Sabe aquela sua amiga que vive bradando por aí que jamais irá se casar? Mônica Martelli não acredita nela: "Fui criada por uma feminista. A vida inteira ouvi falar mal de homem e casamento. Não adianta, amor é amor, ninguém vive sem”, disse a atriz durante uma conversa exclusiva com Marie Claire.
Há nove anos Mônica está em cartaz como Fernanda em “Os Homens são de Marte...E é para Lá que Eu Vou”. A peça mostra as aventuras e desilusões de uma mulher de 39 anos em busca do homem perfeito, tudo baseado nas experiências da própria atriz. O sucesso no teatro levou Fernanda – e um pouco da biografia amorosa de Mônica – para o cinema. O filme homônimo da peça acaba de estrear em todo o Brasil e foi durante uma sessão com a imprensa que a atriz falou com muito bom-humor o sobre comportamento feminino nas relações.
Marie Claire: Muitas mulheres se identificam com a Fernanda, seja porque também estão em busca de um relacionamento sólido, seja porque, nessa busca, são obrigadas a conviver com homens que somem, inventam desculpas. Você acha que relacionamentos são repetições de comportamentos femininos e masculinos?
Mônica Martelli: Acho que as nossas sensações é que são as mesmas. Sentir tristeza quando o cara não liga, ficar ansioso com um possível novo relacionamento ou até sentir medo de não encontrar um amor, tudo isso transcende época, idade, país, gênero, preferência sexual. Eu não tive pudor de colocar na peça e no filme esse desejo que a gente tem de viver o amor. Muita gente me fala que a mulher de hoje, que trabalha, não sente tanto essa vontade. Isso não existe! A mulher moderna também quer beijar na boca, ter prazer, gozar e dormir juntinho. Por isso a identificação é tão grande.
M.C.: No filme, após tomar um bolo, Fernanda ouve da amiga que “mulher independente assusta”. Você acha que isso é só uma desculpa mesmo ou os homens ainda têm medo?
M.M.: Amiga, quando quer passar uma força, fala essas coisas, né!? Que a gente é maravilhosa, que a gente assusta. Quando ela diz: “ele não era homem suficiente pra você”, aí ferrou! Você sabe que tá na pior! (risos) Mas acho que rola mesmo, que ainda assusta um pouco, porque homem é inseguro. Ele gosta que a gente precise dele. E quando não precisamos, temos que fingir um pouco. No entanto, acho que há esperança no fim desse túnel, porque essa mulher do passado, que só fica em casa, cuidando dos filhos, eles também não querem, não admiram. Todo processo de mudança leva um tempo. Estamos em meio a um belo processo.
M.C.: Qual é a sua explicação para ter tanta mulher de 30, 40 anos, solteira?
M.M.: Eu fico chocada! Estou há nove anos em cartaz lotando teatro com essa mulher solteira. Acho que são vários os fatores. Eu, por exemplo, ouvi muito dentro da minha casa que era para eu trabalhar e ser solteira. O casamento, esse encontro amoroso, ficou uma coisa menor, passou a ocupar um espaço muito menor do que a carreira, por exemplo. Acho também que temos padrões de comportamento que são difíceis de quebrar. Às vezes, ficamos fixadas em um tipo de homem e não olhamos em volta, não vemos as outras possibilidades. Quando estamos na expectativa de ter uma relação, a gente se coloca muito no lugar da escolhida. E é a gente quem deve escolher!
M.C.: Já sentiu preconceito de outras mulheres por falar abertamente desse desejo de casar?
M.M.: Muito! Algumas pessoas já me disseram, inclusive, que sou machista. E não tem a menor possibilidade de eu ser assim, porque sou uma filha de uma feminista! A verdade é a seguinte: todas as mulheres que falam que casar é uma bobagem, eu não acredito. E quando digo casar, não estou falando de entrar na igreja de véu e grinalda, estou me referindo a um encontro amoroso. Quando ouço isso, brinco: “Olha, essa fase passa rápido! Já passei por ela e agora estou na merda!” (risos).
M.C.: Todos os meses as livrarias oferecem novos títulos de autoajuda para solteiras, com dicas para conseguir o marido perfeito, para sair da solteirice. Em algum momento da vida você apelou para isso?
M.M.: Não, porque não existe regra, né!? O que eu procurei foram diversos caminhos espirituais, da umbanda ao budismo, porque teve uma hora que achei que não ia encontrar mais ninguém. Ainda mais depois que um amigo meu disse que soube que não é todo mundo que encontra o verdadeiro amor nessa vida. Eu tinha certeza que fazia parte desse grupo! (risos) Hoje, acho que todo mundo encontra. Sou uma pessoa otimista, sempre acho que vai dar certo, mesmo quando sofro. Existe um medo natural, é claro, ainda mais depois de tantas “dificuldades”. Mas não tem outra forma de tentar ver se o amor vai dar certo, se a gente não se jogar.