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Na Índia tomada pela violência contra a mulher, ONG promove discussão sobre igualdade de gênero entre jovens

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Adolescentes participam de oficina da Jagriti Youth, no norte da Índia: segundo fundadora, monitores apenas acompanham as discussões, intervindo o menos possível (Foto: Divulgação / Jagriti Youth)

“Todos os homens batem em suas esposas, um dia você vai fazer o mesmo, é isso que os homens fazem para serem viris.” A afirmação foi ouvida pelo indiano Sujan Singh, de 8 anos, da sua mãe e irmãs e compartilhada durante uma das oficinas da Jagriti Youth, organização não-governamental que atua com crianças de 10 a 21 anos no norte da Índia para promover a igualdade de gênero no país marcado pela violência doméstica.

A iniciativa começou em 2012 quando a educadora Rema Nanda, em com jovens da zona rural do norte indiano, uma das regiões mais vulneráveis do país, resolveu reunir 100 rapazes e moças solteiros para exercitar a liderança e tomarem para si o poder de decisão sobre assuntos que afetariam de maneira irreversível seus destinos.

“É quase como se eles vivessem no piloto automático para repetir a vida dos pais. Jovens solteiros dos 10 aos 24 anos são o grupo que precisa quebrar esse ciclo de casamento forçado na adolescência e adiar a formação de uma família até que possam sustentar os próprios filhos. Especialmente nos estados do Norte, muitos não têm qualquer consciência sobre métodos contraceptivos e um dia é tarde demais – eles estão casados e se tornam pais quando ainda são crianças”, diz Nanda, que atua há anos no país como assessora sênior do Asia Advisory Group.

Em entrevista a Marie Claire, ela conta que a decisão de trabalhar diretamente com os jovens aconteceu após uma provocação da adolescente Pooja, de 16 anos: “Por que os adultos não colocam os jovens à frente dos trabalhos? Talvez porque vocês todos estão com medo”, fustigou a indiana. Do arcebispo Desmond Tutu, Nobel da Paz, Nanda diz ter ouvido que “se os jovens estão prontos para fazer essa mudança em uma geração, então você deve fazer sua parte”.

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Meninas participam de atividade na Jagriti Youth: de acordo com a ONG, 16% das adolescentes se tornam mães entre os 15 e 19 anos (Foto: Divulgação / Jagriti Youth)

AGRESSORES X VÍTIMAS
Nas oficinas, sempre com fila de espera para inscrições, monitores, todos jovens, apenas acompanham as discussões, intervindo o menos possível. A proposta, diz a educadora pós-graduada em Harvard, é ir além do rótulo predominante de que todos os homens são agressores e todas as mulheres são vítimas e possibilitar aos participantes descobrir a origem da discriminação e violência a que são expostos, definindo os meios de não perpetuá-las.

“Eu realmente não quero bater em mulheres, ou ameaçá-las, mas não posso dizer isso se não vou ser muito gozado”
Adolescente participante de oficina da ONG

Em um artigo para o diário inglês “The Guardian”, Nanda descreveu uma discussão comum nos encontros: “Eu realmente não quero bater em mulheres, ou ameaçá-las, mas não posso dizer isso se não vou ser muito gozado”, disse outro participante. “É uma desculpa esfarrapada. Você acha que é divertido? Vocês estão acabando com nossas vidas, nossos sonhos e direitos”, respondeu a pequena Rita Kumari.

A fundadora da ONG diz que a pedagogia do diálogo livre encoraja a liderança e permite que meninos e meninas entendam que podem fazer suas próprias escolhas. “Na Jagriti propomos aos participantes a defender suas próprias posições, seja ela qual for. Então, quando alguém defende a violência, dizendo algo como “É aceitável bater em garotas”, o grupo tem a fantástica oportunidade de desconstruir esse discurso questionando: “Por que?” É nesse processo de questionar e negar que começamos a ver a mudança.”

Uma das turmas de jovens que receberam o certificado de conclusão da oficina de liderança: proposta é que se tornem multiplicadores dos conteúdos em suas comunidades (Foto: Divulgação / Jagriti Youth)

BOLLYWOOD
Desconfiados a princípio, Nanda afirma que os adolescentes têm mais dúvidas que certezas ao procurar as oficinas. Ela critica os modelos de mulheres popularizados na mídia indiana que, acredita, só confundem ainda mais os jovens ao reforçar estigmas. “Que exemplo eles vão seguir? Bollywood?”, questiona, citando a poderosa indústria cinematográfica local. “Os jovens estão constantemente filtrando realidade do entretenimento.”

Em meio à epidemia de casos de violência contra a mulher no país -54% dos homens acham aceitável bater em mulheres, de acordo com relatório do Unicef de 2012-, a educadora acredita que em dez anos a Índia se transformará num lugar seguro para mulheres e meninas em que cidadãos de ambos os sexos defenderão o direito de viver sem medo.

O ativismo social combinado com ações mais responsáveis do governo já estão mudando a sociedade indiana e estou otimista de que o progresso social da Índia irá se equiparar ao seu progresso econômico.”


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