Malhar cinco vezes por semana, cortar o carboidrato, abdicar dos drinques e passar longe de doces e frituras. Essa, teoricamente, é a receita para manter o corpo em forma. Mas e se houvesse uma fórmula mágica que ajudasse a ganhar músculos e acabar com a celulite? Muitas mulheres acreditam que a encontraram: ela está nos implantes hormonais, cada vez mais populares entre blogueiras fitness e modelos.
Com preço médio de R$ 3 mil, esses “chips”, como são popularmente chamados, são “tubinhos” de plástico ou silicone que podem ter seis tipos de hormônio: elcometrina, nomegestrol, gestrinona, estradiol, testosterona e progesterona.
Criados como método anticoncepcional alternativo à pílula, alguns implantes – que são inseridos no braço ou no glúteo com anestesia local – têm como efeito colateral o aumento da massa magra e a diminuição da celulite.
A atriz Letícia Birkheuer, de 37 anos, é uma das adeptas. Ela soube do chip por meio de uma amiga modelo, há anos. “Tinha cólicas terríveis. Com o implante, parei de menstruar e senti mudanças no corpo. A celulite diminuiu, fiquei mais disposta para fazer exercícios e a retenção de líquidos, que tive a vida inteira, praticamente desapareceu”, diz.
Assim como Letícia, a modelo Daniella Sarahyba, 30 anos, colocou o implante aos 17 pelo mesmo motivo: cólicas incapacitantes. De brinde, ganhou uma silhueta mais definida.
“Eu chegava a aumentar 2 quilos de um dia para o outro no período menstrual e, como fazia muitos trabalhos de biquíni na época, isso atrapalhava demais. Nem sabia dos benefícios estéticos, mas com ele desinchei e perdi peso”, diz. Ela só retirou o implante para engravidar de Gabriela, de 6 anos, e de Rafaela, que completa 1 ano este mês.
O médico de Daniela é o ginecologista Malcolm Montgomery, de São Paulo, que trabalha há 28 anos com implantes e é uma das principais referências na área. Ele atende também muitas blogueiras fitness com milhares de seguidores no Instagram que, procuradas por Marie Claire, preferiram não falar.
“Ao longo dos anos, aprendi a entender a vaidade das mulheres. Sei que se colocar implante em uma paciente que tem enxaqueca durante a menstruação e isso a fizer ganhar 6 quilos, ela vai pedir para tirar, mesmo que ele tenha feito a dor de cabeça desaparecer”, diz.
“Não posso ignorar essa característica feminina, então faço combinações para garantir que elas não tenham efeitos colaterais”, explica. “Sigo o mesmo protocolo com as modelos”, diz ele, que recebe muitas new faces enviadas por grandes agências de São Paulo – o chip as ajuda a manter o peso e a evitar o inchaço.
O Nestrone, nome comercial da elcometrina, é um dos hormônios mais usados para acabar com os efeitos da TPM: cólica, inchaço, enxaqueca e variações de humor. O hormônio interrompe o ciclo menstrual e, assim, ajuda na prevenção da endometriose. Por outro lado, pode diminuir a libido.
“Quando isso acontece, associo um outro hormônio que tenha efeito androgênio, como a gestrinona ou a testosterona”, diz. E é aí que está o segredo da “fórmula mágica”: o androgênio é o hormônio que origina as características do sexo masculino, que faz com que eles ganhem músculos mais facilmente, não tenham celulite e estejam sempre prontos para o sexo.
Entidades médicas desaprovam o uso de hormônios em nome da beleza e questionam a ausência de estudos científicos nesse sentido. O mais condenado é justamente a testosterona. “Infelizmente, existe hoje uma banalização do uso pelas mulheres, visando diminuir a gordura corporal, aumentar a massa muscular e perder a celulite”, diz Alexandre Hohl, presidente da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
“A testosterona causa acne, aumento dos pelos corporais, alteração na voz [fica mais grave], crescimento do clitóris e problemas graves no coração”, diz Hohl. O Conselho Regional de Medicina de São Paulo desaprova a técnica como artifício estético.
Malcolm garante que só usa testosterona em mulheres que apresentam o hormônio abaixo do normal. “Peço todos os exames antes.” Em casos mais graves, o uso exagerado do hormônio pode causar infertilidade, câncer de mama e de fígado.
Criador dos implantes hormonais no mundo, o médico e farmacêutico baiano Elsimar Coutinho garante que o método é seguro, desde que aplicado por médicos treinados por ele. Pós-graduado em endocrinologia pela Universidade de Sorbonne, na França, ele afirma que quando iniciou as pesquisas com implantes, há 40 anos, tinha como único propósito oferecer uma alternativa mais econômica e segura às pílulas.
“A quantidade de hormônio em cada tubinho é dez vezes menor do que no comprimido, pois a substância é liberada diretamente na corrente sanguínea, o que poupa fígado e estômago”, explica.
Ele reconhece os efeitos “embelezadores” do produto, mas ressalta que esse não pode ser o principal objetivo. “Infelizmente, não tem nada na vida que não tenha efeito colateral. Mas as pacientes que retornam ao consultório com sintomas adversos, como ganho de peso, queda de cabelo e acne não passam de 20%”, diz.
Para algumas mulheres, no entanto, a experiência com o implante foi péssima. É o caso da advogada Ana Maria Coutinho, de 36 anos, que mora em Brasília e decidiu colocar o anticoncepcional depois de ver a mudança no corpo de uma amiga.
“Me animei e fui atrás”, conta, após procurar um médico de sua cidade. “Mas, ao contrário dela, meu apetite aumentou demais, fiquei inchada e cheia de espinhas. Tirei na hora e não quis mais saber de implante.”
*Leia a reportagem completa na edição de abril de Marie Claire, nas bancas.