
Os últimos dias foram agitados na vida da nômade digital, Nataly Gabrielly, dona do canal Viaje sem limites. Paulista da Zona Leste, a jornalista busca o título para ser reconhecida como "a primeira mulher negra brasileira a visitar 200 nações diferentes em tempo recorde", no Guinness Book. Viajante profissional há quatro anos, Nataly vive hoje o sonho que começou ainda na infância: descobrir o mundo.
Uma de suas inspirações nessa jornada sempre foi a jornalista Glória Maria, conhecida por suas aventuras e descobertas pioneiras por todo o mundo e até no espaço. Depois de anos nutrindo o sonho em trocar figurinhas sobre viagens com o seu ídolo, Nataly foi surpreendida com uma mensagem de Glória, na última semana, em seu perfil. Na mensagem, a jornalista chamou a atenção da influencer, pedindo humildade para ela.
"Querida, você não pode dizer que é a primeira mulher brasileira negra a visitar todos os países do mundo. É feio. Fica parecendo que você quer se aproveitar do trabalho e do sucesso de quem veio antes e continua percorrendo o mundo por destino e paixão. Humildade faz parte da sabedoria", disse a jornalista.
Assustada com a situação, Nataly agradeceu a visita de Glória em sua página e explicou o projeto que está desenvolvendo. "Olá querida Glória Maria. Obrigada pelo comentário e fico feliz que chegou aqui no Viaje Sem Limites. Estou numa jornada para conhecer todos os países do mundo em tempo recorde, e disputando com uma norte-americana. Você é uma inspiração e abriu caminhos e portas para muitos, principalmente para mim", rebateu a influenciadora.
Decepção
A forma como Nataly interagiu pela primeira vez com Glória Maria não foi exatamente como ela sonhou. Dias depois, ela decidiu expor a situação que viveu para seus seguidores e desabafou.
"Desde pequena assistindo TV e me inspirando numa mulher incrível que me mostrou que tudo é possível só por estar ali nos representando, mas hoje tive uma decepção, uma fã e admiradora é tratada assim. Gloria, saiba que você foi pioneira e seria tão legal se entendêssemos que as próximos gerações também podem sonhar e realizar. O dia que você estiver aberta para me ouvir e ouvir sobre o meu projeto vai entender que eu nunca quis desmerecer você e muito menos quem veio antes de mim", finalizou.
A influencer recebeu o apoio de amigos e famosos como Negra Li, que carinhosamente escreveu: "Só vai!! Estamos com você".

Inspiração
O sonho de Nataly de conhecer os cantinhos do mundo não começou de forma genuína, vendo filmes ou séries na TV. Negra e periférica, ela sempre se dedicou muito aos estudos para mudar sua realidade. Filha de mãe professora e pai marceneiro, Nataly recebeu muito incentivo em casa para correr atrás de seus sonhos. No entanto, enfrentou o racismo desde cedo dentro da escola.
"Sofri muito bullying, preconceito na escola na questão de querer ajudar, ser boa aluna, dedicada. Era a aluna escolhida para cuidar na sala, escrever na lousa e muita gente questionava porque uma negra e pobre conseguia aquilo?", relembrou no podcast de Alessandro Santana Oficial.
"Como não era aceita, passei a comer no banheiro. Para sair daquela situação, comecei a buscar opções, como 'bolsa para estudar em tal lugar'. Eu estava com 10, 11 anos, que criança pensa nisso?", contou.
Figurinha carimbada em todas as feiras de intercâmbio da região, Nataly aproveitava as folgas no trabalho como telemarketing para conhecer os estandes dos países e entender as possibilidades para alcançar seu sonho. A primeira realização aconteceu em 2013, quando ganhou uma bolsa para estudar na Europa.
"Gravei um vídeo contando porque queria a bolsa, era um concurso com 27 vagas, tinha que pedir para as pessoas comentarem no vídeo no Youtube. Nem sabia onde era a Irlanda, mas vi que lá era menos burocrático, no meio da Europa, poderia estudar e trabalhar para me bancar", relembra.
Ajudando outros jovens
Nataly ainda teve que vender brigadeiro e beijinho nas ruas para juntar os 3 mil euros que teria que levar para a documentação estrangeira. No entanto, ela aprendeu inglês, conheceu seus paises e encontrou o caminho na vida que queria seguir. "Estudei 20 horas de inglês nos primeiros meses para aprender bem, visitei outros países, visitei museus, fui em festas", conta.
A ideia inicial do canal no Instagram surgiu em 2018, quando já morava nos Estados Unidos. Além de ajudar as pessoas com dicas para não passar perrengues, ela passou a visitar escolas de inglês e conectar com estudantes periféricos que sonham em fazer um intercâmbio, através de bolsas de estudo. Essa iniciativa chamou a atenção da empresa BeFly, que está apoiando a corrida de Nataly para descobrir as 200 nações do Planeta Terra, enquanto consegue o mesmo número em bolsas de estudos para os jovens. "O ideial é uma bolsa por país", disse ela.
Vida real
Com 50 países em sua lista, Nataly compartilha os momentos bons e as inseguranças por ser uma mulher, latinoamericana, viajando sozinha. Com recentes passagens pela Ucrânia, Letónia e Hungria, a influencer chegou nesta quinta-feira (6) em Belarus, no Leste Europeu. No entanto, Nataly mostrou a realidade ao enfrentar de cara o racismo no país.
No instagram, ela contou que foi expulsa do Hotel Grandinn ao se negar a pagar a mais pela reserva do quarto. "O dono está ali, está me chamando de neguinha, mandou eu sair em três minutos daqui justamente porque ele não queria aceitar a cotação que eu paguei do euro para o russo. Eles falaram que eu vou ser escoltada", disse ela, sendo empurrada por uma funcionária.
"Eles acabaram de me expulsar daqui, mostrei a comprovação que tenho dinheiro para ficar, não sei onde vou dormir essa noite", contou chorando. Mais tarde, a influencer contou que estava prestar queixa na polícia. Essa não é a primeira vez que Nataly passa por uma situação de racismo. Na Hungria, a jovem relatou que foi convidada a se retirar de um café por não ser "bem-vinda".

