Valéria Monteiro ainda se surpreende quando é reconhecida por pessoas de 30 e poucos anos. Mas até para quem era criança no início dos anos 90, a imagem da bela jornalista de 49 anos ainda é forte. Com passagens pelo RJTV, Jornal Hoje e Fantástico, ela ganhou fama por ser a primeira mulher a apresentar o Jornal Nacional, em 1993: “Tenho curiosidade em saber até quando as pessoas tem alguma referência minha. E me impressiono quando gente de 28, 30 anos, consegue lembrar de alguma coisa. É um privilégio!”, diz Valéria durante entrevista exclusiva para Marie Claire.
Depois de quase 16 anos longe da televisão, a jornalista está de volta para apresentar “O Show da Vida É Fantástico”, que estreia no dia 19 de maio no canal Viva. Durante quatro semanas, ela receberá diariamente convidados como Marina Lima e Wanderléa para comentar seus clipes de maior sucesso exibidos no Fantástico. E foi entre uma gravação e outra que Valéria falou sobre o retorno para a TV, os direcionamentos que deu para a carreira ao longo dos anos e os bastidores de uma profissão cercada de glamour e competição.
Marie Claire: Está feliz de estar de volta?
Valéria Monteiro: Estou feliz com a oportunidade sim, principalmente porque é um desafio. O programa terá um formato que ainda não foi testado, embora use de gancho vídeos que o Fantástico lançou há décadas. Gosto de lidar com o novo porque motiva e dá a possibilidade de criar uma perspectiva diferente. Além disso, é uma forma de ficar mais perto da minha filha, que está fazendo estágio aqui no Projac. Até por isso me fizeram o convite, pois eu já havia mencionado para algumas pessoas que estava a fim de ficar mais no Rio de Janeiro.
M.C.: Esse é um retorno definitivo?
V.M.: Não, é um trabalho pontual. Fui chamada para fazer esta temporada em comemoração aos 4 anos do canal Viva. Não temos nenhuma informação se o programa vai continuar ou não, é uma decisão executiva.
M.C.: Seu último trabalho na televisão foi em 98, quando apresentou um programa na Rede TV. Por que ficou tanto tempo longe?
V.M.: Minhas expectativas não casaram com as propostas que chegaram. Quando voltei para o Brasil, em 2002, queria trabalhar com internet e demorou para que houvesse um entendimento dessas novas tecnologias por aqui. Também optei por não fazer coisas que imaginava que não seriam exatamente a mudança de direção que queria para a minha carreira. Eu buscava por uma realidade mais ficcional, menos sisuda.
M.C.: Sente arrependimento por não ter aceitado alguma proposta?
V.M.: Estou segura com as minhas decisões. Não temos controle da repercussão de cada escolha que a gente faz. Tive momentos de reavaliação, mas não adianta fazer coisas que não tem a ver com a gente. Talvez traga segurança financeira por um lado, mas não traz realização. Claro que existe o lado objetivo, todo mundo precisa pagar conta. No entanto, cresci achando que tinha que ir atrás dessa realização, dessa felicidade. Tenho conhecidos que estão ficando com problemas no coração, com câncer, e acredito que as doenças tenham relação com insatisfação no trabalho.
M.C.: Você foi a primeira mulher a apresentar o Jornal Nacional, em 1992. Como foi isso para você na época e o que representa hoje na sua vida?
V.M.: Foi importante, obviamente, porque abriu uma porta para as mulheres que já estavam ocupando as redações. Consolidou uma posição, uma voz, num jornal da noite que sempre teve uma representação muito grande. Para se ter uma ideia, começamos com um teste aos sábados, pois a população poderia não aceitar bem a ideia de ter uma mulher na bancada. Nessa perspectiva, conseguimos ver como o Brasil era machista. Ainda é bastante, porque há muitas mulheres nas redações, mas o nível de diretoria e gerenciamento ainda é tomado e liderado por homens, que normalmente ganham mais. Então, acho que colaborei. Tive uma oportunidade e acabei colaborando com essa história.
M.C.: Ficou nervosa em ter que assumir esse papel?
V.M.: Não, o meu começo na TV Globo é que foi bastante nervoso. Cheguei lá muito jovem, com apenas 21 anos, e enfrentei uma reação grande por isso. Havia uma suspeita de que eu não era capaz de fazer o que precisava. Uma forte insegurança da minha parte, além da ausência da minha família, que estava longe, me deixava ainda mais tensa. Esse nervosismo todo me ajudou a criar empatia com a audiência, que se identificava comigo e me travava com muito carinho. Então, quando comecei a fazer o Jornal Nacional, já estava segura, tinha apresentado todos os jornais, o Fantástico, aquilo já nem era mais para mim. Era mais uma questão da direção, que estava preocupada com essa mudança drástica de ter um equilíbrio de gêneros. Acredito que essa não foi a minha única conquista lá, tiveram várias outras coisas.
M.C.: Como o quê?
V.M.: Como ter figurinista, maquiador e cabeleireiro para as apresentadoras. Tive muita força nessa parte também. Na época, a redação falava que era uma futilidade. Mas quando a gente ia para o ar com um cabelo que caía no rosto ou com um figurino que não era condizente, a diretoria nos chamava para reclamar. Então perceberam que esse cuidado era importante sim, até mesmo para nos dar segurança e manter o foco na notícia. Também não podíamos sorrir. Levei bronca porque sorria no fim dos telejornais ou quando tinha uma matéria de futebol. O diretor me disse que jornal era coisa séria e que eu tinha que parar. Uma semana depois, esse mesmo diretor me chamou para perguntar por que eu estava triste, para eu voltar a dar um sorrisinho ou outro. Então fiquei sabendo que tinha chovido telefonema de todo mundo preocupado comigo, achando que tinha acontecido alguma coisa. Por isso liberaram (risos).
M.C.: Essa seriedade em excesso foi o que te fez querer sair do jornalismo?
V.M.: Tem a ver um pouco sim. Acho pesada a obrigação de ser tão inteligente e informado o tempo inteiro. Gosto de ser humana e me considero uma pessoa criativa. O jornalismo restringia demais a minha criatividade. Tudo aconteceu de uma forma não muito planejada e aproveite para explorar outras possibilidades, como o trabalho de atriz na minissérie “Incidente em Antares”, que eu adorei fazer.
M.C.: Por que não deu continuidade nessa área?
V.M.: Porque não me chamaram de novo (risos). Se pintasse uma proposta legal hoje, eu toparia. Estou a algum tempo envolvida com a possibilidade e o sonho de fazer cinema. Comecei a escrever roteiros e fui para Cannes, fui conhecer a Berlinale, tudo para entender como são feitos os relacionamentos de co-produção. Sempre tive esse sonho.
M.C.: A mudança para os Estados Unidos, na metade dos anos 90, teve a ver com esse desejo?
V.M.: A expectativa era de ir para lá como correspondente e não deu certo. Então, a viagem acabou se transformando numa ótima oportunidade para descobrir que era capaz de fazer coisas além do jornalismo. Eu precisava muito ter esse reencontro comigo mesma! Passei pela NBC, como frila, e também trabalhei em uma produtora que fazia conteúdos para canais como o Discovery. Produzi cinco pré-roteiros de capítulos de uma série sobre desastres aéreos. Isso foi um pouco antes do 11 de setembro e por isso não conseguimos dar continuidade. Foi uma passagem muito enriquecedora, que me fez perceber o quanto aqui no Brasil a nossa capacidade criativa e de trabalho é enorme, mesmo com tantas as dificuldades e restrições.
M.C.: Enfrentou algum tipo de problema para começar a trabalhar lá?
V.M.: Tive menos dificuldade de trabalhar na televisão norte-americana do que de recomeçar aqui no Brasil. É que o mercado lá é muito mais consistente e consolidado, todo mundo entende melhor a dinâmica da profissão, da colaboração. Lógico que existe competitividade, é um mercado restrito, assim como é o daqui. Mas acho que o entendimento da importância da colaboração e o reconhecimento natural de outros talentos é menos brasileiro. A gente se relaciona pior com os colegas por aqui.
M.C.: Você é conhecida como musa do telejornalismo. Isso te ajudou em algum momento?
V.M.: É muito relativo, o que ajuda pode atrapalhar também. Acho que gosto mais desse rótulo hoje do que naquela época. Temos que aproveitar que as pessoas gostem da gente. Vejo isso como um cumprimento não como uma coisa perniciosa. E já está tão longe daquele momento, que hoje acho graça. Espero só que as pessoas não me comparem com a minha imagem antiga, de quando eu tinha 20 anos. Aí não vale! (risos)
M.C. Quais são os próximos planos para a carreira?
V.M.: Estou trabalhando em dois roteiros de filmes e no desenvolvimento do meu site, um projeto que tenho desde que voltei para o Brasil. Acho que chegou o momento de as pessoas entenderem melhor essa força da internet e que esse é um caminho sem volta. Será uma página de relacionamento e informação, baseada no meu estilo de vida. Um mundo pela minha perspectiva.