmente é machista e preconceituoso. E o que a gente tem que fazer? Ficar em casa chorando? Não! Se uma porta se fecha, eu arrombo outra (risos).
MC: Antes não tinham tantas mulheres negras na televisão, mas hoje elas conquistaram espaço. Você acha que essa é uma evolução?
PD: Sim, sem dúvida! Mas sinceramente ainda é muito pouco. A população negra do Brasil é a maior depois da África. Temos mais negros aqui do que nos Estados Unidos. Como modelo, eu tive a oportunidade de morar no exterior e lá as pessoas sabem dos seus direitos e tem quem os defenda porque a lei é rígida. Aqui, se você não gravar ou não tiver uma testemunha, fica por isso mesmo. Lá existe o racismo, mas não a segregação, você vê negros em todos os cargos. Você pega um avião, metade da tripulação é negra; você vai ao branco, o gerente é negro; você vai a uma loja de grife, terá uma mulher negra te atendendo. Já no Brasil, a segregação é grave.
MC: Como uma ex-modelo e mulher supervaidosa, você tem um ícone de beleza?
PD: Na epoca de modelo meu ícone era a Naomi Campbell. Hoje, tem algumas topmodels que eu acho incríveis, como a Joan Smalls e a Maria Borges. E tem também atrizes, a Halle Berry é maravilhosa! Gosto de mulheres com personalidade forte, que são lindas e tem uma história para contar.
MC: E você também tem personalidade forte?
PD: Muito forte! (risos) Sou taurina e tenho lua em leão. Acho que a minha personalidade interfere nas minhas decisões. Sou intuitiva, ouço esse meu lado e aí eu brigo com o mundo porque as pessoas acham que eu estou viajando. Dizem que eu sou muito sonhadora, mas eu brigo muito por aquilo que acredito.