Enquanto a mãe trabalhava como camelô para ajudar a sustentar a família, Mahany Pery sonhava com uma vida melhor da que tinha em São Gonçalo, região metropolitana do Rio. A jovem desejava se formar na faculdade para ter um destino diferente dos pais. “Queria ser advogada”, conta a fluminense de 19 anos que se tornou um dos novos destaques da moda.
A ideia de ingressar no universo da moda surgiu de forma inusitada durante a transmissão do programa “Encontro com Fátima Bernardes. “Nunca havia pensado em seguir esta carreira. Até que meu pai viu uma reportagem sobre Sandra Passos, a ex-catadora de lixo que virou modelo, e resolveu me inscrever em um curso que ensina a modelar”, diz.
Mahany tinha 16 anos na época. Talvez fosse considerada um pouco velha para começar neste nicho, mas compensava as adversidades com a determinação de quem nunca se deixou abater pelas dificuldades da vida –inclusive as que estavam por vir.
“Após três meses de curso, minha mãe já não tinha mais condições de bancar esta despesa”, lembra. Poderia ter sido o fim do sonho, mas a jovem mostrou seu valor à equipe que ministrava o curso. “Conversei sobre minha situação com um dos professores e consegui uma bolsa”.
O próximo passo em sua carreira foi ir a São Paulo tentar um contrato com alguma das grandes agências de modelo da cidade. “Mas nenhuma me quis”, lamenta.
Mahany pegou as malas de roupa que havia levado consigo para a capital paulista e retornou a São Gonçalo. Mas não trouxe na bagagem o sentimento de frustração.
CABELO NOVO, CARREIRA NOVA
A guinada em sua carreira aconteceu quando decidiu abandonar os longos fios alisados para mudar de visual. “Comecei a pesquisar cabelos de mulheres negras porque estava enjoada do meu. Vi que muitas delas estavam carecas, então, decidi que este seria meu novo look”, lembra.
A mudança ocorreu no pequeno espaço de uma barbearia do bairro. “Pedi para raspar na máquina 2 alta. Me achei maravilhosa”.
Desde então, sua carreira deslanchou. O primeiro grande desfile foi para a Animale em 2015 no SPFW. “Me deu um friozinho na barriga lá no backstage. Mas assim que entrei na passarela segui na direção da luz e fui confiante”.
Mahany passou a receber outros convites Desfilou para Osklen, Alexandre Herchcovitch, Lenny Niemeyer, Amapô e Vitorino Campo. Mais tarde, se tornou uma das embaixadoras da Maybelline e assinou com a Nike e a Farm.
Agora, a modelo divulga sua primeira coleção de acessórios em parceria com a Lilac. “As peças são minimalistas, feitas à mão”.
O próximo passo é seguir para Nova York, rumo a sua carreira internacional. “Não tenho data para volta”.
REPRESENTATIVIDADE
Embora Mahany tenha conquistado seu espaço na moda brasileira, superando dificuldades, nem todas as modelos negras conseguem o mesmo. “Esses dias fiz um desfile com 37 meninas. Apenas 3 eram negras”, lamentou. “As pessoas não querem dar espaço”.