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Cabelo crespo é personagem do livro de Djaimilia Pereira de Almeida

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Djaimilia Pereira de Almeida (Foto: Divulgação)

 


A revolução aconteceu on-line. De repente, um exército de cacheadas ao redor do mundo passou a celebrar seus caracóis em posts nas redes sociais, em blogs e vídeos, ensinando outras mulheres a amarem seus cabelos, numa onda de empoderamento e valorização dos fios crespos que se transformou num movimento sem volta e até numa marcha, a do Orgulho Crespo. Mas a história não parou por aí: os cabelos cacheados ganharam também uma porta-voz na literatura com o lançamento do premiado Esse Cabelo - A Tragicomédia de um Cabelo Crespo que Cruza e História de Portugal e Angola (ed. Leya; 144 pág.; R$ 29,67), livro que transformou sua autora, Djaimilia Pereira de Almeida, numa estrela literária em Portugal.  

+ DJAMILIA PEREIRA DE ALMEIDA PARTICIPA DA FLIP 2018 

A história de Mila, a protagonista de Esse Cabelo, é também a de Djaimilia. Assim como a personagem, ela nasceu em Luanda, filha de mãe angolana e pai português, e se mudou para Portugal aos 3 anos. Também como a heroína, a escritora gastou muitas horas em salões desde a infância tentando “dar um jeito” na cabeleira rebelde. “As experiências que Mila passa em cabeleireiros são análogas as que eu vivi, embora com algumas alterações”, conta ela. A exemplo de muitas mulheres, Djaimilia passou por todos os procedimentos que tentam “domar” os cachos, até o movimento de empoderamento dos crespos a libertar. “Eu não tinha noção de que vivia um drama partilhado por muitas meninas”, diz ela. “Não sabia o que fazer com o meu cabelo. Não sabia como o arranjar nem tinha jeito para isso.”

Djamilia Pereira de Almeida (Foto: Divulgação)Djamilia: do lenço aos dreads, as diversas fases da mulher que tem o cabelo crespo

 

 

 

 

A rotina de Djaimilia mudou quando ela encontrou sua turma digital: “Primeiro, eram sobretudo sites americanos, mas, rapidamente, a coisa se espalhou por todo o mundo e criou-se uma comunidade extraordinária de moças que partilham dicas sobre o cabelo e que ensinam umas às outras”, conta ela. “Comecei a me sentir melhor com meus penteados e aprendi muito com elas, que não fazem ideia de como ajudaram a uma rapariga anônima como eu.” Inspirada por essas meninas, e sem jeito para se tornar ela própria uma blogueira, Djaimilia, que é formada em teoria literária e tem longa carreira acadêmica, decidiu transformar seu cabelo em tema do primeiro livro. “Passei a vida toda com o personagem em cima da minha cabeça sem perceber que o cabelo, em si mesmo, era o protagonista de uma história que valia a pena contar”, revela. “Meu livro era uma maneira de entrar em contato e iniciar a conversa global com essas meninas.”

 

No livro, uma Mila adulta mescla as lembranças das dezenas de penteados que teve ao longo da vida com memórias de infância, vivida na casa dos avós, em Lisboa, as viagens a Luanda, para visitar a mãe, as primeiras festas e namorados. O relato é quase filosófico, permeado por reflexões sobre o racismo e sua ascendência africana, outra característica que a liga a Djaimilia. “Uma das coisas que estava dentro da minha cabeça era a vontade de decifrar qual o meu lugar no mundo, o que eu era e de onde eu vim”, diz.
Mais do que ter conquistado a crítica literária, que lhe concedeu o Prêmio Novos - Literatura 2016, Djaimilia comemora a repercussão entre as blogueiras. “Pouco tempo depois do livro ter saído em Lisboa, uma delas fez um vídeo em que falava sobre ele, que me deixou muito feliz: finalmente, ele tinha chegado ao seu público. Consegui me comunicar com elas”, conta a escritora. “Encontrei muitas delas, que foram supergenerosas comigo, diz ela. “Sou sempre a mais despenteada entre elas, que sempre têm conselhos a me dar _apesar de eu continuar sendo despenteada.”

Nascida em Luanda, capital da Angola, mas radicada em Portugal desde criança, Djaimilia, de 35 anos, é uma das convidadas da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Ela estará nesta quinta (dia 27) em uma mesa em que divide suas influências e seu processo de criação ao lado das brasileiras Josely Viana Baptista e Natalia Borges Polesso. No domingo (30), ela participa de um encontro em que fala sobre seu “livro de cabeceira”, ao lado dos escritores Alberto Mussa, Ana Miranda, Patrick Deville, Paul Beatty, Scholastique Mukasonga e William Finnegan.


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