Na trama escrita pela canadense Ruth Ozeki, as personagens centrais são duas mulheres que nunca se encontram, mas se conectam profundamente quando o diário de uma é levado pela maré até os pés da outra. Nao, a adolescente de 16 anos que o escreve, vive em Tóquio e quer se matar. Ruth, a escritora que o encontra, vive numa ilha do Canadá e se torna rapidamente obcecada pelo destino da garota. Assim começa A Terra Inteira e o Céu Infinito (Casa da Palavra), o terceiro romance da escritora, que foi indicada por ele ao Man Booker Prize, o mais importante prêmio literário do mundo. A mistura de filosofia com a trama atual e dramática é um dos pontos mais interessantes da obra da escritora, que foi ordenada monja zen em 2010 e dá aulas sobre o assunto na School of Life (cadeia de escolas especializadas em aprimoramento pessoal), do filósofo Alain de Botton.
Marie Claire: Uma das principais personagens do livro, Nao, sofre muito na adolescência, a ponto de pensar em suicídio. Você também passou por isso?
Ruth Ozeki: Sim. Eu sou metade japonesa e metade caucasiana. Cresci nos Estados Unidos e nunca me encaixei. Na adolescência, me senti excluída até conhecer outros jovens escritores. Hoje, agradeço por esses sentimentos. Artistas estão sempre nas margens, que é onde você pode observar.
MC: Para você, qual a lição mais importante do zen budismo no livro?
RO: A de que o tempo é uma construção mental. Passado e futuro não existem. O único momento que realmente existe é o agora.
MC: O que você ensina a seus alunos nas aulas que dá na School of Life?
RO: Cultive a paciência! Parece uma virtude antiquada, mas não é. Tudo na nossa cultura de consumo foca na gratificação imediata, e muitas empresas estão enriquecendo ao nos convencer de que deveríamos ter tudo o que queremos agora. É por isso que praticar a paciência é um ato radical e subversivo, quase um protesto.
MC: O que acha mais fantástico na cultura japonesa de hoje?
RO: Amo o jeito como ela comprime o tempo. Tóquio é surreal e futurística, mas se você vai ao interior do Japão se sente viajando ao passado. Na cultura japonesa, o novo e o velho estão intimamente conectados e sempre visíveis. Às vezes, é como se houvesse fantasmas entre nós.