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Conheça Camila Crus, a autora das bijoux usadas por Nanda Costa em Amor de Mãe

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Nanda Costa (Foto: Reprodução Instagram)


 

Quando pensamos no Rio, as imagens que vêm à cabeça são de praias, corpos e da natureza. Não à toa, a marca Flor de Laranjeiras, de Camila Crus, sintetiza esses ícones da cidade, fazendo sucesso tanto entre as cariocas mais antenadas, quanto entre famosas como Nanda Costa, cuja personagem Érica, de Amor de Mãe, usa alguns dos adereços criados por ela. É com suas mãos habilidosas que há oito anos, a cenógrafa cria peças que, numa primeira olhada, parecem flores naturais. Como alternativa frente ao preconceito que enfrenta no mercado de trabalho, a Flor de Laranjeiras é mais um destaque da série #NegrasEmpreendedoras:

Stephanie Ribeiro - Camila, como nasceu sua marca? Acredita que sua formação de cenógrafa ajuda na concepção da Flor de Laranjeiras?
Camila Crus - Sempre gostei de confeccionar meus próprios adornos, utilizando materiais que remetessem a elementos da natureza. Durante o período de Carnaval, esse prazer se intensificava. Usava minhas próprias criações na festa e, de quebra, fazia para algumas amigas também. O que era uma brincadeira deliciosa foi se mostrando também uma possibilidade de negócio. O interesse das pessoas pelas peças e o próprio Rio, que tem um clima bucólico, uma mistura solar de cidade e natureza, foram a inspiração que eu precisava para confiar que poderia criar uma marca. Assim, em 2005, nasceu a Flor de Laranjeiras. Em 2009, passei a vender as peças nas redes sociais como Instagram e Facebook, além de um site e nas principais feiras que reúnem artesãos da cidade, principalmente aquelas regadas a samba, cerveja, amigos, sorrisos e amores. Desde que comecei a faculdade de cenografia, me inseri no mundo do cinema. Trabalhei muitos anos como maquiadora, mas não conseguia me sentir bem nesses espaços. É um mundo muito preconceituoso e racista. A hierarquia no set é desumanizadora. Pessoas com cargos mais altos não se dirigiam a mim, e as semelhantes a mim, com quem me identificava, raramente ocupavam lugar de protagonismo ou estavam na criação. O comum era estarmos na área de prestação de serviços. Então, o sucesso dos meus produtos em alguns carnavais, me deram coragem para largar o cinema e criar a Flor de Laranjeiras.

Camila Crus, da grife Flor de Laranjeiras: peças inspiradas na exuberante natureza carioca (Foto: Divulgação)


 

 


 


Stephanie Ribeiro - Como é a confecção de suas peças? Você participa de todo o processo?
Camila Crus - A formação em cenografia e a passagem pelo curso de belas artes são grandes aliadas no processo criativo. As peças da Flor de Laranjeiras nascem de uma imersão nas possibilidades que a matéria-prima apresenta, misturado à referências de arte e a técnica. As peças inspiram-se numa possibilidade de ser que se conecta a uma dimensão natural e a um estado de espírito de leveza, em contraste à correria do dia a dia. Tudo é feito à mão, com muito carinho, e antenado às novas tendências. O processo de criação é o momento mais prazeroso. Muitas vezes, ao adquirir os materiais, com a coleção já definida, me deixo ser surpreendida por outros materiais que chamam minha atenção naquele momento. No ateliê, pode acontecer de fazer uma peça que não estava programada ou mesmo de reinventar uma outra. A inspiração para o desenvolvimento das peças vem de um olhar que forjei ao longo dessa caminhada, de ver na natureza adereços corporais. Noutras vezes, a inspiração vem de minhas próprias clientes, mulheres que têm uma história ou uma relação com alguma espécie específica e me fazem pedidos especiais. A última coleção, Metamorfose, é uma leitura das situações de mudança que vivemos diariamente. Me inspirei no processo das lagartas, que ficam em casulos até florescerem borboletas. No momento, ocupo todas as funções: desde a compra de materiais, concepção das coleções até os post nas redes sociais, conversas com clientes e vendas. Desejo muito crescer para ter mais pessoas envolvidas nesse trabalho. Tenho parcerias na área de design e fotografia. As fotos, por exemplo, foram feitas por amigas como Larissa Simões, Maria Arregala e Helena Cooper. A criação do logotipo, materiais gráficos e do site foi feita por uma grande amiga, Mariane Martins. A última parceria foi com o Fernando Pank: fizemos uma campanha para o Dia dos Namorados com um conceito de total liberdade nas possibilidades de amar. O resultado foi um vídeo lindo, que pode ser conferido nas redes sociais e no site.

Stephanie Ribeiro - Eu li que você usa suculentas e flores permanentes. Como esses elementos são escolhidos e usados?
Camila Crus - Escolho materiais que se assemelhem ao real e despertem curiosidade. O protagonismo é das flores e suculentas, as bases de metal dos acessórios são escolhidas de forma a não interferir no visual da peça. Acredito que um diferencial da Flor de Laranjeiras é o cuidado que tenho com o atendimento as clientes: procuro estar atenta aos seus desejos e também surpreendê-las com novidades. A inovação trazida com as novas coleções já se tornaram a assinatura da marca.

Stephanie Ribeiro - Qual é a maior dificuldade da confecção de suas peças?
Camila Crus - Ter um negócio é um desafio. É preciso assentar um lugar no âmbito de adereços confeccionados com materiais que remetam ao natural e se tornar uma referência. É que tento fazer. A concorrência me faz estar sempre um passo à frente. É comum neste meio desenvolver uma peça e ver que outras pessoas do ramo acabam absorvendo um pouco do seu trabalho. Mas a moda é antropofágica, me provoco e me movimento para conseguir estar sempre na ponta.
 

Flor de Laranjeiras: peças inspiradas na natureza (Foto: Divulgação)


 


Stephanie Ribeiro - Existe alguma peçaque acredita representar sua marca mais que qualquer outra?
Camila Crus - Atualmente, duas peças são o carro-chefe da marca: a Succlove e o Bougainville, que são muito parecidos com as versões reais em cores e texturas. 

Stephanie Ribeiro - Por fim, como é ser uma jovem empreendedora no Brasil? Qual dica que você daria para quem quer começar o próprio negócio de forma estruturada (produto, site, redes sociais)?
Camila Crus - Nessa trajetória como empreendedora empreendedora negra, vejo muitos obstáculos estruturais como a entrada em certos ambientes ou até mesmo o reconhecimento do meu trabalho. Mas também tive algumas boas descobertas como o incentivo da minha mãe e avó, enquanto toda família não acreditava que era possível eu viver do meu sonho. O novo cenário de afroempreendedores também me inspira e me dá força para seguir na luta. Mas ainda acho que temos pouca representatividade negra. Ser empreendedora tem várias faces _e eu particularmente gosto muito. Adoro trabalhar para mim mesma e fazer o meu horário. Tenho desafios, como descobrir o meu público-alvo e sozinha saber como e onde vender. Hoje temos desafios digitais, de entender os algoritmos, se fazer vista nas redes e na vida real. Para mim, o segredo é amar o que se faz e insistir, pois nesse trabalho cada dia aparece um novo desafio. Quando se ama, sempre se alcança um bom resultado.


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