A primeira vez que Carmen Carrera se sentiu à vontade com seu próprio corpo, tinha quase 20 anos e estava em um clube de drag queens, em Manhattan. Naquela época, a norte-americana nascida em Nova Jersey e batizada de Christopher Roman já tinha um ex-namorado no currículo e a noção de que era gay. Mas foi somente quando colocou os olhos nos homens vestidos com glamourosas roupas de mulher fazendo performances no palco do famoso Escuelita, no número 301 da West 39th, em Nova York, é que teve certeza: queria mesmo era ser um deles.
Inspirada por artistas da casa, adotou o nome de Carmen Carrera. Suas interpretações de hits da cantora Toni Braxton, como “Unbreak My Heart”, fizeram tanto sucesso que logo Carmen foi colocada para ser a estrela do sábado, dia da semana com maior público. Ela não sabia, mas a fama estava apenas no começo.
Em 2010, aos 25 anos, Carmen se inscreveu e foi selecionada para participar do reality show RuPaul's Drag Race, programa que elege a melhor drag queen dos Estados Unidos. Apesar de não chegar até a final, disputou a atenção com a vencedora graças a sua sensualidade e talento no palco: ganhou mais de 66 mil seguidores no Twitter, 90 mil no Instagram e 215 mil no Facebook, sem contar as menções em programas de TV, rádio, jornais, revistas e sites. Mas Carmen queria mais. Ela queria um corpo feminino. Então, assim que as gravações do programa terminaram, consultou um médico e passou a tomar hormônios. Em 2012, fez cirurgia no nariz e colocou próteses nos seios. Nunca revelou se optou também por fazer a operação de mudança de sexo. O fato é que Carmen finalmente havia se transformando em uma mulher.
Em 2013, foi convidada para participar de um ensaio na W Magazine, uma das mais conceituadas revistas de moda norte-americanas. No mesmo ano, subiu de biquíni na passarela do estilista californiano Marco Morante, queridinho de celebridades como Selena Gomez, Katy Perry e Fergie, durante a LA Fashion Week. A participação na semana de moda levou um grupo de fãs a iniciar uma campanha online para que Carmen fizesse parte do estrelado casting do Victoria´s Secret Fashio Show. A petição reuniu mais de 47 mil assinaturas, mas a marca não se pronunciou a respeito. Carmen já anunciou para a imprensa que participará das audições no fim deste ano. "Não importa o quão insegura eu posso ser, não importa o quão pouco bonita eu posso me sentir, existem pessoas que me ajudam a ser forte, então preciso seguir em frente e provar para as outras o quanto estão erradas”, disse em entrevista para a o site do canal CNN.
Carmen Carrera não é a única modelo transexual a atuar no mundo da moda, mas o fato de não ter sido chamda para participar do desfile de lingerie mais famoso do globo colocou novamente em voga a demora da indústria em abraçar a diversidade com mais generosidade. Hoje, a top é representada pela Elite Model Management, uma das principais agências de modelos do mundo. Além de estampar capas de revista e participar de ensaios fashion, atua ao lado de Laverne Cox, atriz transexual conhecida por seu papel no seriado “Orange is the New Black”, como porta-voz da comunidade LGBT na mídia. Ela também já é nome certo no documentário “Transamerica”, co-produzido por Tyra Banks e que acompanhará a realidade de mulheres transexuais. O filme deverá ser lançado na TV norte-americana em 2015. Ao que tudo indica, ainda é pouco para o talento, a beleza e a vontade de Carmen em chegar ao topo.