Na primeira vez que a bióloga Ana Paula Maciel desceu as escadas de um navio do Greenpeace com uma faixa na mão, foi recepcionada com fogos de artifício. Ela estava ao lado de outros ativistas da ONG e a missão era pacífica, mas os rojões não tinham nada de festivo. “Eram jogados contra nós”, lembra a gaúcha, que havia zarpado rumo à Amazônia em protesto contra um porto ilegal que explorava o desmatamento da região. “Os trabalhadores sentiram seus empregos ameaçados e partiram para cima. Jogaram ativistas na água, invadiram o navio e nos encurralaram dentro dele”, conta.
A violência passou, os ativistas conseguiram o que queriam (o compromisso de empresas para que não comprassem mais a soja produzida ali) e Ana Paula se apaixonou pelo trabalho. Virou marinheira profissional e começou uma vida que grosso modo se divide em três meses no mar, três meses em terra. Lutou pela preservação de baleias, pelo fim dos testes nucleares e, no fim do ano passado, protestava contra a exploração de petróleo no Ártico quando foi presa pelo governo russo.
Ana Paula estampou manchetes de jornais, fez a presidente Dilma pedir urgência ao Itamaraty e espalhou a voz sobre o ecossistema ameaçado no extremo norte do planeta. Agora, quer ganhar outro espaço, um para ela e os animais silvestres vítimas de ilegal no Brasil. Quer construir um santuário e topa posar nua para financiar o projeto com o cachê. O primeiro passo será dado em março, quando deve aparecer de biquíni na revista "Playboy" (Ana e a revista negociam um ensaio sensual se a reação do público for positiva).
À Marie Claire, ela falou sobre o sonho de criar a reserva e fincar raízes no Brasil ao lado do namorado, um ativista mexicano. Abriu o jogo sobre a difícil arte de namorar quando se é marinheira do Greenpeace e rebateu críticas sobre a ideia de posar nua.
MARIE CLAIRE - Por que decidiu posar nua?
Ana Paula Maciel - Os dois meses na Rússia foram os mais difíceis da minha vida. Quando acabou, cheguei no Brasil era famosa, sem saber. Agora, se a vida me dá essa oportunidade, por que não? É um trabalho honesto e eu tenho esse sonho de criar um santuário para animais, essa é minha paixão. O Greenpeace não tem nada a ver com essa escolha.
MARIE CLAIRE - Está fazendo alguma preparação especial?
AP - Não! Eu me acho linda e me amo do jeito que eu sou. Me cuido, mas por saúde. Existem mini-academias dentro dos navios e, se o trabalho não é muito pesado durante o dia, faço musculação à noite. Eu mesma corto o meu cabelo e ele é igual desde a infância, nunca pintei nem alisei. Nessa foto feita para a edição de março da Playboy, pedi que não usassem Photoshop. Sou uma pessoa normal, não uma top model, e espero que os leitores vejam isso como um ponto positivo.
MARIE CLAIRE - Espera receber críticas pela escolha?
AP - Sim. Fui criticada por ser presa, depois por chegar a Porto Alegre e comer churrasco. Veganos e vegetarianos me criticaram por isso. Agora, não espero ser consenso.
O que diria para quem acha que o ensaio sensual diminui o poder da mulher? Diria que a minha bandeira é das causas ambientais. E que essas críticas são recheadas de falso moralismo. Se a pessoa levanta do sofá e vai defender uma causa, é isso que importa. Eu não preciso ser um super-herói e defender tudo ao mesmo tempo. Minha paixão são os animais silvestres e é por isso que eu luto.
MARIE CLAIRE - O que a família achou da ideia?
AP - Todos me apoiaram, minha família é super cabeça aberta. E meus amigos estão adorando, eles sempre me acharam muito bonita e acreditam que eu tenho que explorar essa beleza.
MARIE CLAIRE - Tem namorado?
AP - Sim. Namoro há três anos um mexicano e faz seis meses que não o vejo. É uma relação baseada na extrema confiança, no sentimento e na esperança de que estejamos juntos para sempre em breve. Ele me apoiou muito na ideia do ensaio também.
MARIE CLAIRE - Então dá pra ser ativista e ter vida pessoal?
AP - Sim, existe vida fora do Greenpeace! Mas olha, a pessoa que se relaciona comigo precisa ter muita confiança e muita paciência. Relacionamento a distância é uma coisa na qual sou pós-graduada.
MARIE CLAIRE - Como se conheceram?
AP - Num navio [o namorado também é membro da ONG]. Foi em 2009, no navio Esperanza, na Nova Zelândia, que estava em manutenção. Passei dois meses trabalhando nisso. Naquela época eu era casada e, enfim, ele virou meu amigo. Rolou uma amizade superespontânea. Em 2011 nós nos encontramos de novo e aí eu decidi acabar o meu casamento para ficar com ele.
MARIE CLAIRE - Seu ex-marido também era ativista do Greenpeace?
AP- Sim. Ele é agrônomo e nós vivíamos numa fazenda em Portugal. Eu amava o lugar e mantinha uma horta e criava animais. Praticamente não precisávamos ir ao supermercado e vivíamos a completa sustentabilidade, um sonho antigo meu. Mas o relacionamento não durou. Eu embarcava nos navios com muito mais frequência do que ele e a relação acabou por causa disso. Ele tinha muito ciúme.
MARIE CLAIRE - Durante essas viagens, já sentiu medo de morrer em ação?
AP - Não. Eu confio no meu profissionalismo e no dos meus colegas. Antes de descer do navio, cada um faz a sua escolha se vai desembarcar ou não. Ninguém é obrigado. Fazemos uma análise de riscos e nos responsabilizamos. Claro que, às vezes, como na Rússia, essa análise não é suficiente.