ATA-ME, POR FAVOR!
Sempre me encantei pelo erotismo das fotos de Bettie Page, especialmente aquelas em que a pin-up aparece com pés no salto agulha presos por cordas. Arrebatamento igual sentia ao me deparar com uma imagem da heroína Valentina nua e amarrada, em aventuras sexuais nos quadrinhos do italiano Guido Crepax. Antes de fazer esta reportagem, eu ainda não sabia, mas aquele meu fetiche tinha nome específico: shibari.
Nessa versão japonesa do bondage, apenas cordas são permitidas para imobilizar a “vítima” – nada de algemas, coleiras ou correntes. Sua beleza está em produzir laços simétricos e nós que formem desenhos harmoniosos. “A corda entrelaçada no corpo nu de uma mulher, para mim, é tão excitante quanto uma lingerie”, me explicou Edward Toshi-san, um administrador de empresas de 41 anos que se tornou “shibarista” de tanto pesquisar sobre o tema em grupos de BDSM (bondage, dominação, sadismo e masoquismo). Sim, esse termo existe e virou uma espécie de segunda profissão para ele.
Toshi amarra garotas em festas fetichistas e também dá aulas para grupos, cobrando R$ 50 por pessoa. Após uma conversa por telefone, veio até mim para uma sessão particular. “O shibari turbina as preliminares. Quem está imobilizado pode ser estimulado com carícias, até ficar hipersensível para a penetração.” Esse #ficaadica do Toshi foi dito com uma timidez que destoava do conteúdo da conversa. “Por ser oriental, sempre fui retraído. Só tive a primeira namorada há três anos e por causa do shibari”, confessou.
E que namorada! Em uma balada sadomasô, ele conheceu a farmacêutica Jéssica Notário, 31, um mulherão de 1,75 m e olhos puxados estilo Sabrina Sato. “Também sei um pouco do shibari, mas prefiro ser amarrada. Me sinto sexy com as cordas ressaltando meus seios”, contou. Jéssica seria a cobaia pedagógica em minha estreia naquela amarração, capaz de trazer – ou melhor, prender – seu amor em até sete minutos, horas, dias...
O modelo de imobilização em que fui introduzida é chamado takate kote (que deixa braços dobrados presos nas costas). É o tipo mais conhecido de shibari e na internet é possível encontrar centenas de vídeos tutoriais. Tentei acompanhar as complexas etapas do processo e só conseguia pensar que seria impossível repetir aquilo: um balé de cordas dando rodopios por pulsos, subindo por braço e ombros até cruzar entre os seios da Sabrina masoquista.
Depois de prendê-la de bruços, Toshi começou a desatá-la, agilmente. Comentei que demoraria horas para desfazer aquilo. O mestre prontamente respondeu: “Então, quando você amarrar seu parceiro, tenha uma tesoura de ponta redonda à mão. Ser imobilizado mexe com o subconsciente, ele pode sofrer uma crise de pânico”. Achei um exagero, até que Toshi propôs que eu fosse amarrada. Sem dar muita bola, ofereci meus pulsos. A sensação dos nós pesados paralisando meus movimentos foi aflitiva. Descobri que ser amarrada, sem chance de escapatória, é para os fortes.
Por outro lado, confesso que gostei de imobilizar Jéssica. Sob a orientação de Toshi, atei seus punhos com a amarração mais simples. Foram dez minutos de trabalho árduo em que me achei vilã de desenho animado, prendendo a donzela nos trilhos do trem. Certamente com meu marido a emoção seria bem diferente. Tentei então me lembrar onde ficava a loja de material de construção mais próxima para providenciar minha corda...
ORAL PARA INICIADAS
Quando eu era uma mocinha solteira e não sabia nada da vida, me divertia com as confissões de uma amiga casada que vivia garimpando novidades em sex shops. Ela dizia que, depois de cinco anos de casamento, as coisas na cama esfriam mesmo. “Antes que vire uma Sibéria, vou à luta, meu bem!”, afirmava, como um bordão, ao me mostrar uma nova aquisição erótica. Ao entrar pela primeira vez na Constantine, uma sex shop de luxo em São Paulo, lembrei dessa amiga. E me dei conta de que, como ela naquela época, tenho o mesmo parceiro há cinco anos e hoje sei que soprar ventos siberianos para longe da vida sexual é uma batalha constante.
Por isso fui sem preconceitos fazer o curso Segredos do Sexo, sucesso entre as clientes da Constantine. A psicóloga Luciana Keller, 43, é a autora do workshop que se propõe a ensinar técnicas para uma relação oral e anal de categoria. Ou “que levará seu homem ao êxtase”. Duvidei que alguém pudesse se tornar uma sex machine ouvindo uma palestra de três horas (R$ 250). Mas segui convicta de que pelo menos algo novo eu aprenderia.
Sentei em uma das cadeiras forradas com veludo de oncinha da sala de aula, onde ao fundo, cobrindo toda a parede, havia a foto de uma loira seminua com cara de atriz pornô, que olhava sacana, como quem diz: “Sou muito melhor de cama que você, queridinha!”. Na mesa da professora estavam um pênis de borracha de proporções generosas e um colar tailandês – objeto que seria protagonista de uma das “novidades” que eu descobriria.
“A pele fininha na parte inferior da glande é o frênulo, área sensível do pênis”, começou Luciana, com o órgão emborrachado em mãos. “Quando lubrificado e estimulado com a língua, você não imagina a loucura que é.” Essa eu já sabia, professora. Engula essa, loira aí na parede!
E por falar em engolir (ou não), o tal tabu também foi debatido. Em tom desafiador, fui intimada: “O que você faz quando seu parceiro está prestes a ejacular no sexo oral?”. Fiquei constrangida e desviei o olhar. “Cuspir está fora de cogitação”, prosseguiu Luciana, sem expectativa de que eu abrisse minha intimidade. “Seu parceiro é saudável? Não tenha nojo, engula! Sofre náuseas por causa do gosto? Tente posicionar o pênis até o fundo da boca quando ele estiver quase gozando. Assim, o esperma escorrerá direto pela garganta.” Lição entendida? Hora da penetração anal.
“Só é dolorido quando há seguidas tentativas de coito”, garantiu Luciana, sacando o colar tailandês: um cordão com cinco bolinhas e uma alça na base. “Que tal introduzir esse amiguinho na relação? Nas preliminares, ele ajudará no relaxamento do ânus com um benefício extra: no coito vaginal, a fricção do pênis contra as bolinhas levará seu amado ao êxtase.” Olha a novidade aí, gente!
STRIPTEASE PROFISSIONAL
Pioneira em cursos de sedução no Brasil, Sabah Baruk dá aulas há 20 anos em um estúdio de dança em São Paulo. Na variada grade da ex-professora de dança do ventre, há “disciplinas” como massagem tailandesa e striptease. Escolhi a que reunia um pouco de várias categorias e é autoexplicativa: Mulher Irresistível (R$ 200, quatro horas). Sabah abriu a aula para mim e mais cinco garotas entre 20 e 30 anos, casadas e solteiras, com uma longa dissertação sobre pompoarismo. “Com essa técnica oriental é possível massagear o pênis usando os músculos da vagina na penetração.” Entre os benefícios, prosseguiu a professora, está o poder de “controlar” o orgasmo masculino, evitando uma ejaculação precoce (oba!), e até cortar um pepino usando a força do canal vaginal (não, obrigada).
“Mulheres que desenvolvem essa habilidade conseguem ter orgasmos de até 25 segundos. Eu mesma já tive ejaculações de 200 ml”, garantiu a professora. Quase tive uma crise de riso ao me indagar: “Será que ela colocou o líquido em um copo medidor para saber que gozou uma embalagem inteira de Toddynho?”. Mas a situação ficou mesmo engraçada quando iniciamos os exercícios de pompoar. Quem entrasse ali veria seis mulheres silenciosas caminhando pelo salão – mas estávamos contraindo nossas vaginas, em ritmo intervalado. “Meninas, pompoarismo não é como academia, onde vocês podem faltar de vez em quando. Façam a lição de casa todos os dias, hein?”, recomendou a professora.
Na segunda parte do curso, Sabah ligou o aparelho de som e colocou a música “I’m Slave 4 U”, da Britney Spears. “Hora do lap dance, mulherada!”, anunciou. Criada nos clubes de striptease de Nova York, a “dança do colo” reúne uma série de movimentos sensuais, com os quais a dançarina esfrega seu corpo nu – ou apenas de calcinha – no homem, que não pode sequer tocá-la.
Em nossa aula, repetimos os passos em cima de cadeiras vazias. Entre instruções como “use apenas um salto alto” e “não tenha vergonha do seu corpão!”, Sabah exibia o molejo dos quadris de quem por anos trabalhou com dança do ventre. Já eu tive grande dificuldade em acompanhá¬la (e uma baita dor nas costas no dia seguinte), especialmente quando ela propunha estripulias como “apoie as coxas no encosto da cadeira, jogando sensualmente a cabeça e os braços para o chão”. Uma de minhas colegas caiu da cadeira de pernas para o ar. Acredite, não foi nada sexy.
COMO FISGAR UM MARIDO
No livro O Segredo das Mulheres Apaixonantes (Novo Século, R$ 30, 168 págs.), o autor Eduardo Nunes lança pérolas como “crie uma camisinha sentimental antes de se apaixonar” e “tenha outros himens, caso já tenha abdicado do seu”. Lançado em 2007 e já na quarta edição, o manual de autoajuda amorosa originou um curso homônimo, que promete ensinar às mulheres “estratégias para vencer a batalha do amor”. E, acredite, é sucesso mesmo com o preço salgado: R$ 2 mil.
Apesar de estar fora de combate há algum tempo, fui conferir as tais táticas de guerrilha do comandante Nunes. “Antes de agarrar seu homem, vocês terão dois tipos de adversárias: as garotas de 20, que são gatinhas loucas para dar, e as de 30, com os mesmos atributos que vocês”, começou ele, em um tom imperativo, tipo capitão Nascimento. “Para uma rir, três terão que chorar.” Péssimo começo... Detesto esse discurso machista que coloca mulheres como rivais só para nos subjugar. “Com quantos absurdos serei torturada nas próximas horas?”, pensei, já impaciente.
Dividi a aula com uma executiva do mercado financeiro, uma advogada e uma produtora de eventos. Todas solteiras, bonitas e em torno dos 35. Em um momento “hora do recreio”, quando tomávamos um café, elas justificaram a presença ali: “Falta de homem no mercado, uma ajudinha extra nunca é demais”.
As teorias de Nunes – um especialista em life coaching (espécie de “orientador” da vida pessoal) – eram acompanhadas por fotos de celebridades, que exemplificavam o “certo” e o “errado” na conduta amorosa. Da ex-garota de programa Bruna Surfistinha à chanceler Angela Merkel, todas foram alvo de nossas análises. Uma imagem da chefe de Estado alemã usando um vestido com um decote vertiginoso abriu o debate. Quando eu e minhas colegas concordamos que tanta pele à mostra não era adequada para uma mulher que ocupa tal posto, Nunes nos rechaçou. “Ela está um tesão! Vestiuse assim para o marido e dane-se o resto do mundo.” Ok, vá lá...
Em meio àquele emaranhado de frases de efeito, me reconheci em um exemplo dado pelo coach, dos tempos em que estava “na pista”. “Vocês saem para paquerar em um barzinho, mas chegam lá e bancam as difíceis. Não dão bola para ninguém, ficam só jogando os cabelos para os lados”, descreveu. “Então, às 2 da manhã, bate a ‘hora do estresse’. Vocês percebem que ficaram sem ninguém e aceitam a cantada do primeiro panaca que aparece.” Quem nunca? No curso de Nunes e nos outros que frequentei, não nego que me diverti e até aprendi coisinhas novas. Mas concluí que esse papo de “enlouqueça seu homem na cama” fica só na teoria se a mulher não está segura de si, se o homem não tem pegada e se falta sintonia entre o casal. Quando essa equação fecha, até uma rapidinha estilo papai-mamãe é capaz de disparar fogos de artifício.