O público que está acostumado a ver Cleo Pires na televisão, como intérprete de mulheres quase sempre sensuais, pode se surpreender com o novo trabalho da atriz no cinema. Em "O Tempo e o Vento", filme dirigido por Jayme Monjardim, ela é Ana Terra, personagem vivida também por sua mãe, Gloria Pires, na minissérie homônima exibida pela Globo em 1985. "Ana Terra tem vontade de transformar os desafios para ser melhor e não ser uma vítima da vida", disse ela em entrevista exclusiva para Marie Claire.
Cleo era adolescente quando assistiu à mãe na série e não guardou boas lembranças da personagem que foi obrigada a enfrentar violência física, sexual e psicológica para ter seu pedaço de terra e viver em paz. A má impressão quase a fez desistir do papel. Durante nossa conversa, ela explicou por que mudou de ideia, além de revelar detalhes de sua vida pessoal e sua aversão ao casamento.
MARIE CLAIRE: Ana Terra é uma personagem superforte. Fez alguma preparação especial para interpretá-la ou pediu algum conselho para sua mãe?
CLEO PIRES: Fiz algumas coisas que já usava com outros papeis, como escolher uma música e encontrar o estado de espírito da personagem em cada cena. Também incluí alguns exercícios físicos específicos, associação com fotos... E não pedi nenhum conselho para a minha mãe (risos).
M.C.: Você relutou muito em aceitar esse papel porque sua mãe tinha feito e, quando assistiu, você não gostou. O que te incomodava de verdade nessa questão?
C.P.: Acho que ninguém gostaria de assistir à mãe sendo estuprada, arrancada, pisoteada. Por mais que eu fosse filha de artistas, quando assisti pela primeira vez, meu emocional não se dava bem com esse tipo de coisa, não conseguia separar. Ficou muito pesado pra mim. Agora tive a oportunidade de relembrar esses sentimentos e resolver a questão.
M.C. Aceitar interpretar Ana Terra foi uma forma de resolver o mal-estar que sentia?
C.P.: Não, de jeito nenhum. Vi que queria esse papel porque a personagem era maravilhosa, não podia deixar passar.
M.C.: Jayme Monjardim, diretor do longa, afirmou que queria uma mulher que tivesse presença para fazer Ana Terra. A sua imagem é muito vinculada ao rótulo de sex symbol. Como lida com isso?
C.P.: É uma brincadeira e eu até gosto, acho bom. Mesmo porque não resvala em nada na minha vida pessoal, quem convive comigo não me trata como sex symbol. As pessoas precisam colocar algum tipo de rótulo em você, mas não me sinto definida por isso. Então, tudo bem.
M.C.: Esse rótulo te pressiona de alguma forma para estar sempre magra, com o cabelo maravilhoso?
C.P.: Não me sinto pressionada. Quem me acompanha sabe que já fui bem mais... gostosuda! (risos) Eu tenho fases, sabe!? Respeito muito o tempo do meu corpo, minhas vontades. Não sairia de casa desarrumada, não por temer os paparazzi, mas porque tenho uma preocupação de estar bem, de gostar do que vejo no espelho. Sou vaidosa, mas de um jeito saudável. Gosto de estar bonita.
M.C.: Recentemente você afirmou em uma entrevista que não acredita em casamento tradicional. Por quê?
C.P.: Na verdade falo isso de fora e assumo que é um grande preconceito. Há casamentos que parecem ser tradicionais, mas as pessoas têm uma troca fantástica, se respeitam e evoluem juntas. O que quero dizer é que tenho muita dificuldade em conviver com outra pessoa. Sempre chega um momento de impasse, em que tenho que abrir mão de quem sou. Pelo menos até hoje não consegui levar de outra forma. Até acredito que exista outro jeito, mas não o conheço ainda.
M.C.: Por que se considera uma pessoa tão difícil de conviver?
C.P.: Eu não me acho chata, mas tenho muitos defeitos (risos). Não sou nada fácil. Sou muito controladora, egoísta... São características difíceis.
M.C. O que é um relacionamento ideal para você?
C.P.: É onde são só vocês dois conquistando o mundo! E com muito respeito, paixão, tesão, desejo de crescer, de ser melhor e sempre estar alinhado com o outro.
M.C. E será que isso existe?
C.P.: Eu gosto de pensar que sim.
O filme “O Tempo e O Vento” estreia no dia 20 de setembro nos cinemas do Rio Grande do Sul e no dia 27 de setembro nas demais capitais do país.