Após 12 dias de viagem, as meninas começaram a perceber os sinais do desgaste causado pela estrada. Não há cabelo e pele que resistam à constante exposição ao vento, sol e chuva da estrada. Saindo de Brasília, elas rodaram 150 km até Pirenópolis, uma charmosa cidadezinha situada na Serra dos Pirineus. Cercada por cachoeiras, "Piri", como é chamada por alguns de seus habitantes, foi fundada no século 18, na trilha da mineração que se desenvolveu no centro do país naquela época. Ela é hoje um destino de férias para os brasileiros, que convivem com as comunidades hippies instaladas lá há várias décadas. Durante a semana, quando os turistas ainda não estão, a vida é pacata e preserva hábitos típicos de um interior que quase não se vê mais - como, por exemplo, o carro com alto-falantes que passa anunciando a morte de um morador querido.
Um segredo de beleza do Centro-Oeste
Era dessa paz que Cindy, Louise B, Louise D, Pauline e Cecile precisavam para combater o cansaço e tratar um pouquinho da aparência. Elas queriam tomar banho de cachoeira para relaxar, mas a chuva não deixou. Ainda assim, tiveram a sorte de encontrar o modesto (e poderoso!) salão da esteticista Ana Paula Diniz, 42. Ali, descobriram um valioso segredo de beleza do Centro-Oeste, o buri, semente típica da região que lembra muito o gosto do amendoim. "O buri é o ouro do cerrado. Quando usado na pele funciona como antioxidante, por ser rico em ômega 3, 6 e 9, e se associado a vitamina C, passa a ser um ótimo ativador. Como alimento, é indicado no combate ao colesterol ruim", diz a esteticista.
Para tratar a pele de Cindy, Louise D, Louise B e Cecile, Ana Paula usou farinha de baru misturada ao óleo da própria semente para esfoliar. Depois, aplicou polpa de pequi, seguida de uma loção suavizante de hortelã. Já para a pele de Pauline, que é mais oleosa, a esteticista trocou o pequi por argila verde. "O pequi é muito oleoso, não é indicado para ela". Ela também contou que usar os frutos da região como máscara facial é um hábito cultuado há gerações. "Como antigamente não tínhamos cosméticos industrializados, acabamos recorrendo ao que estava por perto". O tratamento terminou com a aplicação de um aparelho que emite pequenas correntes elétricas e ajuda na cicatrização da pele. Toda brasileira que já passou por uma limpeza de pele, conhece o procedimento, mas Pauline achou muito estranho. "Já fiz limpeza de pele antes na França, mas nunca vi isso!".
A melhor massagem holística de todos os tempos
Após hidratarem os cabelos, as garotas seguiram para o Espaço Buddhi, da massoterapeuta Cristiane de Góes, 41. Ali receberam diferentes tipos de massagens e alguns conselhos preciosos. "Para andar tanto tempo assim de moto é preciso fazer alongamentos antes e depois de cada viagem. Uma postura correta, alimentação equilibrada e no mínimo oito horas de sono por dia também são cuidados essenciais", diz a terapeuta holística Elizabeth Senese. Ela aplicou a massagem em Cecile, que estava reclamando de dor na perna. "Ela está com inflamação no nervo ciático, precisa descansar um pouco". As meninas decidiram, então, passar mais uma noite em Pirenópolis, para que Cecile pudesse retomar a viagem em perfeitas condições. Já Louise D saiu praticamente levitando da sessão com Cristiane. "Fez bem não só para o meu corpo, como para a minha alma. Foi como ter ido ao melhor médico da minha vida".
Veículos de 2 rodas tiveram papel fundamental na emancipação de mulher
Antes de encerrar o dia, elas tinham mais um programa obrigatório para mulheres como elas: visitar o museu Rodas do Tempo (www.rodasdotempo.com.br). Chegando ao museu, puderam adicionar mais uma mulher à irmandade. Uma senhora ficou deslumbrada ao ver as cinco meninas de moto e, muito espontaneamente, foi até elas para expressar toda a sua admiração.
O museu contém um acervo histórico de modelos de veículos de duas rodas fabricados desde suas origens até hoje. Tudo começou com a invenção da bicicleta, que mais tarde evoluiu para as motocicletas graças à incorporação do motor. Sabe-se, aliás, que a bicicleta desempenhou um papel fundamental na emancipação da mulher no século 20. "Quando a bicicleta foi inventada no fim do século 19, possibilitou às mulheres vivenciarem uma autonomia social nunca tida antes, já que elas agora podiam sair de casa sem depender de ninguém. Isso lhes permitiu, por exemplo, socializar com outros homens longe da família", escreveu Sue Macy, autora do livro Wheels of Change - How Women Rode the Bicycle to Freedom (With a Few Flat Tires Along the Way). "Também as obrigou a adotar trajes mais confortáveis, foi responsável pelo primeiro envolvimento maciço das mulheres em atividades físicas, fortalecendo as pernas e os pulmões, e despertou o senso de aventura e ousadia que seria fundamental para as conquistas ao longo do século 20". Esta aí L'Équipée para provar em que essa história resultou.
Fiquem ligados na segunda-feira quando...
As garotas de L'Équipée vão se preparar para entrar numa das regiões mais selvagens do país.