Eleito em 2010 com quase 150 mil votos, Romário, hoje também presidente da Comissão de Turismo e Desporto, chegou a Brasília cercado de desconfiança, mas hoje, com 100% de presença na Câmara, tem projetos de lei importantes (como o que pretende agilizar as pesquisas médicas no Brasil) e trava um verdadeiro embate com a CBF por mais transparência no futebol. É a favor da saída do atual presidente da instituição, José Maria Marin, que recentemente teve seu nome ligado à morte do jornalista Vladmir Herzog durante a Ditadura Militar. Critica os valores estratosféricos que as obras da Copa tomaram. E, sobretudo, luta pela inclusão de portadores de deficiência no País. Sua filha caçula, Ivy, 8 anos, tem Down – síndrome genética que, até seu nascimento, ele praticamente desconhecia. Ivy é também a catalisadora da metamorfose do Romário jogador para o político. “Ela mudou tudo em mim. O egoísmo, a ‘marra’, a antipatia.”
Nascido na favela de Jacarezinho (RJ) há 47 anos, Romário teve uma infância difícil. Convivia com usuários de drogas e não podia comer o que queria. O pai, Sr. Edevair, montou um time de futebol amador, o Estrelinha, para que os filhos focassem no esporte e tivessem uma trajetória diferente da maioria das crianças da comunidade. Talentoso, Romário foi contratado, ainda adolescente, pelo Vasco da Gama. Pouco depois, a Europa: primeiro o PSV da Holanda, pelo qual foi tricampeão holandês, e depois o Barcelona, campeão espanhol e da Supercopa da Espanha. Em 1994, levou a seleção brasileira ao campeonato mundial, depois de 24 anos de jejum em Copas do Mundo. Foi eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA e, de volta aos gramados brasileiros, ganhou muitos títulos pelo Vasco e pelo Flamengo. Sempre polêmico, mantinha desafetos em campo e fora dele, não gostava do cotidiano espartano dos treinamentos e vivia burlando as concentrações. Seu compromisso era apenas com o gol: foi o segundo jogador no mundo a alcançar a marca de mil tentos marcados, junto com Pelé.
Paralelamente, acumulou casamentos e amantes. Com as “oficiais”, Mônica Santoro, Danielle Favato e Isabella Bittencourt, teve cinco filhos: Moniquinha, Romarinho, Daniellinha, Isabellinha e Ivy – a única que não leva o nome de uma ex-mulher. Com a modelo Edna Velho, teve Raphael, quando ainda era casado com Danielle. Em outubro, chegou ao fim a união de 13 anos com Isabella. O motivo: novamente, sua infidelidade. Pela primeira vez, entretanto, Romário não está animado com a possibilidade de ter muitas mulheres. “Se me apaixonasse hoje, seria um cara fiel. Homem mesmo é aquele cara que conquista a esposa todos os dias. Mas como papai do céu é bom comigo, acredito que vou ter mais uma chance.” Durante quase três horas, o deputado recebeu Marie Claire em seu gabinete em Brasília. Em uma conversa franca, falou sem pudor sobre política, futebol, ambição, moda, vaidade, sexo e filhos. A entrevista na íntegra você lê na Marie Claire de junho, nas bancas a partir do dia 4.
MARIE CLAIRE Copa do Mundo, melhor jogador da FIFA, mais de mil gols. Por que entrou para a política se já era quase um herói?
ROMÁRIO Eu só tinha mesmo a perder. No futebol, cheguei ao topo. Quando entrei para a política me dei a oportunidade, negativamente falando, de jogar vários anos fora. Nunca pensei em ser político. Só que há oito anos tive uma filhinha, a Ivy, com síndrome de Down. Não há ninguém que represente essas pessoas, em nenhuma classe social. Aí pensei: “está na minha hora”. Já que deixei de jogar futebol, vou fazer algo por elas.
MC Por que acha que esperavam o pior de você?
R Tenho consciência que era meio babaca, antipático, arrogante... Estava me achando muito. Isso aconteceu por que atingi o sucesso muito cedo na minha vida. Mas as coisas passam. Não quero que leiam essa entrevista e pensem: “o Romário está bonzinho”. Não é nada disso. Continuo sendo um cara de personalidade. Só que hoje eu penso duas vezes para mandar alguém para aquele lugar. Mas eu vou mandar! Sou um cara normal. Gente boa, sangue bom, maneiro, mas continuo tendo meus defeitos – como todo mundo.
MC Por que você está em campanha pela saída do atual presidente da CBF?
R Quando o Ricardo Teixeira saiu (em março) e o (José Maria) Marin assumiu, achei que ele pudesse fazer diferença. Só que antes, a Seleção estava em quarto lugar no ranking da FIFA agora está em 19o. Nos últimos meses, os jornais disseram que o cara está envolvido direta e indiretamente com morte e a tortura de pessoas, na Ditadura, inclusive da presidenta Dilma. Aí tem a Copa das Confederações e ele senta do lado dela no Maracanã! Não dá. E também tem a história do roubo da medalha (durante a premiação da Copa São Paulo de Juniores, no ano passado, Marin afanou, em frente às câmeras, a medalha do goleiro Matheus Caldeira). É um ladrão! Ladrão não é só quem rouba banco, não. Esse cara não tem postura para ser presidente da CBF.
MC Você assumiria a CBF?
R Não. É grande a possibilidade de eu me candidatar de novo a deputado federal. Quem sabe, daqui a quatro anos eu não me arrisque? Hoje, ainda não.
MC Você acha que o Brasil tem chances de ganhar a Copa?
R Se a Copa fosse hoje, o Brasil não ganharia. A Copa das Confederações, também acho que não temos condições de ganhar. O que o Brasil joga hoje está muito distante do que precisa para ser campeão mundial.
MC Só você, além do Pelé, atingiu a marca de mil gols. Acredita que alguém baterá esse número?
R Não. Foram épocas e gerações diferentes. Hoje em dia é muito complicado. Não dá para fazer mil gols – não dá nem para fazer 400! Está difícil para aparecer o talento, a técnica. O futebol se tornou algo que envolve muito dinheiro. Para jogar, precisa correr, marcar, driblar...
MC Você costumava brigar muito em campo...
R E fora também. Hoje, vejo que eu era um babaca.
MC Você está solteiro desde o fim do ano passado?
R Estou solteiro, tranquilo, na minha desde outubro. Qualquer separação é complicada. Mas principalmente agora, que já é a terceira vez. Há momentos em que eu repenso... Foram 13 anos. A Isabella foi uma pessoa que respeitei muito, uma grande mãe. Mas fiz algumas coisas erradas que a magoaram.
MC Você foi infiel?
R Fui. Algo que, hoje eu vejo, foi um erro. Tive muito aquela fase de pegador. Homem mesmo é aquele cara que conquista a esposa todos os dias. É o que acredito agora. Na verdade, passou pela minha vida mais uma grande mulher (a Isabella). Mas como papai do céu é bom comigo, acredito que vou ter mais uma chance. Nunca acreditei em fidelidade, mas hoje acredito. Se me apaixonasse de novo, seria um cara fiel. Vai ser difícil pra caceta, mas, dependendo da pessoa, eu conseguiria.
*Confira a entrevista completa e exclusiva de Marie Claire com Romário em nossa edição de junho, nas bancas a partir do dia 4. Tem muito mais para ler!