Era mais um dia típico na vida do economista Cristiano Del Moral, 38, e da publicitária Noemia Almeida, 33, até que, no beijo de despedida para ir ao trabalho, ela sentiu um aroma de chocolate. Em instantes, o momento doce amargou. “Você está comendo açúcar escondido?”, perguntou, indignada. “Escove os dentes antes de me beijar!” A rotina do casal transformou-se em 2014, após um ano morando juntos. Noemia decidiu emagrecer e viver de forma mais saudável. Cortou radicalmente carboidrato, lactose e doces em geral. Também começou a praticar crossfit cinco vezes por semana. Não foi, claro, uma tarefa fácil – ainda mais considerando seu lifestyle anterior. “Jantava um pacote de Doritos e uma caixa de nuggets, além de beber cerveja e fumar. Temos até uma chopeira desativada na varanda aqui de casa”, diz Noemia, que eliminou 15 kg e conquistou um percentual de gordura de somente 12%. “Por incrível que pareça, o saudável da dupla era ele, não eu.” Cristiano praticava exercícios duas vezes por semana (e ainda o faz), mas não abre mão de churrascos, álcool e carboidratos.
A fase de adaptação foi difícil para ambos. “Ela ficou muito estressada por uns seis meses. Estava em crise de abstinência de cigarro, bebida, carboidrato, tudo!”, lembra Cristiano. Noemia concorda. “Fiquei insuportável. Sonhava até que estava comendo coxinha. Quando o via pedindo pizza, comendo chocolate ou marcando um bar com amigos, ficava maluca porque não podia fazer tudo isso. E também não queria que ele fizesse”, diz Noemia. “Hoje vejo, claro, que passei um pouco do ponto.” Tanto que até o hábito de cozinhar a dois se perdeu. “Um dos meus programas preferidos era fazer risoto para ela. Pensava: ‘Vou preparar uma salada para a Noemia? Qual a graça?’. Tivemos muitas brigas”, lembra ele.
O psicólogo Luiz Alberto Hanns, autor de A Equação do Casamento (Editora Paralela, 264 págs., R$ 38), diz que é preciso negociar o espaço de cada um. “Quando uma pessoa se priva de algo, não pode obrigar o parceiro a fazer o mesmo. Vida a dois não significa anular a individualidade”, afirma. “Nem excluir o outro da rotina.” Um ano depois, Noemia e Cristiano conseguiram encontrar um equilíbrio. Hoje em dia não tomam mais vinho juntos em casa nem pedem o mesmo delivery, mas conseguem jantar fora em restaurantes que atendem os gostos dos dois. Noemia desistiu de mudar a vida do marido – que, por sua vez, passou a acompanhá-la em alguns treinos. E até tomou gosto pela coisa!
Guerra do delivery
A vida em casal está sujeita a transformações. Se Cristiano deixou de cozinhar para a mulher, o empresário Samir Xavier Silva, 37, viveu o oposto: deus adeus aos cardápios criativos da “chef” particular e química Luiza Ferreira Sobrinho, 28, há dois anos, quando a namorada se tornou vegana. “Fiquei chocada com uma reportagem sobre cachorros sendo usados para testes da indústria farmacêutica e cortei o consumo de qualquer coisa animal”, lembra. “Ainda não temos filhos, mas cheguei até a pensar em não engravidar futuramente porque não gostaria que meu filho comesse carne.” Após algumas conversas, os dois decidiram que, se um dia tiverem uma criança, ela será vegana. Samir também teve que ceder no paladar. “Adorava o chilli e o estrogonofe de atum que ela fazia. Hoje em dia a Lu nem encosta em carne, imagine realizar uma receita”, diz ele, que sentiu calafrios quando ela tomou a decisão. “Meu irmão também é vegano e brigávamos o tempo todo. Até disse que terminaria com ela. Pensei: ‘Não aguento outro desse na família’.”
A hora da pizza era a pior de todas. “Ela só queria de tofu. Não deixava pedir meio a meio com quatro queijos porque iria ‘contaminar’”, conta. “No início, frequentávamos somente lugares sem carne”, diz Luiza. Com tempo e paciência, no entanto, o casal se encaixou na nova dinâmica. Ela hoje topa ir a restaurantes que ofereçam todo tipo de comida e os pedidos em casa têm endereço certo: o restaurante árabe. “Cada um escolhe o que quer e todos ficam felizes”, garante Luiza.
O fato de Gustavo Fontenelle de Araújo Andrade, 44, já saber que a jornalista Liv Soban, 36, não come carne vermelha, frango nem glúten antes mesmo de se encontrarem fez com que os conflitos entre eles fossem mais suaves. Os dois se conheceram há três meses no aplicativo de relacionamentos Happn e Liv o avisou via Whatsapp sobre a limitação alimentar. Mas isso não evitou que ele, no primeiro encontro, cometesse uma gafe. “Fomos a um concerto na Osesp e ele foi comprar um vinho. Só que voltou com a bebida e duas empanadas!”, lembra a paulistana, que há cinco anos mudou o hábito alimentar por causa de uma intolerância ao glúten e aproveitou para ter um novo estilo de vida, com menos proteína animal. “Fiquei completamente vendido, não lembrava dessa questão”, conta Gustavo. Os dois caíram na risada. “Ele brincou comigo: ‘Se não come carne nem farinha, você vive do quê? Gelo?’.”
“Cheguei a pesar 100 kg aos 20 anos”, conta Liv, hoje com 67 kg. Gustavo, que adora cozinhar, passou a comprar alimentos que se encaixem no paladar da parceira. “Sobraram plantas e coisas que nadam. Não é fácil, mas me viro”, diz ele. Liv, por outro lado, não faz guerra na cozinha. “Não ligo de preparar carnes. Não sou radical assim.” Mas nem tudo são flores, claro. “Com a farinha sei que não tem negociação, mas quem sabe ela não experimenta um bifinho?”, diz Gustavo. Liv acha difícil, mas avisa: “Se for para ter uma recaída, que seja com uma picanha!”. O tempo dirá se ele foi bem-sucedido na tentativa. Enquanto isso, na churrascaria, ela só frequenta a mesa de saladas.
Beleza: Carlos Rosa (Capa MGT) com produtos Nars e L’Oréal Professionnel
Agradecimento: Soul Kitchen (locação)