Foi uma simples pergunta da filha Sophia, então com 6 anos, que levou a mãe, Érika Foureaux, 40, a mudar sua vida. Logo no primeiro dia de aula da menina em uma escola de Belo Horizonte, onde vive com a família, Sophia, que tem paralisia cerebral, perguntou: “Mamãe, onde vou sentar?”. Era o ano de 2001 e as cadeiras da classe não eram adaptadas às suas dificuldades. Sem um assento anatômico que oferecesse estabilidade para o quadril, a menina não conseguia escrever. Érika decidiu lutar para acomodar (e integrar) Sophia, hoje com 20 anos, na escola.
“Tenho mais duas filhas: Julia, 22, e Nina, 15. Sempre batalhei para dar a mesma oportunidade para as três”, afirma a mãe. Por isso, largou o trabalho em uma empresa francesa de móveis infantis e criou uma ONG para estudar a realidade das crianças com deficiência no país, militar por seus direitos e desenvolver soluções para que elas possam estudar e brincar como qualquer outra. “Não me conformo com a desigualdade. A revolta me fez agir”, diz. Nascia assim o Instituto Noisinho da Silva, “porque ‘euzinha’ sozinha não faço nada, mas ‘noisinho’ fazemos”, diz.
O primeiro passo foi catalogar a anatomia dos quadris e colunas de 3 mil crianças com dificuldades motoras. “Carimbamos o bumbum de cada uma delas e chegamos a um desenho universal. Foi um investimento de mais de R$ 1 milhão”, conta a mineira. A partir desse trabalho, nasceu a primeira carteira escolar ergonômica do mundo, capaz de acomodar crianças com ou sem deficiência. Na sequência, Érika criou uma cadeirinha para crianças de 1 a 6 anos apelidada de Ciranda, cujo desenho permite que aquelas que não conseguem sentar sozinhas possam brincar com os amigos em rodas no chão – algo comum durante a infância. O trabalho rendeu-lhe diversos prêmios no Brasil.
Depois de anos buscando doações para a ONG e viajando o país para distribuir cadeiras e carteiras funcionais, Érika fundou, no fim de 2012, uma empresa para vender e exportar os produtos. “A ideia era gerar a sustentabilidade financeira do instituto”, diz a empreendedora. Nascia, assim, a The Products, que, além da venda online para pais de crianças deficientes no Brasil e no exterior (Érika já mandou sua cadeira para Angola, Moçambique e Arábia Saudita), fornece material para prefeituras, Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) e fundações empresariais. Agora, a The Products prepara-se para comercializá-los também em lojas de artigos para bebês.
Parte do lucro é revertida para pesquisas do Instituto Noisinho da Silva. No ano passado, Érika foi finalista do prêmio Cartier de empreendedorismo feminino e a The Products ganhou o certificado B, que garante que nenhuma das etapas de fabricação tem exploração social nem ambiental. No início de 2015, venceu ainda o prêmio da Câmera de Comércio Ítalo-brasileira de Minas Gerais. Já Sophia, que estudou com a carteira feita pela mãe, hoje cursa o terceiro ano da faculdade de psicologia na PUC de Minas Gerais.