Thiago Lacerda tem todos os atributos que um aspirante a celebridade gostaria de ostentar: é bonito, bem casado, pai de dois filhos e à espera de mais um; tem uma carreira sólida e coleciona papeis de galã em novelas. Mas o ator segue na contramão do politicamente correto. Fala o que pensa, confessa temer os rumos da profissão e não está nem aí se sai mal na foto dos paparazzi –garante, inclusive, se achar “feio e gordinho” de vez em quando. Casado com a atriz Vanessa Lóes, 42 anos, tem dois filhos, Gael, 5, e Cora, 3, com quem é constantemente visto em passeios pelo Rio de Janeiro, está a espera do terceiro e revela que foi "um descuido meio pensado". Aos 35 anos e no ar em “Joia Rara”, folhetim das seis, Thiago explica porque o rótulo da fama não lhe cai bem. Veja, abaixo, trechos da entrevista com o ator. Na edição de dezembro de Marie Claire, que chega às bancas no dia 4 de dezembro, você encontra a matéria na íntegra.
MARIE CLAIRE Você sente a necessidade de mostrar que é mais do que um ator bonito?
Isso é ou já foi uma questão para você?
THIAGO LACERDA Não. Tenho 16 anos de carreira e nunca me preocupei com isso. Só quero fazer meu trabalho da melhor maneira possível. Tem gente que gosta, tem gente que não gosta. Se for me preocupar com esse tipo de coisa, acabo perdendo tempo.
MC Há algum dissabor em ser o Thiago Lacerda?
TL Muitos. Estar exposto é um dos principais. Hoje em dia todo mundo tem uma câmera, uma opinião, um perfil no Facebook.A informação é rápida e não é sólida. É como a fama, etérea, frágil. Se ficar um ano fora do ar, ninguém lembra de você. A exposição e a velocidade são ônus muito pesados. É absolutamente normal que um jovem faça sucesso em uma novela como Malhação e, depois, não apareça mais em lugar nenhum. E isso é de uma crueldade enorme. A insegurança profissional que um jornalista tem na redação, por exemplo, é a mesma do meu trabalho.
MC Não é um pouco de exagero?
TL Não. É verdade. Se eu não matar um leão por dia, a impressão que tenho é de que amanhã perco o meu emprego. Preciso trabalhar muito. E os atores tendem a acreditar no que é falso. Vejo muitos colegas soberbos, com vaidade descontrolada.Mas a verdade é que a máquina te faz maravilhoso e, quando apaga a luz, você está de cueca no camarim.
MC Por que você diz que não é do show business?
TL Não sou mesmo. Eu tenho vergonha, sou tímido. Por exemplo, festa de lançamento de novela. Claro que, se eu sou o protagonista, estufo o peito e vou. Mas, na maioria das vezes, fico no cantinho, sentado na minha mesa. Só falo se tiver que falar. Eu realmente não tenho essa disposição de ir para a praia para aparecer em foto de paparazzo, de malhar pra ficar bonito e tirar a camisa, de fazer um personagem só porque ele vai agradar as pessoas... Não sou assim. Pra mim, as coisas são mais simples.
MC Mas muitas pessoas querem trabalhar na televisão justamente para desfrutarem dessa vida, não?
TL Eu sei. Mas, na minha opinião, é uma motivação errada. O meu trabalho é contar histórias. No entanto, sei que nos últimos 15 anos surgiu uma profissão nova: as celebrities. Às vezes você vê um cara e pergunta: “O que ele faz?”. Alguém responde: “Ah, ele é um pouco ator, um pouco escritor, surfista, bonitão, poeta, cineasta...” Ninguém sabe exatamente o que aquela figura faz, mas todos os dias ela está nos sites de fofoca e nos jornais. Há os que vivem disso e não sou contra. Se existe uma indústria, bacana, tomara que as pessoas estejam felizes e ganhando sua grana. Mas eu não consigo entender. Eu saio fora.
MC Você se acha tão atraente como dizem?
TL Às vezes sim; outras, não. Agora estou gordinho. Sempre fui atleta, preciso do meu corpo. Quando não estou bem, sinto.Não é uma questão estética. Estou cagando se as pessoas me acham gordo ou magro. É uma questão de bem-estar. Tem dias em que me sinto feio, cabeludo, branco. Mas não me importo. O importante é que eu me sinta saudável e intelectualmente ativo.
MC A Vanessa Lóes, sua mulher, está grávida do seu terceiro filho. Três não é demais?
TL Não acho que seja demais, mas era uma conta que assustava um pouco. A gente sempre quis, mas nunca tomou essa decisão de verdade. Até que aconteceu num descuido meio pensado. Porque qualquer nascimento é um impacto gigantesco numa relação. Fazer filho não é uma brincadeira. É um movimento de muita responsabilidade. Você precisa ter consciência absoluta do que isso significa financeiramente, emocionalmente. É preciso saber a sua real condição de encarar essa empreitada.
MC Você começou a namorar a Vanessa aos 23 anos, já um galã, e se casou aos 29. Em um momento em que poderia sair devorando todas, o casamento colocou os seus pés no chão?
TL Foi importante ter conhecido uma mulher maravilhosa como ela tão cedo, porque essa é uma profissão de seduções. Toda hora conhecemos gente interessante, ganhamos uma grana, nos oferecem tudo. Trabalho desde cedo, sempre soube que minha vocação era produzir. E, quando não estava trabalhando, queria estar com a Vanessa. Não tinha essa coisa das festas, das mulheres. Eu queria viajar com ela. Nesse sentido, costumo dizer que ela me salvou.
MC Como assim?
TL Se não fosse ela, talvez eu não tivesse a credibilidade que tenho, não tivesse feito as coisas que me dão tanto orgulho. Talvez eu houvesse dispensado energia com outras coisas. O fato é que a minha vida seguiu um rumo seguro, familiar. Não que eu tenha procurado isso, simplesmente aconteceu.
MC Casamento é bom?
TL É e não é.Em alguns momentos é legal estar casado.Em outros, não. Eu acho maravilhoso ter a vida costurada como tenho, mas às vezes falo: caraca, que loucura. Não dá! Tenho que fazer alguma coisa pra mudar, ou vai ficar difícil me manter desse jeito. Casamento é uma jornada hercúlea, é feito pra dar errado. Apesar disso, eu acho que é possível dar certo.
MC Casamentos são idealizados como costuma ser a maternidade?
TL Sim, mas a energia gerada entre uma mãe e um filho é algo que um homem jamais saberá no que consiste. A maternidade é uma estrutura muito poderosa. Essa aliança que botam no dedo não é um cordão umbilical. É difícil pra caramba estar casado. Existem muitas dificuldades em se fazer concessões, em entender que um não vai, e nem deve, mudar o outro. É maravilhoso dividir, construir algo com alguém.Mas, por outro lado, o cotidiano tema capacidade de corroer a intimidade.
MC As mulheres têm falado de sexo de maneira cada vez mais aberta, a exemplo das moças do funk, das mulheres-frutas. O que você acha disso?
TL Eu acho machista pra caralho. Por que não existe o homem-fruta? Sinceramente, aquelas mulheres não são bonitas. Eu não tenho tesão. Aquela bunda não é importante, não é bonita. Ela é enorme, não cabe dentro da calça. É cheia de ondulações, silicone. Tem o mesmo valor de uma música idiota, de um funk que toca alguma baboseira imbecil. Temo mesmo valor de uma pessoa que vive de flash na praia.