Depois do sucesso em “Avenida Brasil”, Juliano Cazarré se tornou conhecido do grande público. No entanto, ele não é apenas um (bom) ator que roubou a cena como Adauto. Cazarré tem no currículo mais de 15 trabalhos no cinema e 11 na televisão. O próximo desafio é viver um dos protagonistas de “Amor à Vida”, nova novela das nove, de Walcyr Carrasco. “Espero que o Ninho seja um personagem marcante porque vai ser minha chance de mostrar um outro lado, já que Adauto tinha a pegada cômica muito forte”.
Se ele se preocupa em manter a fama conquistada com Adauto? A resposta é ponderada.“Quero fazer personagens interessantes. Meu sonho não é com o reconhecimento, mas com o trabalho em si. Quero estar envolvido com projetos que me empolguem, que me desafiem”, disse com exclusividade à Marie Claire.
ADAUTO OU NINHO?
Quando vai construir um personagem, o ator sempre busca pontos de contato entre eles e sua personalidade. “Aprendo com os personagens, pegando coisas deles para mim”. Sobre Ninho, seu personagem em “Amor à Vida”, ele lista as semelhanças: "Gosto de viajar, de estar ao ar livre e de ter contato com a natureza. Prezo muito a liberdade individual”, diz. “Também me identifico com vários pontos do Rastafarianismo, justiça social, paz no mundo, igualdade racial, liberdade de pensamento, de ação, amor ao próximo e, lógico, amo reggae. A diferença é que o Ninho dá uns vacilos que eu nunca daria com a mulher amada."
PÉ EM HOLLYWOOD
Foi em “360”, de Fernando Meirelles, que ele fez seu primeiro trabalho internacional, ao lado de Rachel Weisz. Qual a sensação? “Foi ótimo, um dia apenas, mas muito interessante. Trabalhamos com improviso, acrescentando sempre algum elemento novo cada vez que fazíamos a cena. Ela propunha alguma coisa, eu reagia e vice-versa”, contou.
Ele diz que gostaria de voltar a trabalhar em uma produção fora do país, mas esse não é seu principal objetivo na carreira. “Não necessariamente em Hollywood. Adoraria trabalhar em outros países como Argentina, Espanha, Portugal, mas sei que não é fácil e não tenho pressa. Não é uma meta traçada"
DO JEITO QUE VEIO AO MUNDO
No longa “Febre do Rato” (2011), Cazarré apareceu nu em algumas cenas. Apesar da boa desenvoltura, ele confessa não ter se sentido muito à vontade. "Senti vergonha como qualquer um. É sempre constrangedor, mas por trabalhar com isso, por ter estudado e me preparado, tenho elementos para lidar com a vergonha, para superá-la. Sinto vergonha, mas ela não me paralisa". Para quem gostou do que viu, uma boa notícia. “Faria novamente, sem problemas. Se o diretor e o roteiro forem bons, faço na hora. Minha vaidade artística é muito maior que minhas vergonhas pessoais”
CORRA, JULIANO, CORRA!
Sempre que o ator aparece sem camisa em cena, arranca elogios do público sobre seu físico sarado. Para manter isso, ele sua a camisa na orla do Rio de Janeiro. “Não faço caminhadas, eu corro (risos). De vez em quando, caio na piscina e nado. Uma vez por semana faço um trabalho geral de musculação, mas o principal é a corrida”.
A PARTE MAIS DIFÍCIL DO TRABALHO...
“...é atuar. Ser ator é difícil, criar um personagem crível, verdadeiro, que cative o público, estar pronto para as críticas. E, obviamente, a distância da família também é uma pena dura que tenho que pagar”, explicou. Cazarré é casado desde 2011 com a bióloga Letícia, com quem tem dois filhos. Enquanto a família mora em Brasília, ele se divide na ponte aérea para matar a saudade.“Volto sempre que posso, ligo, ela me manda fotos e vídeos dos meninos. Quando estou com eles, fico grudado. Faço tudo o que posso”, conta.
PAIXÃO PELAS PALAVRAS
Além do trabalho de destaque que vem fazendo na TV, ele lançou em 2012 seu primeiro livro. "Pelas Janelas" é uma coletânea com suas poesias. Filho do escritor e jornalista Lourenço Cazarré, Juliano herdou do pai a paixão pela literatura. "Desde o começo da adolescência gosto de poesia. Esse aí embaixo é o meu favorito", completou o ator, citando os versos do grego Konstantinos Kaváfis. Veja, abaixo, a poesia que ele deu com exclusividade para Marie Claire.
À ESPERA DOS BÁRBAROS
O que esperamos na Àgora reunidos? É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos,
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupado?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
Sem os bárbaros o que será de nós?
Ah! Eles eram uma solução.