No restaurante, nos jornais, na fila do cinema, no banheiro do shopping, nos blog e colunas: os comentários sobre o aplicativo Lulu estão em todos os lugares. O polêmico app, criado pela jamaicana Alexandra Chong, desembarcou no Brasil há uma semana e tem sido alvo de amor, ódio e discussões infinitas, que incluem questões como feminismo, privacidade e vingança.
Alexandra e a diretora de marketing do Lulu, Deborah Singer, estão no país há alguns dias para divulgar o produto. Conversamos com elas para entender quais são as principais funções do app, os pontos que geraram tantas polêmicas por aqui e, principalmente, o que esperam do Tubby, versão brasileira e masculina do aplicativo que avalia o desempenho das mulheres na cama.
Marie Claire: A ideia de criar o Lulu nasceu durante um encontro com amigas, logo após o Dia dos Namorados. Como chegou ao formato atual do aplicativo?
Alexandra Chong: Durante esse encontro, conversamos muito sobre maquiagens, roupas, relacionamentos. Percebi que revelávamos detalhes muito íntimos de nossas vidas e que, aquilo tudo, era um aprendizado, uma terapia. Então pensei como seria legal ter um lugar para dividir tudo isso, como um Google para mulheres. Durante minhas pesquisas, percebi que, para qualquer coisa que façamos, desde disputar uma vaga de emprego a comprar uma casa, precisamos de referências. E por que não ter também informações sobre um cara que você está pensando em namorar, ainda mais agora, que conhecemos nossos pretendentes na internet? Foi aí que formatamos o Lulu e o lançamos nos Estados Unidos, há nove meses, e agora aqui no Brasil.
M.C.: Qual é, afinal, a principal função do aplicativo?
A.C. : Na verdade, são duas funções: a primeira é permitir que as mulheres dividam suas opiniões de uma forma fácil e bem divertida. Nós nos inspiramos naqueles testes de revistas femininas, em que escolhemos facilmente uma das alternativas e chegamos a um resultado. A segunda função é permitir que as mulheres leiam informações e, baseadas nelas e em mais um monte de outras circunstâncias, tomem decisões mais seguras. Quanto mais informações há sobre algo ou alguém, mais certeiras são as decisões. E o Lulu foi criado para ajudar nesse aspecto.
M.C.: Em entrevista, você afirmou que, quando faz palestras e pergunta se há homens ali que mudaram seus comportamentos por causa das avaliações que receberam no “Lulu”, muitos levantam a mão. Acha que o aplicativo é uma forma de melhorar o comportamento masculino em relação às mulheres? Como?
A.C.: Sim, o Lulu pode ajudar. Muitos homens já me falaram que, a partir do momento que entenderam de verdade como o aplicativo funcionava, poderiam usá-lo a favor, para aprender e mudar certos comportamentos. Neste período aqui no Brasil, conheci um rapaz que recebeu uma avaliação ruim de uma ex-namorada. E ele só tinha uma ex-namorada. Assim que percebeu os erros que tinha cometido, ligou e pediu desculpas. É uma mudança.
M.C.: Muitas pessoas criticam que o app reproduz um péssimo comportamento masculino: rankear e falar de mulheres como se fossem coisas ou produtos. Concorda?
Deborah Singer: Nós não pensamos desta forma. Não vemos nada de errado em obter mais informações sobre alguém que você está interessado, acho que é, inclusive, uma forma de dar mais poder para a mulher na hora de ela decidir se vai se relacionar com o cara ou não.
M.C.: Muitos homens estão reclamando do anonimato das mulheres. Como a questão foi resolvida nos EUA?
A.C.: Isso perde importância quando o valor central é garantir que as usuárias não sejam julgadas por outras, por isso o anonimato. Nós queríamos ter certeza de que elas conhecessem os caras que estavam avaliando, para que não fosse injusto. Por isso, o aplicativo só permite que sejam dadas notas para amigos do Facebook.
M.C.: O Artigo 43 do Código de Defesa do Consumidor diz que toda vez que for aberta uma base de dados de um consumidor, ele precisa ser comunicado. Por que isso não ocorre com o Lulu?
D.S.: Nós respeitamos a política de privacidade do Facebook e oferecemos três opções para o cara sair do Lulu: pelo site, pelo próprio aplicativo e mudando as configurações de privacidade do Facebook. Acho que a maioria das pessoas se sente confortável em ter perfis públicos em outras redes sociais. No Lulu é a mesma coisa.
M.C.: Em tempos de revenge porn e bullying, acha que o Lulu pode promover o bullying contra os homens?
D.S.: Não, de jeito nenhum. Nós somos muito cautelosos. Para estar no Lulu, é preciso ter mais de 18 anos. Além disso, é um ambiente muito controlado, ninguém pode escrever o que quiser, por isso as hashtags já estão pré-definidas. As mulheres só podem fazer uma única avaliação por homem e, se mudarem de ideia, é só trocar o que escreveram. Por fim, há um mecanismo que permite a outras usuárias concordarem ou não com o que foi dito sobre determinado cara. Acho que tudo isso mantém a questão do bullying sobre controle. Partimos do pressuposto que as mulheres são muito espertas, elas sabem a diferença entre uma avaliação ruim, feita por uma ex-namorada e outras dez avaliações ruins, feitas por mulheres que já ficaram ou conheceram o homem em questão.
M.C.: Quando requerido pela Justiça, em casos de danos a um homem avaliado, as identidades das usuárias podem ser reveladas para que sejam processadas. Isso já aconteceu?
D.S.: Uma das nossas principais preocupações diz respeito a privacidade e o nosso acerto foi criar um ambiente seguro para que as usuárias possam compartilhar suas opiniões. Jamais revelaríamos a identidade de uma delas. Seguimos as leis e acho que não teremos problemas.
M.C.: Será lançado, na próxima semana, o Tubby, uma versão masculina do Lulu. Como imaginam que será esse aplicativo?
D.S.: Lançamos o Lulu nos Estados Unidos há nove meses e, até agora, ninguém criou uma versão para homens. E nós achamos que é porque eles não querem a mesma coisa que nós e Lulu reflete a realidade, mulheres falam sobre homens quando estão em um relacionamento. Os caras não agem assim.
A.C.: Ouvimos muitos boatos nos Estados Unidos que seria lançado um Lulu para homens na próxima semana, no próximo mês. Nunca aconteceu. Não é fácil criar um aplicativo desses. Boa sorte para quem quiser tentar, mas acho que não vai acontecer.
M.C.: Muitos homens já estão se descadastrando. Quais são as chances de o aplicativo ficar obsoleto?
D.S.: Os números dizem o contrário, estamos em primeiro lugar na Apple Store. Acho que a maioria das pessoas entendeu que criamos o aplicativo para ser uma ferramenta divertida e interessante. Eles também querem saber o que nós pensamos deles. Por isso que, quem sai, geralmente volta.