Não é fácil ser magro no Brasil. Uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde mostrou que estamos seguindo os passos da população americana, uma das recordistas em obesidade no mundo: 52% dos brasileiros estão com excesso de peso e 17% já são considerados obesos (nos Estados Unidos, os índices chegam a 63% e 27,7%, respectivamente).
O problema se tornou uma questão de saúde pública. “Gastam-se bilhões em tratamentos para doenças ligadas à obesidade. É uma situação preocupante”, diz o endocrinologista Pedro Assed, do Rio de Janeiro.
O uso de emagrecedores, mesmo para casos graves – não só para quem precisa perder 5 kg –, divide a opinião dos especialistas. “Há um preconceito com esses medicamentos, mas na verdade são bons aliados para a perda de grande quantidade de peso”, diz Assed. O nutrólogo Guilherme Giorelli, do Rio de Janeiro, concorda: “Prescrito por um especialista e associado a dieta e atividade física, o uso dessas drogas é muito valioso”.
Nem todos, no entanto, são a favor. O nutriendocrinologista Theo Webert, de São Paulo, diz que os medicamentos não atacam a verdadeira causa do problema. “Na maioria dos casos, o paciente não sabe diferenciar fome e vontade de comer.
A comida vira uma fonte de prazer ou compensação por uma série de fatores que precisam ser investigados antes de serem combatidos com medicação”, diz o médico, alertando ainda para o perigo do efeito rebote. “Se as causas forem disfarçadas, o paciente vai voltar a ganhar peso.”
A única unanimidade entre os experts é a indicação dessas substâncias: devem ser recomendadas apenas para casos de obesidade crônica e sobrepeso com agravantes (diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão e disfunções hormonais). Há, ainda, métodos além das cápsulas e pouco invasivos, como um implante que inibe a fome. A seguir, as principais novidades da área.
FEXARAMINE
Pílula da refeição imaginária
É a droga mais comentada nos congressos de 2015. Ainda em fase de testes nos Estados Unidos, foi apelidada de “pílula da refeição imaginária”. Seu objetivo é “enganar” o cérebro, fazendo o organismo pensar que está se alimentando normalmente.
Benefícios: O remédio estimula a liberação de um hormônio que avisa o cérebro que o corpo já está abastecido. Também ajuda na queima de gordura e, como não há ingestão de calorias em excesso, o paciente perde peso.
Indicação: Para obesos com IMC (índice de massa corporal) acima de 30. Os testes têm sido feitos com uma pílula por dia, antes de uma refeição.
Efeitos colaterais: Ao contrário da maioria dos medicamentos, esse não é absorvido pelo sistema sanguíneo e, por isso, causa menos reações. Contudo, há relatos de enjoo e dor de cabeça.
Perda de peso: Até 15% do peso total em um ano.
CONTRAVE
Para quem come por ansiedade
Liberado no ano passado nos Estados Unidos, associa a bupropiona e o naltrexone, substâncias com ação antidepressiva e utilizadas para combater casos de dependência de álcool. Ou seja, é eficaz para comedores compulsivos. Ainda não tem previsão de chegar ao Brasil.
Benefícios: Em conjunto, os ativos atuam no sistema de recompensa do cérebro e reduzem o apetite. Também ajudam a diminuir a circunferência da cintura, prevenindo, assim, doenças cardíacas.
Indicação: Associada a uma dieta de baixas calorias, a medicação deve ser usada por adultos com IMC acima de 27 e problemas ligados à obesidade (hipertensão, diabetes ou distúrbios cardiovasculares). São necessários dois comprimidos diários, um a cada refeição (almoço e jantar).
Efeitos colaterais: Náuseas, dor de cabeça e tontura.
Perda de peso: Até 5% do peso total em seis meses.
SAXENDA
Para perder pouco peso
Também foi aprovado nos Estados Unidos no fim do ano passado, assim como o Contrave, e é composto de liraglutide, o mesmo princípio ativo do Victoza – remédio para tratar o diabetes, usado no Brasil off label (quando o medicamento é aprovado pela agência reguladora, mas para indicação diferente do que consta na bula) para reduzir o excesso de peso. Ambos são injetáveis.
Benefícios: Diminui a velocidade com que a comida sai do estômago, ajudando a controlar o apetite e a prolongar a sensação de saciedade. A droga também tem evidências de reduzir o risco de diabetes.
Indicação: Deve-se usar uma injeção diária de 3 mg (aplicada geralmente no abdome) antes de uma refeição principal (almoço ou jantar). Seu uso é recomendado para pacientes obesos ou com sobrepeso que tenham IMC acima de 27 e doenças associadas, como hipertensão ou diabetes.
Efeitos colaterais: Enjoos, diarreia, hipoglicemia, prisão de ventre, dor de cabeça estão entre as reações mais comuns. É contraindicado para pessoas com histórico familiar de câncer de mama ou de tireoide.
Perda de peso: Até 10% do peso total em seis meses.
OBALON
Um “balão” temporário
Trata-se de uma cápsula gelatinosa que, ao chegar ao estômago, é inflada pelo médico através de um tubo fino, formando um balão do tamanho de uma maçã. O dispositivo pode ficar até três meses no organismo do paciente com o objetivo de promover a sensação de saciedade e depois é removido por meio de uma endoscopia. A técnica é sucesso no Reino Unido e está em fase de estudo para aprovação pelo FDA (agência americana reguladora de medicamentos e produtos de saúde), nos Estados Unidos, e pela Anvisa, no Brasil.
Benefícios: É considerada uma alternativa menos invasiva para quem pensa em encarar a cirurgia bariátrica. Aliado a uma dieta equilibrada, o método ajuda a controlar o apetite e a regular a satisfação pós-refeição.
Indicação: O Obalon é recomendado para quem tem sobrepeso e apresenta IMC acima de 27. É possível implantar até três balões por vez, dependendo da indicação do médico – quanto maior a perda de peso necessária, mais balões são ingeridos.
Efeitos colaterais: Náuseas e vômitos nos três primeiros dias após a implantação. Também podem surgir casos de refluxo, cólicas estomacais e indigestão. É contraindicado para quem realizou cirurgias anteriores no estômago, tem alergia a produtos ou alimentos de origem suína ou possui algum distúrbio do trato gastrointestinal. Não é permitido também na fase de amamentação ou por quem tenha intenção de engravidar.
Perda de peso: Até 10% do peso total em 12 semanas.
MAESTRO SYSTEM
O “marca-passo” que emagrece
O Maestro não é um remédio, e sim um aparelho que acaba de ser aprovado pelo FDA e deve começar a ser comercializado nos Estados Unidos no próximo semestre. O dispositivo, semelhante a um marca-passo, inibe o sinal emitido pelo nervo vago (localizado entre o esôfago e o estômago) para avisar que o corpo precisa comer, informando que ele já está alimentado e contribuindo com a diminuição da fome. Por meio de uma pequena cirurgia com duração de cerca de uma hora, feita em hospital sob sedação, o médico implanta dois fios ligados a uma bateria inserida de forma subcutânea no tórax. A bateria é recarregada via bluetooth.
Benefícios: É um dos mais promissores recursos para pacientes que não responderam a tratamentos anteriores, com dieta ou com medicamento. Uma excelente alternativa antes de se submeter a métodos bastante radicais, como a cirurgia bariátrica.
Indicação: Para pessoas com obesidade mórbida, IMC acima de 35 e que apresentem pelo menos uma doença ligada à obesidade, como diabetes do tipo 2, hipertensão ou problemas cardiovasculares.
Efeitos colaterais: Dores no abdome, na cabeça e ao redor do local da incisão. Podem ocorrer, ainda, náuseas, azia e dificuldade para engolir. Não é indicado para quem ainda está amamentando.
Perda de peso: Até 24% do peso total em um ano.