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No interior de SP, enfermeira e ex-boia-fria conta como salvou vidas de bicicleta e com maca portátil

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CREUZA DE MORAES SAURE VISITAVA MORADORAS DE BARRETOS USANDO BICICLETA (Foto: DIVULGAÇÃO)

Nascida em Goiás, a enfermeira do Hospital do Câncer de Barretos, Creuza de Moraes Saure, 50, comemora em 2014 vinte anos trabalhando na prevenção da doença em mulheres de baixa renda no estado de São Paulo. O início de suas atividades, hoje consolidada também em outros estados do Brasil, contava apenas com uma bicicleta e uma maca portátil.

"A gente queria diminuir o número de casos de câncer avançado no hospital. Um médico desenvolveu a maca, eu a coloquei na bicicleta e fui até a porta das mulheres [realizar o teste de papanicolau]", contou à Marie Claire.

De casa em casa na região periférica de Barretos (SP), Saure ia esclarecendo as dúvidas das moradoras e também dos maridos, que não entendiam bem a necessidade do exame.  "Foi um início muito trabalhoso. Já cheguei a pensar que era impossível, mas aos poucos conseguimos fazê-los entender".

DEPARTAMENTO DE PREVENÇÃO COMEÇOU APENAS COM UMA BICICLETA E UMA MACA MÓVEL (Foto: DIVULGAÇÃO)

Saure persuadiu mais de 1700 mulheres a se submeterem ao exame, que salvou muitas vidas. A enfermeira lembrou que uma de suas pacientes cedeu somente depois de muita insistência. "Acho que aceitou para não ver mais a minha cara", disse.

Ela contou que a paulista morava em um clube da cidade, no qual o marido era responsável pela limpeza. "Fui à casa dela umas seis vezes até que fez o exame. Tinha câncer de colo de útero", afirmou. A mulher, depois de receber a notícia, fez a cirurgia para remover o tumor e ficou curada. "Hoje ela diz para mim: 'se estou aqui vendo meus netos é graças a insistência que você teve'."

Foram quatro anos carregando a maca na bicicleta para visitar parte da população de Barretos, fato que a transformou em uma das responsáveis pela criação do serviço de prevenção do hospital, um dos mais reconhecidos na área.

"Há 20 anos não tinha nada, tudo era guardado na minha casa. Hoje temos um departamento", contou.

VIDA NA ROÇA
Ex-boia-fria, a goiana começou a trabalhar aos 12 anos na roça depois do falecimento do pai. Sua mãe trabalhou por dois anos para sustentar os filhos, mas logo adoeceu. "Trabalhei na lavoura, não tinha outra opção".

Por razões familiares, ela se mudou para São Paulo e continuou com o trabalho no campo até que, aos 24 anos, surgiu a oportunidade de estudar para ser atendente de enfermagem, curso extinto pouco tempo depois.

"Não queria aquela vida para meus filhos. Comecei a estudar e fui me aprimorar", disse. Saure se formou como técnica em enfermagem aos 37 e agora, aos 50, concluiu a faculdade e se tornou enfermeira.

"Tive ajuda do hospital e hoje estou formada. Nunca é tarde para dar um passo na vida", concluiu.


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