Filha do ex-jogador de futebol e tetracampeão do mundo, Bebeto, Stéphannie Oliveira decidiu colocar a carreira de modelo um pouco de lado para dedicar a maior parte de seu tempo em projetos sociais. No fim de maio, ela lançará a Awana Brasil, grife de bolsas feitas de papel reciclado, confeccionadas por mulheres do Lixão de Gramacho, em Duque de Caxias (RJ). A coleção será vendida em lojas especializadas e na internet. "Vi que as mulheres quase não tinham opções. Essa é uma chance de elas poderem sonhar e realizar esses sonhos", disse Stéphannie em entrevista exclusiva para Marie Claire.
Durante a conversa, Stéphannie, que é evangélica, falou sobre o trabalho de missionária, a mudança de vida após visitar comunidades no Amazonas, África e Índia, sua relação com Deus e como lida com o estereótipo de "filha de jogador de futebol".
Marie Claire: Há quanto tempo trabalha com comunidades carentes?
Stéphannie Oliveira: faço projetos sociais minha vida inteira. Há seis anos e meio conheci um casal da minha igreja que me levou para conhecer o Lixão de Gramacho. Lá vi miséria de verdade e comecei a dedicar a maior parte do meu tempo para os moradores. Depois de um ano e meio, esse mesmo casal me convidou para conhecer um Ministério na África. Fiquei três meses e meio lá, comendo arroz e feijão, passando perrengue e ajudando as pessoas. Voltei completamente diferente, minha visão de vida mudou. Minha mãe e meu pai ficaram muito preocupados.
M.C.: Mudou como?
S.O.: É surreal, a sociedade impõe que só porque sou alta e magra, devo ser modelo. Ou só porque sou comunicativa, devo ser atriz. E, do nada, larguei tudo para cuidar de criança e limpar cocô. Um pastor na África, uma vez, me disse que eu ainda ia escutar muito as pessoas me chamando de louca. E eu disse pra ele que já me chamavam, incluindo minha família (risos). Nunca fui só modelo, estudei bastante, tenho diploma e poderia trabalhar com qualquer coisa. Mas a minha opção é essa. Minha relação com Deus não é religião, não sei explicar. Sei que Ele me botou no mundo para amar as pessoas e nadar contra a maré. Não quero ser famosa, se quisesse, já teria posado pelada.
M.C.: Recebeu alguma proposta para posar nua?
S.O.: Não sei, porque avisei a agência que se chegasse qualquer convite desse tipo, eu não iria fazer. Algumas pessoas falaram que eu era uma boboca, que eu poderia comprar um apartamento. Prefiro ficar pobre e morar na rua. Não tenho nada contra, ninguém tem que julgar, mas aqui no Brasil já carrego esse estereótipo de filha do Bebeto, filha de jogador de futebol, quer posar pelada, quer ser famosa. Tenho trauma disso (risos). Quando voltei da África, queriam que eu desse um monte de entrevistas para falar da experiência, queriam até que eu fizesse um ensaio no lixão. Nunca!
M.C.: E como começou o trabalho com as bolsas?
S.O.: Faz, mais ou menos, um ano e meio. Eu tinha voltado da África quando disse para a minha mãe que queria criar uma marca, para colocar as mulheres do Lixão para trabalhar nela. Na mesma semana, a Petruska, que hoje é uma das minhas sócias, me procurou porque viu minhas fotos no Instagram. Depois chegou a Noemi, que é quem sabe a técnica de confecção das bolsas com papel reciclado. Encaixou tudo! Levei as duas na comunidade, as apresentei e testamos quem iria mesmo gostar de fazer parte do projeto. Selecionamos apenas cinco meninas, porque agora no começo sai tudo do nosso bolso, então não dá para ampliar muito. Deixei claro que a ideia é transformá-las em profissionais, que possam trabalhar em outros lugares depois. O objetivo é permitir que elas voltem a sonhar e que realizem seus sonhos. Elas ficaram animadas quando disse que amigas minhas, como a Bruna Marquezine, poderão usar as peças por aí.
M.C.: Elas recebem algum tipo de pagamento?
S.O.: Sim, cada tira de papel reciclado que elas fazem tem um preço e elas recebem por isso. Também damos cesta básica, medicamentos que precisam e vamos começar a pagar plano de saúde, além de uma porcentagem sob a venda das bolsas. É claro que elas têm que aceitar algumas condições, como, por exemplo, não usar drogas, um problema grave lá no Lixão. Elas também têm que ter a cartilha do microempreendedor indivisual como artesãs da Awana, que dá direito a salário maternidade, auxílio doença, aposentadoria por invalidez, por idade e pensão por morte. O trabalho está incorporado na rotina delas e das famílias. É muito legal, estamos todas muito animadas.
M.C.: E a carreira de modelo? Desistiu?
S.O.: Não é mais uma prioridade. Antes sim, porque minha vida era isso. Comecei aos 14 anos, no susto. Eu era feia pra caramba, não sei o que aconteceu. Só tinha joelho, cabelo e boca! Um amigo do meu pai que falou que eu deveria modelar e me levaram num booker. Um mês e meio depois eu já estava em Milão, trabalhando. Não encerrei a carreira, ainda faço uma coisa ou outra.
M.C. Quais são seus próximos projetos?
S.O.: Pretendo estudar cinema. Só Deus transforma, mas existem vários instrumentos para chegar até as pessoas e ajudar. Quero ter uma organização que tenha uma escola de música, de cinema. Tudo o que eu puder aprender para passar para as crianças, vou fazer. Quero levar esse modelo de projeto das bolsas para outros lugares. Quanto mais pessoas souberem do amor de Deus, melhor.