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Tudo o que aprendi sobre autoconfiança com as mulheres brasileiras

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Cecile (Foto: Ludovic Ismaël)

1. O que significa "ser bonita" para você hoje?
Hoje em dia, ser bonita significa ter um corpo que corresponda aos padrões de beleza da nossa sociedade. Ser refinada, feminina, jovem, mas também recatada, misteriosa e controlada. Nós de "L’Équipee" estamos tentando fugir dessas noções, que não nos satisfazem apesar de toda a pressão que sofremos desde meninas, para nos enquadrarmos a elas. Eu pessoalmente levo uma vida de mulher ativa, sempre procurando ultrapassar meus limites. Gosto de viajar, de conhecer pessoas e conviver com elas. Gosto de desafios físicos. Gosto de sair da minha zona de conforto, me afastar do computador e do espelho, e ficar ligada no que está acontecendo à minha volta, seja no meu bairro ou em outros países. É isso que me estimula. Não sei se o fato de viver assim faz com que eu seja bonita, nunca me preocupei muito com isso. De qualquer forma, me sinto realizada. Acho que meu sorriso e minha vontade de fazer coisas são o que me tornam bonita.
 

Cecile abraça mulher no Rio (Foto: Ludovic Ismaël)

2. Como as mulheres brasileiras exprimem a beleza delas? Difere muito do seu próprio conceito de beleza?
No começo da viagem, ainda no Rio, jogamos vôlei de praia com outras mulheres em Copacabana. Eu me dei muito bem com uma delas, uma garota com os pés no chão, simpática, muito descolada e original. Ficamos em contato por email e ela escreveu para mim contando como tinha se sentido insegura por causa do físico dela: ela se achava gorda e por isso não se sentia bem. Ambas concordamos que o peso da pressão estética ultrapassa fronteiras e não deixa você viver a vida como quer por não se sentir perfeita. Eu realmente vivenciei um momento muito verdadeiro com ela, algo divertido, simples e autêntico, em torno da amizade através do esporte. Mas fiquei triste ao saber que ela tinha se sentido inibida por causa da baixa autoestima que tem. E se uma mulher tiver uns quilos a mais ou não for considerada tão bonita, será que ela não tem o direito de viver, de curtir o dia a dia, de ser feliz?

A motoqueira faz as unhas (Foto: Ludovic Ismaël)

 

3. Qual é a lição de beleza que você vai levar para casa dessa viagem?
A minha "lição de beleza" foi em Noiva do Cordeiro, o "vilarejo das mulheres". Fomos acolhidas lá como se fôssemos da família. Tinham dito para a gente que não tinha nenhum homem lá. Mas na verdade, os homens passam a semana na cidade trabalhando e deixam as mulheres cuidando da comunidade sozinhas. Elas trabalham na lavoura todos os dias e nas tardes de sexta-feira, se arrumam para a volta dos maridos. Fazem as unhas umas das outras, algo que eu nunca faço, porque sou uma mulher de ação e geralmente não ligo muito para essas coisas, que costumo achar desnecessárias. Mas em Noiva do Cordeiro, vi um homem com um bebê nos braços observando sua mulher carinhosamente, enquanto ela cuidava de si mesma e das amigas. Fiquei muito comovida com essa atenção, porque estou mais habituada com homens que tiram sarro das mulheres por causa daquilo que consideram "futilidades". Esse foi um momento especial em que eu percebi que você pode ser uma mulher forte e independente e ao mesmo tempo 100% feminina, que trata do corpo e tem o cuidado de ficar bonita para o seu homem, sem competição nem submissão, só harmonia.

As francesas fazem uma cavalgada  (Foto: Ludovic Ismaël)

4. Você encontrou beleza em lugares inesperados?
Perto de Miranda, fomos acolhidas na Fazenda San Francisco por umas mulheres extraordinárias: Beth Coelho e suas quatro filhas. Ajudamos os vaqueiros a levar, de cavalo, uma manada de 200 cabeças para o pasto. Avisaram para termos muito cuidado porque às vezes os animais podiam avançar. Então Carolina, uma das filhas, abriu o curral. Nossa função era impedir que as vacas se dispersassem, obrigando-as a seguir por um só caminho, para o campo verde do outro lado do rio. Ficamos firmes. Você tem que ficar perto das vacas, entendê-las e encará-las. Muitas conseguiam escapar, aí era preciso cavalgar atrás delas para trazê-las de volta. Os vaqueiros gritam o tempo todo para manter o domínio sobre os animais. É uma dança sem fim. Não sei bem qual foi nosso papel nisso tudo, mas com essa missão, me senti totalmente transcendida. Cheguei a esquecer que eu era apenas uma visitante parisiense e até que tinha 32 anos. Fiquei totalmente tomada pela ação, extasiada com a energia dos animais. Voltamos cantando com os vaqueiros, orgulhosas por termos dado o melhor de nós. É aí que está a beleza. Beleza tem a ver com esquecer a si mesma, se deixar tomar pelo momento. Eu não sei como agradecer a essa linda família e a essa equipe por nos terem dado a oportunidade de vivenciarmos essa experiência.
 


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