Quem está acostumado a ver Vladimir Brichta vestindo camisas com estampas pouco discretas e cabelos alinhados na minissérie "Tapas & Beijos" quase não reconhecerá o ator em seu mais recente trabalho no cinema, o filme “Minutos Atrás”. Na comédia dramática, dirigida por Caio Soh, Vladimir interpreta Alonso, um andarilho perturbado e inventivo, e que ao lado de Nildo (Otávio Müller) e Ruminante (Paulinho Moska), segue em direção a um destino inexistente.
Em conversa exclusiva com Marie Claire, por e-mail, Vladimir falou sobre os desafios de fazer um longa com linguagem e formato diferentes do tradicional e sua relação com a mentira , um dos principais temas do filme.
MARIE CLAIRE: “Minutos Atrás” é um filme com uma proposta diferente. O que te fez aceitar o convite para participar de um projeto como esse?
VLADIMIR BRICHTA: Acho que foi o desejo de aventura, sem ter que seguir um padrão de atuação, de produção ou mesmo de dramaturgia. Tinha a intuição que seria uma experiência muito rica, pela liberdade da linguagem, e poderia mesmo vir a se tornar um bom filme, que despertasse a curiosidade e a sensibilidade do espectador.
M.C.: Alonso, seu personagem no filme, é um andarilho com pinta de maluco, mas que fala verdades, daquelas que, muitas vezes, não gostamos de ouvir. Como você definiria esse personagem?
V.B.: Acho que ele tem um quê de insanidade, mas é um grande provocador. Não sabemos se ele sabe muito, ou se blefa, mas ele tem lampejos de sabedoria.
M.C.: “Minutos atrás” apresenta várias reflexões sobre temas como a morte, a traição, a fome. No entanto, a mentira é o assunto mais recorrente na história. Qual é a sua opinião sobre a mentira? Acha que é essencial para uma boa convivência entre as pessoas? Em quais situações você acha que é válido mentir?
V.B.: Claro que não sou a favor da mentira, mas acho que há verdades que não devem ser ditas. Há uma confusão muito frequente nas pessoas que se dizem muito sinceras, aquelas que "falam mesmo". Isso porque acredito na diferença entre sinceridade e "sincericídio", quando aquela suposta verdade não ajuda em nada o ouvinte e muitas vezes é uma necessidade, talvez narcisista, de quem a diz.
M.C.: O filme é contornado pela comicidade e você é conhecido por seus papeis engraçados na televisão. O que você mais gosta no fato de fazer comédia?
V.B.: A comédia não é uma preferência minha, mas tem sido mais freqüente, especialmente na TV, onde o grande público tem mais contato com meu trabalho. Mas tenho alternado as escolhas sempre que possível porque tenho igualmente prazer no drama. Acho que o que me move e motiva minhas escolhas é a qualidade das histórias, mais do que o gênero.
M.C.: Fora da ficção você também é assim engraçado? É um marido que faz muitas piadas e diverte sua a mulher, por exemplo?
V.B.: Acho que sou mais pro engraçado. Acredito que o humor é uma sabedoria e a persigo, mesmo às vezes não encontrando!
M.C.: Estreia nas próximas semanas a quarta temporada de “Tapas & Beijos”. Qual é o principal desafio de interpretar o mesmo personagem por tanto tempo?
V.B.: Acho que o maior desafio é trazer frescor. Não preciso inovar o personagem, apesar de sempre pensar em algo novo, mas trazer frescor para ele, para as relações. É fundamental para manter a excelência que o programa tem. Inclusive esses filmes que venho fazendo paralelamente (tenho mais três pra lançar esse ano), assim como a peça "Arte", que faço há três anos e na qual sou produtor também, ajudam a manter esse frescor, esse viço.