Deauville, na Normandia, é o balneário dos parisienses. É lá que a elite da capital francesa passa os verões em casas de veraneio e hotéis de luxo. Também foi lá que, em 1913, Coco Chanel – a estilista que responsável por tornar nosso guarda-roupa mais prático e funcional -- abriu sua primeira loja. Hoje, um século depois, mulheres do mundo todo se encontraram na pequena cidade costeira na semana passada para celebrar outro passo da nossa revolução feminista: o empreendedorismo feminino. Em um auditório lotado, seis empresárias inovadoras, uma de cada parte do mundo, tiveram seus projetos premiados na nona edição do Cartier Awards, uma celebração que reconhece, incentiva e apoia empresas criadas e lideradas por mulheres.
Primeira brasileira a trazer o troféu para o país, Bel Pesce foi a ganhadora da América Latina. Ela é autora do livro "A menina do Vale" e criadora da FazInova, uma startup cujos cursos se prestam a promover o empreendedorismo e a inovação no país. Bel, que estudou no conceituado MIT, na Califórnia, emocionou a plateia com seu discurso motivador. “Nunca aceito o não como resposta”, disse. A frase impressionou o presidente mundial da grife francesa, Stanislas de Quercize, que a repetia para os jornalistas após a premiação. “Ela tem uma energia surpreendente”, afirmou o jurado Daryn Fillis, CEO da fabricante de brinquedos Distroller, do México. “Ela é muito inteligente, fora da curva. E o projeto dela tem grande potencial de crescimento”, disse Sônia Hess, CEO da Dudalina e jurada representante do Brasil.
Ao todo, 1900 empreendedoras de todo o mundo se inscreveram na premiação. Desse total, 18 finalistas foram selecionadas por 29 jurados e uma equipe da escola de negócios francesa INSEAD. Entre elas estava a também brasileira Érika Foureaux, arquiteta e designer de Belo Horizonte, com a sua empresa The Products. A mineira criou e desenvolveu uma linha de produtos para crianças com deficiência que permitem que elas brinquem mais ou frequentem a escola comum.
A ideia surgiu de uma necessidade. Érika é mãe de Sofia, hoje adolescente, que é deficiente . Ao entrar em contato com esse universo, percebeu que o mobiliário adaptado para essas crianças é, em geral, pensado apenas para suas funções médicas. Por serem feios, acabam assustando e excluindo ainda mais essas crianças. Além de funcionais, os produtos (uma cadeira para crianças pequenas sentarem no chão com outros pequenos e uma certeira escolar adaptada) criados por Érika são feitos de carbono, mesmo material usado em brinquedos, o que os torna mais familiar para o público infantil.
A terceira finalista da América Latina foi Gabriela Diaz, da Argentina, que assim como Érica, criou um produto a partir de uma questão de saúde do filho. O jovem tem um problema no coração que faz com que ele tenha taqucardia que podem culminar em uma hiperventilação e desmaio. Ele só corre risco de vida se for medicado porque os ataques regridem sozinhos. O problema, segundo Gabriela, é que, dependendo da intensidade da crise, seu filho pode ficar inconsciente e não tem o tempo de dizer que não pode receber remédios para quem socorrê-lo. Para resolver essa situação, ela criou uma pulseira com os dizeres: “Em caso de emergência, ligue ou mande um SMS para XXX”.
Entre os projetos vencedores, havia uma empresa fabricante de órgãos artificiais dos Estados Unidos, a Transplant Without Donors, da jovem Eleni Antoniadou. “Além das barreiras tecnológicas, brigamos contra o preconceito e a ignorância com relação aos nossos produtos. É uma causa humanitária: fila de espera para transplantes é enorme, assim como o mercado negro de tráfico de órgãos”, disse.
A italiana Carla Delfino levou o troféu para sua casa em Roma graças a um produto criado por ela para afastar ratos sem matá-los. É um composto de óleos naturais que pode ser usado em casa e não é nocivo para pets nem crianças.
A nigeriana Achenyo Idachaba venceu o prêmio na categoria África com seu projeto que utiliza ervas abundantes no país para fabricação de bolsas e cestas. As folhas, que costumam poluir rios, são a matéria prima do produto. “Onde os outros veem problemas, enxerguei uma solução”, disse, emocionada, ao receber o troféu.
Mariam Hazem, do Egito, foi a vencedora da categoria Oriente Médio e norte da África com um projeto de reciclagem de sacolas plásticas. Por fim, as americanas Diana Jue & Jackie Stenson venceram com a Essmart Global, que leva tecnologia para lugares remotos na Índia.
Entre os projetos mais celebrados pelas próprias finalistas, mas que acabou não levando o troféu, é a fantástica fábrica de chocolates Hwanghu, de Jieun Chang, da Coréia do Sul. Ela desenvolveu uma fórmula de chocolate de baixa caloria que não é diet nem light. Feito a partir da fermentação do cacau, os bombons lembram trufas finas. São deliciosos. Que alguma alma iluminada importe essas delícias para o Brasil.