Solange é da primeira geração de sua família a ter curso superior. Dedicada nos estudos, cursou bacharelado, mestrado e doutorado em física em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, caminho também seguido pelos irmãos. Dos quatro, três já têm títulos de doutor, o que levou a pequena Ivorá, sua cidade natal de apenas 2,2 mil habitantes, a ter a ostentar a inédita marca de 15 doutores na matéria.
Hoje professora-adjunta do Centro Universitário Franciscano (Unifra), Solange Fagan falou sobre sua trajetória na reunião que precedeu a entrega da 9ª edição do Para Mulheres na Ciência, prêmio promovido pela gigante de cosméticos L’Oreal, a Unesco e a Academia Brasileira de Ciências que oferece uma bolsa de estudos de 20 mil dólares ao trabalho de sete pesquisadoras nas áreas das ciências físicas, biomédicas, biológicas, químicas e matemáticas.
“Dedico boa parte do meu tempo a inspirar novas pesquisadoras nas escolas”, disse, orgulhosa, a gaúcha. Reunidas num hotel no Rio, antigas e novas bolsistas debateram sobre desafios comuns às mulheres que decidem abraçar a carreira, junto com estudantes, representantes das instituições que promovem o prêmio e jornalistas.
Também gaúcha e da primeira geração da família a chegar à universidade, a professora Márcia Barbosa, do Instituto de Física da UFRGS, chamou a atenção para o fato de que, há 10 anos, as mulheres são apenas 5% no topo da carreira em física. “Quando me perguntam: ‘Mas esposa de quem tu és?’ Já respondo: ‘Se isso for uma cantada, ela é muito ruim.’”, brincou a doutora, uma das cinco brasileiras já destacadas com a versão internacional do prêmio, ao falar sobre o ambiente predominantemente masculino.
Atentas às discussões, as sete novas bolsistas, escolhidas entre mais de 300 trabalhos inscritos, debateram sobre estes e outros desafios da carreira, como incentivar as novas gerações a se interessarem pelas ciências e como se destacar em suas áreas.
Nobel
É para promover mais equidade entre gêneros e fazer com que jovens pesquisadoras não desistam de suas carreiras que o prêmio foi criado, em 1998, como o primeiro dedicado às mulheres cientistas. Desde então, 82 delas, de diferentes continentes, já foram premiadas em cerimônia que acontece anualmente na França – entre as quais, duas que depois receberam o Prêmio Nobel.
Uma pesquisa internacional encomendada pela Fundação L’Oreal ao Boston Consulting Group mostra que, desde o final dos anos 90, a porcentagem de mulheres na pesquisa científica aumentou apenas 12%. O estudo também mostra que o número cai no avanço da carreira e entre posições de liderança: elas são 32% das graduadas em ciência, 30% nos cursos de mestrado e 25% nos de doutorado.
Nas versões regionais, o programa já incentivou mais de 2 mil mulheres de 115 países diferentes a darem continuidade a seus projetos. Este ano, as pesquisas premiadas envolvem questões tão complexas quanto a verificação da validade da Conjectura de Erdos-Faber-Lovász pela b-coloração de grafos de cintura alta, da matemática Ana Shirley Ferreira da Silva, da Universidade Federal do Ceará, ao planejamento e identificação de novos candidatos a fármacos e metalofármacos multialvo para Leishmaniose, da doutora em fármacos Carolina Horta Andrade, da Universidade Federal de Goiás –trabalho que também foi indicado ao inédito International Rising Talents.
“Nada é mais fascinante para uma empresa de beleza inovadora do que contribuir para que a ciência ganhe força pelas mãos das mulheres. As vencedoras desta edição são merecedoras de todo nosso reconhecimento e admiração. Seus relevantes estudos nas mais diferentes áreas de pesquisa propõem grandes avanços em prol da ciência”, discursou o presidente da L’Oréal Brasil, Didier Tisserand.