
Muitas das principais casas de moda de luxo são lideradas por homens, mesmo as que criam roupas femininas. Em relatório divulgado pela Business of Fashion em 2016, descobriu-se que entre 313 marcas de moda, apenas 40,2% delas eram dirigidas por mulheres. Ou seja, mais homens estão liderando marcas para mulheres. Nomes como Maria Grazia Chiuri (primeira diretora artística feminina da Dior), Virginie Viard (primeira diretora da Chanel desde Coco Chanel) e Rihanna (primeira criadora de uma marca a fazer parte do conglomerado de luxo LVMH) são algumas das muitas mulheres que estão mudando o jogo. A seguir, separamos 10 diretoras criativas da moda para conhecer e prestigiar.

"Primeira mulher em 69 anos de história da Dior a assumir o comando criativo da marca, Maria Grazia levantou a bandeira do feminismo desde o seu primeiro desfile, usando a frase da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie estampada em uma camiseta: 'We Should All Be Feminists'", explica nossa colunista de moda Maria Rita Alonso.
Em 2016, quando Maria Grazia Chiuri chegou à Dior, ela decidiu que seu trabalho na maison deveria inspirar a luta pela igualdade de gênero. Nos cinco anos em que seguiu neste cargo, Chiuri manteve-se fiel à meta inicial.
Maria Grazia Chiuri: "Moda é política. Afinal, estamos falando sobre o corpo feminino"
Em dezembro de 2020, quando foi entrevistada por Marie Claire, Chiuri contou sobre como tem sido ocupar a prestigiada função e falou sobre o desafio de equilibrar feminismo e moda, sem que o primeiro seja instrumentalizado pela segunda, mas que funcione como um motor para promover valores de igualdade. Na ocasião, a diretora criativa chegou a dizer que não é possível desvincular esses dois universos, já que “tudo é político”.
“Não tem como a moda não ser um ato político. Estamos falando sobre o corpo feminino”, afirmou.

Depois da morte de Karl Lagerfeld, Virginie Viard, braço direito do designer na grife francesa, é a primeira mulher a comandar a maison desde sua fundadora. No mesmo dia de sua morte, 19 de fevereiro de 2019, a francesa, que há mais 30 anos colaborava com Karl, foi apontada como sua sucessora. “Ela é uma inspiração. Seu espírito é leve e livre. Para mim, ela é Chanel; dá vida às minhas ideias e às vezes até as provoca”, disse Karl certa vez sobre a colega.
Virginie Viard, o braço direito de Karl Lagerfeld, é anunciada como sua sucessora
Hoje como diretora criativa da marca, Virigine se torna a primeira mulher desde Coco Chanel a comandar a grife em voo solo. Sem dúvida, o fim de uma era de Lagerfeld, mas o início de uma nova história com Viard.

Miuccia Prada lidera a Prada desde que assumiu o controle da empresa em 1978 fundada por seu avô em 1913. Miuccia também é fundadora da Miu Miu (1992). Phd em ciências políticas, ela também participou de movimentos estudantis na juventude, o que fez com que ela criasse uma moda voltada para mulheres modernas. Atualmente, é co-diretora criativa da marca, lado a lado com o designer Raf Simons.
Esta semana, a Prada nomeou duas novas diretoras independentes para o conselho de marca: Pamela Culpepper e Anna Maria Rugarli. A nomeação de Pamela marca a primeira vez na história centenária da grita a ter uma mulher negra no conselho. Ambas foram selecionados por sua formação em Meio Ambiente, Social e Governança para apoiar o Conselho de Administração em suas decisões de sustentabilidade, pessoal e cultura.

Rihanna foi a primeira mulher negra a dirigir uma marca da LVMH. Menos de dois anos depois de ter sido lançada, a Fenty, marca de roupas de luxo da empresária e cantora, entrou em pausa. A decisão foi feita pelo grupo de luxo, dono de marcas como Louis Vuitton e Dior, detentor da etiqueta.
Fenty, marca de moda de luxo de Rihanna, é colocada em pausa
Segundo o site WWD, tanto o conglomerado quanto a cantora decidiram parar a produção da marca, que foi lançada com alvoroço depois do sucesso de Rihanna no ramo da beleza. A Fenty parou de produzir novas coleções, mas tecnicamente não deixará de existir. O Grupo LVMH, que bancou a empreitada de Rihanna na moda de luxo, seguirá investindo em outras marcas da cantora

Alexander McQueen e Sarah Burton se conheciam de longos anos, quando o estilista havia acabado de estrear na Givenchy em 1996. Após a morte do designer, em 2010, foi ela que assumiu o cargo. Conhecedora da dinâmica do criativo, Burton trabalhava com McQueen há 15 anos até então. Mais do que hoje, na época era raro ver uma mulher em tal posição, com exceção de algumas como Donatella Versace e Miuccia Prada, que estavam à frente dos negócios da família.
Jonathan Akeroyd, presidente do grupo Alexander McQueen na época, declarou após a decisão: "Nós estamos contentes que Sarah tenha aceitado esta nova função de diretora artística. Após ter trabalhado com Lee McQueen por mais de 14 anos, ela tem um profundo conhecimento do seu universo visionário, o que permite à maison de perpetuar seus valores essenciais."

Em 2021, Camille Miceli tornou-se a primeira mulher a comandar a marca, que estava sem um designer em tempo integral desde 2017, quando Massimo Giorgetti, o designer italiano por trás da MSGM, saiu. Por 20 anos, a designer de acessórios trabalhou com estilistas como Marc Jacobs, John Galliano e Nicolas Ghesquière - que a viam como uma "musa". Em entrevista ao NY Times, em setembro do ano passado, Miceli declarou: "Estou pronta. É este o momento."
A escolhe reflete uma abordagem fresh para a Emilio Pucci. "Sempre senti que Pucci era uma oportunidade perdida. [A marca] está bastante relacionada com a forma como vejo as coisas, com a minha fantasia de viver", explicou à publicação e contou que não hesitou quando lhe foi feito o convite.
Em seu currículo, ela conta com passagem pela comunicação na Louis Vuitton, em 1997, onde iniciou o trabalho no design de joias, seguindo para a Dior, na qual atuou na seção de joalheria e artigos de couro.

A designer e stylist de Arraial D'Ajuda, Bahia, é criadora de uma imagem de moda única no estilo regional e cultural brasileiro, com o objetivo de vestir pessoas no mundo inteiro - o que ela faz!
Kel Ferey desfila brilhantismo negro com Erika Hilton, Isaac Silva e Mona Rikumbi
Em 2018, KF se apresentou pela primeira vez no Fashion Meeting; Em 2019, se apresentou pela segunda vez na Semana de Moda de Milão e, em 2020, pela terceira vez em formato digital. Sendo referência em moda ecossustentável, Ferey foi a única brasileira a desfilar em Milão, há dois anos.

A uruguaia marcou - e marca - sua atuação na grife com designs prêt-à-porter que estudam sustentabilidade. Talvez um dos maiores nomes que lideram uma moda com cadeia mais limpa no desenvolvimento das peças, ela ocupa seu cargo na Chloé há um ano, por onde já passaram estilistas como Stella McCartney, Phoebe Philo e Karl Lagerfeld.
Assumir a cadeira durante a pandemia já foi um desafio e tanto - mas ser a única latino-americana no mercado de luxo europeu, à frente da grife francesa, e trabalhar com rigor em relação a procedência dos materiais usados nas produções, somam ao desafio de sua direção.

Após saída da Celine, Phoebe Philo voltou à indústria da moda após (longos) três anos e meio com nova marca. A estilista britânica tornou-se símbolo cult por suas roupas femininas inteligentes - criadas por e para mulheres. O retorno vem da melhor forma possível: independente e com a própria marca, que leva seu nome.
O gigante de luxo LVMH é o financiador do projeto, mas detém uma participação minoritária. Na Celine, a estilista deixou sua marca ao comandar uma nova era na qual mulheres se vestiam para elas mesmas, ao invés de cumprir uma visão de feminilidade enraizada em valores patriarcais. Um dos pontos foi ignorar tendências sazonais, por exemplo, favorecendo um guarda-roupa atemporal.

Angela Brito é natural de Cabo Verde. A ligação que mantém com o seu país de origem lhe é de grande importância, já que suas construções identitárias e imagéticas partem das memórias que cultivou em seu lugar de origem. Porém, este nunca foi um limite para Angela, que se considera uma cidadã do mundo. Lançou-se a viver experiências em outros lugares como Lisboa e Rio de Janeiro, onde atualmente reside.
Em sua trajetória, seu desejo pela moda caminhou desde cedo atrelado à busca de se compreender como indivíduo. Apesar de por certo período ter estudado e trabalhado na área tecnológica, decidiu-se mover em direção a sua auto-realização, preparando-se para em 2014 criar a marca Angela Brito.