Não é só no Brasil que as mulheres estão cansadas de ouvir cantadas de mal gosto e piadinhas ofensivas disfarçadas de paquera. A artista norte-americana Tatyana Fazlalizadeh criou uma campanha para responder aos constantes assédios verbais que ela, suas amigas e conhecidas sofrem todos os dias pelas ruas do Brooklyn. Chamado “Stop Telling Women to Smile” (em português “Pare de dizer para as mulheres sorrirem” ), o projeto espalha por toda a Nova York retratos de mulheres que já sofreram perseguições ou foram humilhadas por desconhecidos.
Em entrevista ao site The Daily Beast, Tatyana contou como nasceu a campanha: “Sou uma pintora, antes de tudo. No entanto, nos últimos anos, trabalhei em um grande mural que me permitiu interagir mais com o espaço público. Foi aí que percebi o que era esse assédio nas ruas. Hoje, o trabalho envolve falar com as mulheres sobre suas experiências e desenhar seus retratos como forma de alerta. Comecei a pendurá-los em Bed-Stuy, que é o bairro onde moro, mas já me aventurei por Chicago, Harlem, Filadélfia e Washington DC”, contou.
Para criar o slogan do projeto, Tatyana se inspirou numa frase que é constantemente usada pelos homens para chamar a atenção das mulheres nas ruas: “Somos vistas como se tivessemos obrigação de ter sempre uma resposta emocional positiva, de estarmos sempre felizes, bonitas, bem-humoradas. Os homens muitas vezes começam uma conversa esperando que a mulher obrigatoriamente responda, sorrindo. Nós não devemos nada para ninguém, não temos responsabilidade de responder nada para ninguém, principalmente um estranho”, explicou.
Por enquanto, as peças criadas pela artista são todas inspiradas em mulheres conhecidas: “Eu as entrevisto antes, pessoalmente, para saber suas histórias e o que passaram. A última com quem conversei foi indicação de um colega, que mora em Sunset Park, no Brooklyn. Ela é metade guatemalteca e metade mexicana. Sua situação é muito diferente de onde moro. E é bom assim, pois tento pegar experiências e perspectivas diversas”, disse. No entanto, o sucesso do projeto é tanto que Tatyana já perdeu as contas de quantos pedidos de participação já recebeu por e-mail: “Este projeto tem provocado emoções fortes nas pessoas! Algumas descrevem o assédio em detalhes, querem me contar tudo, outras apenas agradecem pela existência da campanha. Também já recebi mensagens dizendo que estou levando o assunto muito a sério, que os gracejos são apenas elogios e que devemos superar. Essa parte é um pouco frustrante. Sou adulta e sei o que é um elogio e eu sei o que não é”, disse ela.
O próximo passo do “Stop Telling Women to Smile” é extrapolar os limites de NY. "Recebi muitos pedidos de mulheres que querem levar a campanha para suas cidades. O projeto não é mais só meu, é de todo mundo. Por enquanto, estou enviado retratos que já tenho pronto, mas quero muito visitá-las e criar obras específicas".