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Brasileiro é o primeiro a ganhar prêmio internacional de pesquisa contra o uso de animais em testes

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O gaúcho Róber Bachinski: em 2006, aos 21 anos, ele fugiu de laboratório com 14 ratos que seriam usados em experimento (Foto: Divulgação / Lush Prize)

Filosofia de vida baseada nos direitos dos animais, o veganismo vem se convertendo nos últimos anos numa causa abrangente, capaz de conectar pessoas e articular movimentos no mundo todo, com impactos na indústria de alimentos, medicamentos, vestuário, cosmético e entretenimento.

Uma das bandeiras mais conhecidas, a luta contra os testes em animais para aprovação de produtos é mais lembrada no Brasil pela ação de um grupo de ativistas que, em 2013, invadiu o Instituto Royal, em São Roque (SP) e retirar 178 cães da raça beagle que eram usados em testes farmacêuticos e veterinários.

Bem antes da invasão, no entanto, brasileiros vêm articulando ações educativas contra o uso de animais como cobaias. Desde que soube que os testes faziam parte da grade curricular de diversos cursos, o gaúcho Róber Bachinski se tornou um dos primeiros estudantes brasileiros a promover a consciência contra os experimentos.

Em 2006, aos 21 anos, não hesitou em atravessar Porto Alegre de ônibus com 14 ratos de um laboratório da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) dentro de duas caixas de sapatos para salvá-los de serem mortos em experimentos científicos. O então estudante também abriu um processo contra a universidade, alegando ser inconstitucional ser obrigado a assistir às aulas que feriam seus princípios éticos, no primeiro caso do tipo no país.

Na última sexta, sua pesquisa com modelos de culturas de células em 3D e alternativas de usos para educação científica, que desenvolve no seu pós-doutorado na Universidade Federal Fluminense, lhe valeu o Lush Prize na categoria Jovem Pesquisador. Criado há três anos, o prêmio distribui bolsas que somam 250 mil libras (cerca de R$ 1 milhão) a organizações e cientistas que trabalham para a substituição dos testes em animais por métodos livres de crueldade com validação científica.

“Quero dedicar esse prêmio a todos os estudantes brasileiros que lutam contra os testes em animais no Brasil e na América Latina”, disse Bachinski, que se tornou o primeiro brasileiro a trazer o troféu ao país –um coelho de cerâmica criado pelo escultor Nichola Theakston. O pesquisador recebeu o troféu das mãos de outro brasileiro, o professor de biologia do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de Alfenas (MG), Thales Tréz, primeiro a fazer parte do júri do prêmio.

Na apresentação, Tréz destacou o trabalho do jovem gaúcho como educador, outra atividade que o colocou na mira do prêmio. Além da pesquisa, ele participa do 1R Net (www.1rnet.org), plataforma que mapeia a utilização de animais no ensino superior, e promove consultorias sobre métodos alternativos a estudantes e professores no Brasil e América Latina. Foi incentivado por outros ganhadores de edições anteriores que Róber resolver se inscrever.

Bachinski com o professor Thales Tréz, primeiro brasileiro a fazer parte do júri do Lush Prize que entregou o troféu (Foto: Divulgação / Lush Prize)



EVOLUÇÃO BRASILEIRA
Para o diretor de mercados emergentes da Lush, Karl Bygrave, a participação dos brasileiros no prêmio –além de Róber e do professor Thales, o biólogo Sérgio Greif concorreu nas categorias lobby e consciência pública- é um reconhecimento à evolução do ativismo em defesa dos animais nos últimos dez anos no país.

“É um reconhecimento a essas pessoas que, como se sabe, fazem campanhas que nem sempre são conhecidas. Veja o caso dele, que foi o primeiro estudante a alegar objeção de consciência [termo jurídico que embasou a ação de Róber] para não aceitar experimentos com animais”, diz. “Espero que esse prêmio faça com que surjam outros jovens pesquisadores como ele.”

Diretora ética da marca de cosméticos, a ativista Hillary Jones destacou o papel do Brasil na América Latina em relação à proibição de testes em animais. Para ela, a “continuar neste caminho certo”, o país pode vir a ser um modelo na região sobre o assunto. Este ano, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que proíbe os testes para a produção de cosméticos, na proposta que havia sido apresentada logo após o episódio com os beagles. O texto ainda precisa ser aprovado pelo Senado.

No lado inverso, Hillary lamenta a ausência na terceira edição do prêmio de trabalhos da China, país que ainda figura entre os piores em desrespeito aos direitos dos animais. Doze ganhadores dividiram o prêmio este ano, de países como Nova Zelândia, Taiwan, Quênia e cinco países europeus –onde os experimentos já são proibidos por lei.

A decoração da cerimônia: sucos e drinques servidos em tudos de ensaio por garçons vestidos com jalecos (Foto: Divulgação / Lush Prize)



CARDÁPIO VEGANO
Conhecida pela sua abordagem sustentável na venda de cosméticos –utilizando produtos frescos, quase sempre orgânicos e com pouca embalagem- a britânica Lush costuma ser exigente com as parcerias ao redor do mundo, que devem se comprometer com sua “declaração de missões”. Este ano, a empresa abriu em São Paulo seu primeiro spa da América Latina.

Durante a cerimônia, realizada no Instituto Real de Arquitetos Britânicos, em Londres, um cardápio totalmente vegano foi servido por uma equipe vestida com jalecos de cientistas, enquanto os convidados bebericavam sucos e drinques em tubos de ensaio.

“Quando criança, me lembro de ter visto num livro sobre medicina que se abriam animais sem anestesia e pensei: ‘Que coisa mais bárbara!’ Aqui hoje tenho certeza que teremos um futuro sem testes em animais”, discursou a ativista Carol Baker, uma das ganhadoras do troféu em 2013 que foi contratada pela empresa.


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