Amarrar uma blusa na cintura por cima da legging para ir até a padaria, atravessar a rua para não passar em frente ao grupinho de homens, jamais ir até a esquina de casa caminhando sozinha. Atitudes rotineiras que muitas mulheres tomam ou já tomaram para evitar ouvir gracinhas ofensivas proferidas em bons decibéis ou passar por situações constrangedoras. O que parece um elogio, um gracejo, na verdade, pode ser um incentivo à violência. Para falar sobre o assunto, a jornalista Juliana de Faria criou a campanha (por enquanto, online) “Chega de Fiu-Fiu”: “São raras as informações, estudos, pesquisas e até matérias sobre assédio sexual em lugares públicos. E é dificílimo lutar contra um problema que não tem cara, nem tamanho. Queremos apontar que a questão existe e que precisamos dar um basta”, explicou em entrevista para Marie Claire.
Na página da campanha, hospedada no site de Juliana, o Olga, é possível encontrar ilustrações, feitas em parceria com a designer Gabriela Shigihara, com doses de humor, que chamam atenção para a questão. Há também uma seção com inúmeros depoimentos de mulheres – e homens também - que já sofreram ou presenciaram assédio sexual na rua. “Essas histórias, que de forma absurda tratamos como comuns e corriqueiras, mostram que este é um problema coletivo e não individual. E se é algo tão generalizado, quem o sofreu não tem culpa por isso. Ninguém deveria ter medo de sair na rua simplesmente porque nasceu mulher”, diz a jornalista.
Em meio a tantos relatos, Juliana recebeu algumas declarações não tão colaborativas com a campanha: “Questionaram a minha aparência, sexualidade, intenções. Até recebi ameaças violentas, de estupro. Acredito que esses ataques sejam por medo de discutir o assunto, pois o debate pode evidenciar os costumes e ações dessas pessoas. Já me falaram que o “Chega de Fiu-Fiu” é muito extremo. Não quero, de jeito nenhum, acabar com o flerte ou o romance. E só o fato de alguém distorcer minha proposta - e não ser capaz de diferenciar o assédio sexual de relações românticas naturais - já mostra como o assunto é problemático”.
Lançada em 24 de julho, as mensagens do “Chega de Fiu-Fiu” já foram compartilhadas por mais de 2 mil pessoas. Juliana quer mais: “a campanha pretende ir além da internet. Até porque, não acredito ser possível solucionar um problema tão grande apenas com posts no Facebook. Na próxima semana divulgaremos uma pesquisa, criada pela jornalista Karin Hueck, com mais de oito mil participantes, para entender melhor como, onde e quando o assédio acontece. E temos intenção de, até o fim do ano, já levar ações também no plano real”. A Marie Claire apoia!