Três anos atrás, quando Stella, de 33 anos, perdeu o emprego em um supermercado, sua única fonte de renda, ela viu seus bens, inclusive sua casa, serem tomados em meio à profunda crise econômica pela qual a Grécia passa desde 2008. Em um país com taxa de desemprego de 25%, não havia mais onde encontrar trabalho, exceto em um lugar: nos bordéis de Atenas.
Stella é mais uma das muitas mulheres que recorreram à prostituição como última alternativa para sobreviver. "Não há dados confiáveis do governo sobre os sem teto ou trabalhadores sexuais, mas a avaliação de ONG's é de que o número de pessoas que vivem nas ruas e trocam sexo por dinheiro ou bens aumentou", afirmou Eva Cossé, pesquisadora da Humans Rights Watch à Marie Claire americana após conduzir pesquisas sobre o tema no último ano em Atenas.
A prostituição não o ofício que muitas gregas imaginaram para si quando estudavam ou se preparavam para uma entrevista de emprego. Vender o corpo para o sexo é, para a maioria, o último recurso para sobreviver em um lugar onde não há empregos e nem mesmo uma casa para morar. O Centro Grego de Ciências Sociais e a Universidade de Panteon estimam que o número de trabalhadores sexuais aumentou em 150% desde o colapso do mercado em 2008.
Embora seja permitido por lei, prostituir-se na Grécia não é nada fácil. As mulheres submetem-se a exames médicos periódicos a cada 15 dias e só podem trabalhar após conseguirem um registro para exercer a atividade. Não há, no entanto, direitos trabalhistas para elas, e as casadas são impedidas de usarem o corpo para sexo remunerado.
Um dos maiores problemas que as novas prostitutas enfrentam regularmente no país é a brutalidade policial, segundo informou a Human Rights Watch. "Nós descobrimos que a polícia de Atenas frequentemente assedia os trabalhadores do sexo", contou Cossé. "As detenções arbitrárias interferem no acesso aos serviços de saúde e no apoio do governo."
Anna, uma mulher de 33 anos de idade que se prostitui, disse ser revistada pelo menos três vezes por dia por agentes de segurança do centro da capital grega. "Eles me disseram: 'Vamos levá-la para verificarmos sua identidade'", lembrou. "Eles me param o tempo todo, todos os dias. Agora, me conhecem pelo nome."
Quando detidas, elas são vítimas de tratamento degradante na delegacia. "Falam com você da pior maneira possível. Chamam de vagabunda, imunda. Tudo isso está acontecendo porque, supostamente, querem limpar o centro de Atenas".
A crueldade não é aleatória: Em 2012, o Ministério da Saúde grego fechou centenas de bordéis sem licença como resposta ao acentuado aumento das taxas de HIV no país. Nessa época, a polícia foi criticada por prender aleatoriamente os trabalhadores sexuais e forçá-los a passarem por testes de HIV, ato que foi considerado como "uma violação terrível dos direitos humanos e do sigilo médico", por ativistas.
Como resultado, cerca de 30 mulheres foram acusadas de cometer delitos graves por serem portadoras do HIV. Seus nomes e fotos foram publicados na internet para forçar os clientes a se submeterem a exames.
O procedimento constrangedor teve um enorme impacto sobre a fotojornalista grega Myrto Papadopoulos quando pesquisava o aumento na indústria pornô na Grécia e sua ligação com a crise financeira.
"O ministro da saúde explorou essas meninas na mídia. Isso me deixou furiosa e irritada", afirmou. A fotojornalista, então, deixou de estudar a indústria pornô para encontrar as profissionais do sexo, tanto as registradas quanto as que estavam em situação irregular, para registrar o drama de suas novas vidas.
"A verdade é que sempre que o país está em uma situação muito difícil, como uma crise financeira, a indústria do sexo é uma das que mais cresce", enfatizou. "Quando as coisas estão difíceis, as pessoas agem de forma mais selvagem."
De acordo com Papadopoulos, muitas mulheres que trabalham no comércio do sexo são vítimas de tráfico humano e são submetidas ao tratamento brutal dos cafetões e clientes. Elas estão presas em um ciclo de pobreza e abuso de drogas, alimentada pela piora da economia.
Papadopoulos, numa tentativa de ajudá-las, deu início a oficinas de arte-terapia. "Meu objetivo com este projeto é conscientizar, com certeza, mas, principalmente, fazer com que algumas dessas mulheres possam ser reabilitadas e reintegradas de volta à sociedade".
Infelizmente, a sociedade grega ainda não tem muito a oferecer. Nas semanas seguintes ao anúncio de um plano econômico da União Europeia para aliviar a economia do país, o Primeiro-Ministro Alexis Tsipras renunciou após apenas oito meses no cargo. As perspectivas são sombrias, mas mulheres como Stella, Anna, Eva, e Myrto mantêm a esperança.