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"Você não consegue estar no topo quando é uma pessoa fácil", diz brasileiro que comanda a Calvin Klein

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O mineiro Francisco Costa, 50, diretor criativo da Collection, marca de luxo do grupo Calvin Klein (Foto: Jahi Chikwendiu / The Washington Post / Getty Images)


Bastou uma frase para a Calvin Klein entrar definitivamente no Olimpo da moda, há três décadas. “Não há nada entre mim e meus Calvins”, dizia em uma propaganda uma jovem e supersexy Brooke Shields, pré-"Lagoa Azul", referindo-se à ausência de underwear sob seus jeans Calvin Klein.

O comercial gerou frisson, a catapultou para a fama e foi o pontapé inicial para a “era das supermodelos”. A marca capaz de transformar meninas em estrelas da noite para o dia, presente nos cinco continentes e que vende US$ 7,8 bilhões por ano (dados de 2013) tem hoje como símbolo máximo de criação um mineiro de Guarani, cidade de 8 mil habitantes no interior do Brasil.

Francisco Costa, 50 anos, é o diretor criativo da Collection, marca de luxo do grupo Calvin Klein, que inclui desde perfumes até lingeries. Substituto do próprio Klein, que fundou a empresa em 1968 e se aposentou em 2002, é ele quem cria os vestidos glamourosos desfilados na Semana de Moda de Nova York e que depois vestem atrizes como Anne Hathaway, Gwyneth Paltrow e Lupita Nyong’o.

A Collection não está à venda no Brasil e corresponde a uma parcela menor do faturamento do grupo. Mas isso pouco importa. É por meio dela que a grife reforça, em nível global, seu primor em sofisticação, modernidade e desejo.

Criado por uma mãe costureira autodidata, Costa se mudou para Nova York aos 20 anos, após a morte dela, para estudar moda. Deu de cara com uma cidade fria, caótica e violenta e com uma população apavorada com a aids – eram os anos 80 e a epidemia estava a todo o vapor. Só ficou porque, ali, se descobriu gay e livre para experimentar o amor. Discreto, o estilista abriu uma rara exceção para falar com Marie Claire sobre sua impressionante trajetória.

Em uma tarde gelada de fevereiro, logo após o desfile de inverno 2015-2016, nos recebeu para um bate-papo no Odeon, restaurante em Tribeca, em Nova York, que frequenta desde que chegou à cidade. Aliviado após a apresentação, pediu uma garrafa de vinho e um hambúrguer (sem pão, mas com batatas fritas) e, entre uma taça e outra, falou com franqueza sobre amor livre, loucura, moda e fama.

Anne Hathaway (à esq.) é uma grande amiga de Costa e frequenta sua casa. À dir, o vestido usado por Lupita Nyong'o na noite do Oscar e, no detalhe, Com Oscar de la Renta, de quem foi pupilo (Foto: David X Prutting (BFANYC / SIPA USA) / Steve Eichner (CORBIS))

MARIE CLAIRE - Amanhã você vai para Los Angeles para a cerimônia do Oscar. Como é sua relação com as celebridades?
FRANCISCO COSTA - Amo trabalhar com elas. Faz parte do marketing esperto de uma marca de moda. Há grandes mestres fazendo isso [de fato, na noite do Oscar Lupita Nyong’o roubou a cena com o vestido de pérolas que parecia uma joia, feito exclusivamente por Costa para ela].

MC - Você tem uma relação pessoal com essas atrizes?
FC -
Algumas. A Naomi Watts é fantástica. Também conheço a Anne Hathaway muito bem. Ela sempre vem em casa, passamos finais de semana juntos.

MC - São duas mulheres chiques, que representam bem o minimalismo sexy da Calvin Klein. Até onde se pode ir para ser sensual?
FC
- Falaram por aí que eu não gosto de barriga de fora. Claro que não, gente! A barriga é linda? Pode colocar de fora! Tem um peito maravilhoso? Então vamos deixar o peito à mostra. Sou totalmente a favor [risos]. Tem uma perna bonita? Pode mostrar! Ser sexy é usar a inteligência, saber se portar, seguir certa conduta.

"A barriga é linda? Pode colocar de fora! Tem um peito maravilhoso? Então vamos deixar o peito à mostra. Sou totalmente a favor [risos]"
 



MC - Como fazer para chegar ao meio-termo, então?
FC -
Não tem meio-termo. Se você tem a perna feia, não mostre as pernas. Há mulheres que não são belas, mas se conhecem tão bem que ficam incríveis. Elas se entendem. O universo do autoconhecimento é maravilhoso: como é sexy uma mulher que tem segurança ao andar, falar!

MC - E onde você acha que aprendeu tudo isso?
FC -
Minha mãe era workaholic como eu e um grande exemplo, minha maior referência. Somos de Guarani, interior de Minas Gerais. Ela aprendeu tudo sozinha. Tenho tanto prazer em contar isso [suspira]! No início da carreira, ela tinha uma loja que vendia tecidos. Aí resolveu fazer um vestido de noiva para a sobrinha de um dos rapazes que vendia o produto para ela. Isso sem nenhum curso de moda. E o resultado foi totalmente Balenciaga, com um adorno na cabeça, um cone meio louco. Absurdo! Aí esse cara que vendia o tecido para ela sugeriu: “Por que você não faz um mostruário e eu levo para vender nos fornecedores?”. Ela criou dez peças de roupa, e de lojista virou industrial.

MC - Como era seu dia a dia? Você ia muito à fabrica?
FC -
Direto, não saía de lá. Aliás, todos [os cinco filhos]. Isso era o engraçado na minha mãe: ela trabalhava muito, mas não tinha a menor aptidão para a casa. Nunca cozinhou, nunca fez nada do tipo.

MC - E sendo tão businesswoman, era uma boa mãe?
FC -
Comigo sempre foi afetuosa, com os outros [filhos] já não sei tanto [risos]. Ela era uma supermãe! Tinha uma personalidade contagiante. Sempre foi uma pessoa muito aberta e adorada pela cidade. Organizava festas de caridade. Ela nos criou com modéstia e humildade. Era simples, mas tinha uma sofisticação incontrolável.

MC - Seu pai trabalhava em quê?
FC -
Não tinha profissão. Só umas terras que herdou com gado, algumas plantações de eucaliptos. Mais do que tudo, ele acompanhava o trabalho dela. Era ela quem tinha o espírito empreendedor. O prefeito vivia lá em casa e ela decidia a vida dele, comandava a cidade inteira. Chegava da fábrica à noite e trazia 15 pessoas para jantar. Por causa disso, tive um crescimento muito livre, aprendi demais, vivia com tesoura, papel, pincéis.

MC - O que de mais importante você aprendeu com ela?
FC -
Ela me ensinou a olhar para o social, a ter cuidado com as pessoas, a entender a influência que você causa nos outros. Ela meio que adotou duas crianças carentes quando éramos pequenos, que moravam com a gente. E aprendeu esses valores sozinha. A mãe dela era completamente esnobe. Minha avó não queria que ela casasse com meu pai.

MC - Por quê?
FC -
Porque ele tinha pele escura. E era do interior.

No backstage do último desfile da Calvin Klein Collection em Nova York, em fevereiro, horas antes de receber Marie Claire (Foto: Neil Rasmus (BFANYC))



MC - O que você tem em comum com ele? Como é sua relação?
FC -
Ele faleceu há uns anos. Tínhamos bastante em comum. Ele era calado, introvertido, como eu. Aprendi a quebrar o gelo com ele depois que minha mãe faleceu. Eu tinha 18 anos. Meu pai era bem seco. E eu me sinto seco também. Não sou uma pessoa aberta. Já com minha mãe era diferente, a gente conversava muito mais.

MC - Como ela morreu?
FC - Ataque cardíaco quase fulminante. Ainda ficou dois meses em tormento no hospital.

MC -
Sua mudança para Nova York teve a ver com isso?
FC -
Completamente. Complexo de Édipo, sabe? Por outro lado, parece louco, mas algo que penso hoje é: se ela não tivesse falecido, talvez não estivesse aqui, conversando com você, não estaria à frente da Calvin Klein Collection. Ela tinha esse tipo de influência sobre mim. De certa forma, a morte dela me “liberou”, foi bom e ruim.

MC - Como foi sua chegada aos Estados Unidos?
FC -
Um momento decisivo, minha mãe tinha falecido. Falei para o meu pai que ia para os EUA, mas ele disse que não, porque nem inglês eu falava.

MC - Você largou a faculdade?
FC -
Tinha acabado de terminar um curso de confecção no Brasil quando vim de férias para cá. Voltaria em 20 dias. Mas, quando cheguei, liguei pra casa e disse: “Pai, vou ficar”. Queria estudar. Me inscrevi na faculdade Hunter College e peguei um visto de estudante. Ao mesmo tempo, comecei a fazer o FIT [escola de moda] à noite.

"Perdi 13 grandes amigos para a aids. Foi bem difícil"
 



MC - Como pagava as contas?
FC -
Meu pai mandava US$ 500 por mês. Eu trabalhava pra cobrir o resto das contas. Era dog walker em Long Island. Também cuidava da casa de uma mulher, ia duas vezes por semana limpá-la, passear com o cachorro, essas coisas.

MC - Qual foi sua primeira impressão de Nova York?
FC -
Péssima. O aluguel é caro, os apartamentos são pequenos, a gente vai mudando, mudando, mudando. No começo, vivi em Columbus Circle, depois fui pra um pequeno apê com dois amigos, o Marcelo e o Claudio. Aí morei na casa de outro, o Tadeu. E ainda mudei para um hotelzinho que pagava por semana. Não gostei da cidade, era suja, perigosa. Não podia atravessar o Central Park a pé.

MC - Você chegou nos anos 80, no meio da epidemia de aids. Como foi?
FC -
Muito difícil. Quando alguém pegava uma gripe, já achava que estava com a doença. Era uma paranoia. Se uma pessoa tossia no metrô, todo mundo enlouquecia, ia embora correndo. Ninguém podia tocar em ninguém, uma loucura.

MC - Você perdeu algum amigo para a doença?
FC -
[sério] Perdi 13 grandes amigos. Havia dois de Juiz de Fora, o Fernando e o Cleber, éramos inseparáveis... Ambos faleceram. Tinham 27 anos. Foi pesado. Por isso que me envolvi em uma ONG fantástica que, a trancos e barrancos, fez o mundo saber do que estava acontecendo com a aids. Fazíamos demonstrações na rua [para dar visibilidade à doença], parávamos o trânsito. Tentei ajudar o máximo que pude, pois vivi tudo aquilo. Você se sente no dever, as pessoas não tinham informação.

MC - De que turma você era, do dia ou da noite?
FC -
As duas coisas. Saía bastante à noite, ia em clubes, era o máximo.

Costa e o companheiro, John DeStefano (à esq.). No detalhe, com Tom Ford, ex-chefe na Gucci (Foto: Stephen Lovekin (Wireimage for Spec Entertainment) / Billy Farrel / PatrickMcMullan.com / Sipa Press / Cocktail Setsunsetsipa)



MC - Já tinha se descoberto gay?
FC -
A única coisa que me segurou em Nova York foi essa liberação sexual. Antes de ir para a cidade, não sabia se era gay. Não tinha noção do que era realmente ser gay, hétero... Só sentia que não tinha uma situação sexual definida. E em Nova York ninguém ligava para essas definições. Eu era muito livre.

MC - Você já tinha namorado?
FC -
Já, várias meninas. No final da escola teve um menino, nos apaixonamos. Tivemos um lance, mas foi esquisito porque tinha muito sentimento de culpa, morria de medo.

MC - Logo no início da carreira você já foi trabalhar com uma lenda da moda, o Oscar de la Renta. Como conseguiu isso?
FC
- Meu primeiro emprego tinha sido em uma empresa que só produzia vestidos. De lá fui para o grupo Hero, que cuidava de grandes marcas, como Moschino, Bill Blass, Oscar de la Renta.

MC - Você era superjovem, tinha 22 anos. Não ficou com medo?
FC -
Claro que fiquei. Deu medo de assumir um trabalho com o Oscar de la Renta, dei uma pirada. Não tinha experiência! Mas no final foi incrível.

MC - Vocês ficaram amigos?
FC -
Super. Ele era bem carismático, éramos como uma família no ateliê. Jantávamos juntos, viajávamos para procurar tecidos. Aprendi tudo com o Oscar.

MC - Tudo o quê?
FC -
Como fazer um vestido de verdade, a usar cor. Não sabia nada de cor, detestava. Para mim, era a coisa mais cafona do mundo. Em Minas, onde cresci, era tudo “calmo”, não tinha cor, não tinha estampa.

"Oscar de la Renta me ensinou a usar cor. Detestava cor. Para mim, era a coisa mais cafona"
 



MC - Depois do De la Renta, você foi trabalhar com Tom Ford na Gucci. Foi ele que te convidou?
FC -
Foi confuso na época [risos]. Recusei o emprego umas três vezes, porque não sabia que era o Ford me chamando! Quando entendi, aceitei. Fiquei até a Balmain me convidar [para ser diretor criativo].

MC - E, desta vez, para substituir justamente o De la Renta. Como você pôde dizer não para uma proposta dessas?
FC -
Eu aceitei! Só que contratei uma superadvogada para acertar os detalhes do contrato, e ela fez uma grande pesquisa sobre a marca. Disse que eles não tinham dinheiro, estavam quebrados, e me aconselhou a não aceitar o trabalho. Só que, a essa altura, eu já tinha pedido demissão da Gucci.

MC - Como foi deixar o Oscar?
FC -
Triste. Depois de seis anos juntos, tínhamos nos tornado amigos.

MC - Ele entendeu ou foi difícil?
FC -
Depois que ele morreu [em outubro de 2014], fiquei sabendo que ele detestava o Ford [risos]. Acho que porque o deixei para ir para a Gucci, com o Ford.

MC - E sua relação com Tom Ford, como era?
FC -
Ótima. Ele tem um supertalento, nós tínhamos uma conexão. Confiávamos 100% um no outro. Aprendi muito, Ford é preto no branco. Decidido e preciso. E tinha uma visão global de tudo, levou a linha de acessórios ao limite. Em minha primeira coleção para a Gucci, vendemos 39 mil bolsas!

MC - Como foi sua chegada à Calvin Klein?
FC -
Depois que voltei atrás na Balmain, pensei: “O que vou fazer agora?”. Estava sem emprego. Então, em Nova York, tive uma reunião com a Calvin Klein. Eles estavam em busca de um designer.

MC - Para substituir o próprio Klein. Você já sabia disso?
FC -
Não fazia ideia.

MC - Quando você entendeu que ele estava te treinando?
FC -
Nunca. Uns seis meses depois que cheguei, percebi um movimento estranho na empresa... Fui ao RH e perguntei o que aconteceria se a companhia fosse vendida. Só que já tinha sido e eu não sabia!

MC - Mas não teve um dia em que ele te chamou para dizer que você assumiria o lugar dele?
FC -
Ele nunca me disse isso. Só mandou uma carta falando que estava deixando a empresa e que não seria uma tragédia não estar mais lá. Acho que não quis lidar com aquilo [pessoalmente], depois de tanto tempo. Ficamos todos em choque. Para completar, fui eu que assumi o cargo maior. Todo mundo do estúdio quis sair, porque quem trabalhava com o Calvin não queria se reportar a mim.

"Você não consegue ser competitivo e estar no topo quando é uma pessoa fácil. Faço bem meu trabalho. Sou muito comprometido, e isso significa ser bem difícil"
 



MC - Você ficou em pânico?
FC -
Não. Fiquei ansioso algumas vezes, mas nunca entrei em pânico.

MC - Que tipo de chefe é você?
FC -
Um pouco controlador.

MC - Consegue delegar?
FC -
Sei que tenho que delegar, mas não consigo, é muito difícil. As coisas costumam sair do meu jeito.

MC - Se fosse um de seus funcionários, como se descreveria como chefe? Uma pessoa fácil?
FC -
Espero que não. Você não consegue ser competitivo e estar no topo quando é uma pessoa fácil. Faço bem meu trabalho. Sou muito comprometido, e isso significa ser bem difícil. Quero que as coisas sejam feitas de certa maneira, tenho padrões altos e eles têm que ser seguidos. Sou muito exigente.

MC - Você foi o único estilista na história a ganhar dois “Oscar da moda”, o prêmio CFDA (The Council of Fashion Designers of America), em 2006 e 2008. Foi quando percebeu que tinha ficado famoso?
FC -
Falando sério, até hoje não percebo isso. É como se não estivesse no meu próprio corpo, entende?

MC - Em algum momento você deve ter entendido que conquistou algo grande. Quando foi?
FC -
Ainda não percebo. Talvez sinta quando abrir meu próprio negócio.

MC - Você então vai abrir seu próprio negócio?
FC -
[hesita] Não. O que quis dizer é que [ter minha própria marca] é um próximo nível. Quando tiver que dar outro passo... talvez seja isso. Sinto que ainda tenho tanto para fazer. Sei que posso muito mais.

MC - O trabalho é claramente sua prioridade. Como você aproveita a vida fora ele?
FC -
Adoro arte [Costa é colecionador e, sob seu comando, a CK Collection se tornou grande doadora de museus, como o New Museum de Nova York]. Gosto de jardinagem, de estar com amigos, de comer bem, de cozinhar na minha casa [de campo, no interior do estado de Nova York]. Me dá muito prazer receber pessoas com o Johnny [seu parceiro], amo literatura. Eu lia uns quatro livros por semana, mas nos últimos tempos diminuí.

MC - Como você e seu parceiro se conheceram?
FC -
Johnny [John DeStefano] é um treinador de cavalos, americano, de Nova Jérsei. Ele parece muito hétero, não dá para dizer que é gay. Nos conhecemos há 20 e poucos anos, ainda trabalhava com o Oscar. Como não tinha dinheiro, aos sábados eu trabalhava em uma loja luxuosa de móveis ingleses. Ele foi lá uma vez, começou a me seguir e fazer várias perguntas que não tinham nada a ver com o que eu vendia. Duas semanas depois eu fui a um bar [gay] e ele estava lá! E John nunca vai a bares. Foi muita coincidência, tinha que ser. Então nós saímos e tudo aconteceu.

MC - Como é ser casado durante  25 anos?
FC -
O casamento é uma ideia relativamente nova. Para mim, é apenas uma instituição criada...

MC - Acredita em fidelidade?
FC -
Em lealdade. Não acho que os homens possam ser sexualmente fiéis – para falar a verdade, nem as mulheres. É algo muito difícil hoje. Nós somos animais e temos nossas vontades.

MC - Você e o John têm regras para esses momentos?
FC -
Não há regras fixas, mas muita compreensão e maturidade.

"Sou muito egoísta! Para ser pai, é preciso aptidão. Estou com meu namorado há 25 anos, não pensamos nisso"
 



MC - Você chamaria isso de casamento aberto?
FC -
Não. Primeiro, não diria casamento. Somos parceiros de vida. Mas também não é um relacionamento aberto. Relacionamentos são baseados em três coisas: comprometimento, amizade e paixão. Então tem que balancear essas três coisas, sabe? Vou por esse caminho.

MC - Tem vontade de ter filhos?
FC
- Não.

MC - Por quê?
FC -
Sou muito egoísta! Para ser pai, é preciso aptidão. Estou com meu namorado há 25 anos, não pensamos nisso. O trabalho é tão importante pra mim que toma conta de tudo. Até gostaria que algo tivesse acontecido na minha vida para repensar isso... mas nada mudou [risos]! Sou supercomprometido com o trabalho, é difícil dividir.

MC - Você acaba de fazer 50 anos. Entrou em crise?
FC - Nenhuma. Só me sinto mais seguro, tranquilo. Até queria ter ficado mais sábio ou organizado [risos]. Pensei que aos 50 fosse “cair na real”, que algo grande iria ocorrer. Mas não teve nada, me sinto como uma criança.

MC - Faz exercícios?
FC - Estou sempre ativo, me movimentando. Faço ginástica três vezes por semana, vou à academia. Não corro e não consigo fazer ioga. Acho muito chato. Tento “me abrir” e não consigo, minha elasticidade é zero!

MC - Tem medo de envelhecer?
FC - [enfático] Não, nem um pouco. O que tenho muito medo é de perder a consciência, de enlouquecer. Perder o senso do que é certo e do que é errado. Fico pensando em quem cuidaria de mim. Deve ser muito louco isso, pirar. Já envelhecer tem sua beleza. Fora que não temos outra opção. Isso é algo que aprendi com a vida: aceitar é a melhor coisa. Essa ideia traz liberdade. Quando você aceita, se liberta. Há coisas que você pode mudar e outras não.


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