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Forçadas a casar com parentes, irmãs escapam de seita religiosa: "Opções eram suicídio ou fugir"

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IRMÃS ESCAPAM DE SEITA RELIGIOSA NOS ESTADOS UNIDOS (Foto: REPRODUÇÃO/YOUTUBE)

"Não poderia viver mais um dia na Ordem, por isso as únicas opções eram suicídio ou sair", desabafou a Jessica, de 27 anos, após escapar de uma seita poligâmica nos Estados Unidos com suas duas irmãs Andrea, 24, e Shanell, 24. Criadas desde o nascimento sob o domínio de religiosos e com pouco contato com o mundo externo, as meninas deixaram suas famílias em busca de uma nova vida. "Foi muito difícil deixá-los, mas nós simplesmente não podíamos viver na opressão."

A história das jovens, que trocaram de nome diversas vezes temendo represálias, foi mostrada da TV americana em um documentário chamado "Escaping Polygamy". Elas denunciaram os casamentos forçados com tios e primos e falaram sobre os constantes abusos físicos e mentais que sofreram por anos.

As três fugiram de uma seita dissidente de mórmons fundamentalistas chamada Ordem, ou o Grupo de Kingston, que se separou da Igreja Dos Santos Dos Últimos Dias em 1920. Desde então, pregando a poligamia para seus 1200 membros,  a organização ergueu um império avaliado em R$ 150 milhões.

Jessica conta no documentário que fugiu de casa sem que ninguém visse e parou na primeira loja de conveniência que encontrou. "Eu liguei para uma tia e ela chamou a polícia". Mas as autoridades a mandaram de volta sem compreender direito o que havia acontecido. Dias depois, no entanto, uma ordem judicial retirou a guarda legal dos pais e, depois de audiências com um juiz, Jessica foi adotada por uma nova família aos 18 anos de idade.

Shanell se casou com um primo aos 18 anos, mas poucos meses depois começou a sofrer violência doméstica. "Eu liguei para minha mãe e pedi para fugir". Mas o marido da americana ouviu a conversa e começou a agredi-la enquanto a mãe da jovem ouvia tudo pelo telefone. A polícia foi chamada e Shanell alcançou, finalmente, a liberdade.

Andrea, muito emocionada, deu poucos detalhes sobre seu passado.

CASAMENTO
Aos 14 anos, Jessica foi obrigada a ficar noiva de um tio de 42 anos de idade, mas perto da data do casamento conseguiu fugir. A lembrança da "relação inapropriada" que manteve com o homem, no entanto, a então adolescente não conseguiu evitar.

"Eles amam seu sangue, acham que é puro. Acreditam serem descendentes diretos de Cristo", disse Jessica. "É como se quisessem criar uma raça pura dos Kingstons [sobrenome da família]". A intenção, denunciou, é casar jovens meninas com seus primos e tios para aumentar os descendentes e povoar o mundo. Segundo a americana, um de seus parentes está se formando em genética para evitar que a união entre familiares provoque o nascimento de crianças com deficiências.
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TRABALHO
Todas as mulheres casadas e seus filhos constituem uma grande força de trabalho para os negócios da Ordem, no qual todos dividem tarefas na agricultura, construção, limpeza, entre outras atividades. "Comecei a trabalhar quando tinha uns oito anos de idade", contou Jessica.

Andrea, que atualmente cursa direito, começou a trabalhar aos nove anos, limpando um edifício de escritórios diariamente após a escola.  "Você não tem salário mínimo, trabalha porque seu pai manda", falou. "E isto é para todos, não apenas para crianças de oito anos".

O salário que elas ganhavam com o trabalho, sem valor nos Estados Unidos, era depositado em uma conta num banco da seita. "Você precisa explicar onde vai usar dinheiro", lembrou. Os membros da Ordem só podem gastar o salário nos negócios da família, que tenta ser autossuficiente, com um posto de gasolina, um supermercado e uma loja de roupas.

ISOLAMENTO
As crianças nascidas na seita são ensinadas a esconder as marcas de agressões quando  têm contato com pessoas de fora da comunidade. "Você não percebe que é abusivo porque é tudo o que conhece", afirmou Jessica. Ela já sofreu e presenciou espancamentos severos.

Os líderes da Ordem são homens discretos que aparecem de tempos em tempos com o objetivo de "procriar", e depois vão embora deixando as mulheres grávidas e suas crianças com poucos recursos financeiros. Algumas ficam na miséria.

"A Ordem tenta se misturar com a sociedade normal para não ser identificada. Eles colocam nomes falsos na certidão de nascimento para que as autoridades não consigam notar conexões". Jessica, por exemplo, contou ter mais de 200 meio irmãos, filhos de um mesmo homem chamado Daniel.  "Tenho esperança que de tão grande eles percam o controle".

Agora que estão em liberdade, as americanas mantêm contato com alguns familiares para ajudá-los a sobreviver com a doação de mantimentos. Elas dizem atender constantemente telefonemas e mensagens de texto com de socorro.


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