Quando, aos 24 anos, Sílvia Ribeiro cursava Odontologia na Universidade de São Paulo (USP) e recebeu o cartão de um olheiro de uma agência de modelos, a primeira reação foi de susto. Achava que ele poderia ser mais um aproveitador de garotas. Na época, a carioca, que sonhava em ser dentista, deixou o cartão de lado. Anos depois, por curiosidade, resolveu arriscar. Depois de aprovada nos testes, a "exigência" era perder alguns quilos e musculatura, que conquistou durante anos de práticas esportivas.
Para isso, Sílvia começou a correr, nadar e fazer aulas de spinning. O contato com o triatlo, pelo qual já tinha interesse, coincidiu com o abandono do curso universitário e a mudança para o exterior. “Quando dei por mim, estava correndo, nadando bastante e focando no trabalho para poder comprar a minha primeira e tão sonhada bicicleta”, diz Sílvia. Em meio aos treinos, trabalhos como modelo e gravações de uma série no canal pago “Off” – com estreia prevista para 2014 - a triatleta falou com exclusividade a Marie Claire sobre moda, beleza e esportes:
MC: Como foi o início de sua relação com o esporte?
Silvia: Devo isso ao meu pai que, como bom maratonista, sempre me apoiou e me incentivou para a prática esportiva. Cresci praticando esportes. Quando era criança, meus pais me matricularam em uma escolinha de ginástica olimpica e natação. Aos 10 anos, me apaixonei pelo vôlei, que pratiquei durante 12 anos.
MC: Como foi o primeiro contato com o triatlo? Teve alguma dificuldade em lidar com os treinos rigorosos no início?
Sílvia: O meu primeiro contato foi quando ainda era adolescente. Na época, defendia um clube grande que, além do vôlei, tinha outras modalidades - entre elas, o triatlo. Lembro de um dia que estava me preparando para treinar, quando me deparei com a equipe e pensei: "Nossa, isso é lindo, mas deve ser muito puxado! Como não gosto de correr, nunca conseguiria fazer o que eles fazem!". Anos depois, a vida me provou que nada é impossível. Acredito que todo iniciante num esporte de endurance encontra dificuldades. No começo você se esforça sem ver muitos resultados. Isso é desgastante, tanto mental quanto fisicamente. Mas é ai que entra a força de vontade. Quando você realmente quer algo, corre atrás e concretiza. Uma vez que isso acontece, o esporte se transforma em algo viciante e você não consegue mais parar.
MC: Você emagreceu muito quando era modelo? E quando começou a treinar?
Sílvia: Tive que perder medidas principalmente no quadril. Não era muita, pois sempre fui magra. Mas, como a maioria das mulheres brasileiras e como uma ex jogadora de vôlei, tinha o quadril e pernas com medidas acima do desejável para o mundo da moda. Além disso, tive que fazer o que considero o mais difícil: a perda do porte atlético e, consequentemente, da musculatura. Quando comecei a treinar para isso, a perda de peso foi inevitável, principalmente porque foi conjugado com uma dieta alimentar direcionada e acompanhada por uma profissional.
MC: Quais treinos específicos você indica para quem quer perder peso mais rápido?
Silvia: Em primeiro lugar, o "treino mental", pois além de ter que acreditar que vai alcançar o objetivo, precisa ter força de vontade. Depois vem a dieta e a reeducação alimentar que, para mim, é entre 60 a 70%, conjugada com uma atividade aeróbica.
MC: Você já fez várias modalidades, como Sprint e Ironman. O que, na carreira de triatleta, ainda não fez, mas sonha fazer?
Sílvia: Sonho em fazer o RAAM (Race Across America). Sei que não é um triatlo, mas é uma prova de ciclismo bem desafiadora. Ela consiste em atravessar os Estados Unidos (da costa Oeste para a Leste) de bicicleta. São aproximadamente 5 mil quilômetros (3 mil milhas) pedalando! Não pretendo fazer sozinha, mas sim em grupo. Um quarteto, para ser mais exata.
MC: Continua conciliando os trabalhos como modelo com a carreira esportiva? Qual dos dois te dá mais prazer?
Sílvia: Sim, continuo conciliando os dois. Mas não tanto quanto antigamente pois, além do mercado fashion estar bem desacelerado, meu corpo está mais atlético por causa da intensa prática esportiva. Mesmo assim, estou tendo uma boa aceitação no mundo da moda. Quanto ao prazer...é uma pergunta complicada, pois ambos são completamente diferentes! Amo os dois. São extremamente prazerosos, mas claro que em diferentes proporções.
MC: Por ser modelo, e muito bonita, já recebeu cantadas de outros esportistas? Alguma saia justa?
Sílvia: Sim, mas não pelo fato de eu ser modelo e sim pelo fato de haver pessoas extremamente inconvenientes no mundo. Já levei cantadas de professores na faculdade, andando pela rua, em treinos e até em competições. A que eu não pude acreditar ocorreu no final maratona do Ironman. Só quem já fez um para entender o porquê da minha surpresa!
MC: Já sofreu preconceito por ir do mundo da moda para o mundo dos esportes?
Sílvia: Infelizmente já, devido aos paradigmas que as pessoas criam em cima de uma devida profissão. Quando falam das modelos, tenho certeza de que na cabeça da maioria das pessoas o que vem é a imagem de uma mulher bonita, mas vazia. Ou seja, se é modelo não pode ser inteligente ou não pode ter algum interesse em se tornar uma boa atleta por ser "fresca". Uma pena...
MC: Em entrevistas, você já contou que os treinos começam muito cedo, às 5:30h, e nunca consegue dormir após às 22h, por causa do cansaço. Segue alguma dieta ou algum segredo de alimentação que ajude a ter mais disposição?
Sílvia: Não há nenhum segredo. Minha dica é para sempre respeitar o seu corpo e seus limites, pois cada um tem o seu. Tem um ditado em inglês que vai se encaixar muito bem aqui: "You get what you give" ( Você recebe o que dá). Logo, tratando você mesmo bem e com respeito, seu organismo vai responder a isso, dando uma melhora significativa na qualidade de vida e na disposição.
MC: O que falta para o ciclismo se concretizar como um estilo de vida?
Sílvia: Devemos deixar a bicicleta mais acessível à população. Conscientizar que podemos, sim, usar a bike como meio de transporte, disponibilizar vias plausíveis para as pedaladas, tanto na segurança quanto nas condições do asfalto.
MC: Por que os brasileiros ainda não aderiram totalmente à bike?
Sílvia: Acredito que seja não só pela falta de costume ou de hábito, mas também pela falta de segurança, pela dificuldade de acesso e pela precariedade das ciclovias e ruas brasileiras. Me tomando como exemplo, posso dizer que não me sinto nem um pouco segura de pedalar sozinha ou em grupo nas ruas e estradas do nosso país.
MC: Qual a ideia do seu programa no canal pago Off?
Sílvia: A ideia é mostrar o ciclismo de uma forma não competitiva, diferente de como é exposta atualmente. Vamos mostrá-lo como estilo de vida, que qualquer pessoa pode praticá-lo, independente da idade, sexo, distância e dificuldade.
MC: No programa, você aparecerá pedalando mundo afora, em várias estradas diferentes. Tem algum lugar pelo qual pedalou que achou inesquecível?
Sílvia: Dolomites, na Itália. Lembro que pousamos em Milão e tivemos que dirigir até lá...Foi uma longa viagem. Quando chegamos no hotel, comecei a sentir os efeitos da altitude e do fuso horário. Não conseguimos dormir nada e, no dia seguinte, saímos cedo para conhecer os locais das gravações. Era uma paisagem única, os opostos lado a lado: uma paisagem verde, acolhedora e muito graciosa e, do outro lado, uma inóspita, Sem ter tempo para acostumar com o horário local, tive que pedalar. Foi pesado! Muitas subidas, mudanças climáticas bruscas, com períodos de muito frio, chuva e algumas aberturas de sol. Senti alguns dos efeitos da altitude, como falta de ar, dor de cabeça, fadiga e, somado às condições locais, considero que foi uma pedalada muito dura. Mesmo assim valeu muito a pena! Só de pensar que estava no percurso de uma das etapas do Giro d'Itália e que os maiores nomes do ciclismo mundial tinham passado por lá há alguns meses, me deu um incentivo a mais. Mesmo sentindo todas essas dificuldades, senti que tinha evoluído muito, pois tinha conseguido ir além dos meus limites e terminado o percurso com a mente em paz. Foi gratificante.
MC: Qual o seu maior sonho no mundo esportivo?
Sílvia: Gostaria de ver mais pessoas praticando esportes. De uma maneira limpa e saudável, ele traz saúde, disciplina, educação e consciência do respeito mútuo. Adoraria ver um maior incentivo ao esportista, tanto amador quanto profissional. Quanto a mim: almejo levar a todos a beleza do esporte, independente de qual se pratique. Quero mostrar o ciclismo e o triatlo como um estilo de vida, que ninguém precisa ser profissional para praticá-los. Basta ter um pouco de força de vontade e amor à vida!